sexta-feira, 12 de maio de 2017

Governo venezuelano e oposição se radicalizam diante de protestos

AFP / JUAN BARRETOProtesto em Caracas, no dia 11 de maio de 2017
Vestidos de preto, com uma enorme bandeira venezuelana e flores, opositores marcharam novamente nesta quinta-feira em Caracas contra o presidente Nicolás Maduro, em um clima de radicalização dos protestos que deixam 38 mortos em seis semanas.
"Chega de violência, nenhum morto a mais", dizia um cartaz carregado por uma jovem na manifestação realizada depois da morte, na quarta-feira, de Miguel Castillo, de 27 anos, que recebeu um disparo em uma marcha de milhares de opositores que terminou em fortes confrontos com as forças de segurança.
O governo e a oposição se responsabilizaram por esta e pelas demais mortes, em um conflito que tende a ser cada vez mais violento e que complica ainda mais a situação deste país afundado em uma crise econômica.
"Estão nos matando, mas não vamos nos cansar, vamos continuar nas ruas até que o governo caia, embora a repressão seja pior", afirmou Carlos Briceño, estudante da universidade onde se graduou o jovem falecido.
O governo, por sua vez, prosseguiu nesta quinta-feira suas reuniões com diversos setores que impulsionam uma Assembleia Nacional Constituinte, convocada na semana passada por Maduro para "alcançar a paz" e "derrotar os violentos".
Desde 1º de abril há manifestações que exigem a saída do presidente, e a coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) assegura que não pararão até conseguir eleições gerais.
"A Venezuela necessita de estabilidade, um novo governo, porque este não tem nada a oferecer ao povo venezuelano, exceto isso que estamos vendo: morte", assegurou o líder opositor Henrique Capriles na marcha que culminou no local onde Castillo morreu, em Las Mercedes, no leste de Caracas.
- "Criptonita e ouro em pó" -
Para sexta-feira a MUD prepara outra marcha, desta vez liderada pelos "avós", com a meta de chegar à Defensoria Pública, a qual acusa de servir ao governo.
Mas até agora, depois de seis semanas de protestos, as forças de segurança não deixaram que os opositores chegassem ao centro, onde está o palácio presidencial de Miraflores e os poderes públicos, levando a batalhas campais com os manifestantes no leste e oeste da cidade.
"A morte deste jovem dói como se fosse filho de um parente. Estes protestos são necessários porque o país está muito mal, mas não sabemos onde vai chegar. Estamos como em uma guerra", disse à AFP Caroline Orie, estilista de 37 anos que foi para a porta do cabeleireiro para ver a manifestação.
O analista Luis Vicente León considera difícil que as manifestações acabem completamente, pois têm como caldo de cultivo a crise econômica, com a severa escassez de alimentos e remédios e uma inflação considerada a mais alta do mundo.
Como reflexo da crise, segundo cifras oficiais divulgadas esta semana, a mortalidade infantil aumentou 30,12% no ano passado em relação a 2015, enquanto a das mães disparou para 65%.
Para León, o grande desafio da oposição é garantir que as manifestações sejam "pacíficas": "o protesto pacífico é criptonita para o governo. A manifestação violenta é ouro em pó para ele", opinou.
Cada vez é mais forte o choque entre os policiais que lançam bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água, e os manifestantes encapuzados que se protegem com escudos de madeira e metal, e respondem com pedras, coquetéis molotov, bombas de pintura e até excrementos.
Na Praça Altamira, reduto opositor, um grupo de jovens recolhia dinheiro nesta quinta-feira em recipientes plásticos, de motoristas a pedestres que nem sequer perguntavam pelo destino de sua doação.
- Cenário internacional -
O governo venezuelano acusou nesta quinta-feira os Estados Unidos de financiar e dar "apoio logístico" aos "grupos violentos" da oposição, que "facilitaram uma insurgência armada".
A chancelaria venezuelana sustentou que a "violência extrema e o vandalismo" das últimas semanas também se deve a decisões "intervencionistas" da Organização dos Estados Americanos (OEA).
AFP / Anella RETA, Gustavo IZUSPontos-chave da crise venezuelana
Ao tomar conhecimento do falecimento de Castillo, o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, condenou "a brutal repressão" e assegurou que o julgamento de civis em tribunais militares é próprio de uma "ditadura".
Pelo menos 70 civis estão sendo julgados por esses tribunais, o que a oposição atribuiu a uma tentativa de desestimular as manifestações.
"O governo impopular e autocrático da Venezuela optará por métodos mais repressivos para conter os opositores e o descontentamento nas ruas", declarou o diretor da Inteligência Nacional americana, Dan Coats.

Nenhum comentário:

Postar um comentário