quarta-feira, 12 de julho de 2017

Jean Wyllys | A única chance para recuperar o Rio é afastar o PMDB

Jean Wyllys | A única chance para recuperar o Rio é afastar o PMDB
Crédito da foto: Montagem
Está difícil explicar para quem não vive no Rio de Janeiro o grau de profundidade da atual crise vivida pelo estado. Para que se tenha noção, mais de 200 mil servidores ainda não receberam integralmente os salários do mês de abril nem o décimo terceiro do ano passado. Ainda, sobram exemplos de instituições fechadas, como clínicas, bibliotecas e até turmas escolares. E faltou comida nos presídios e até papel nas delegacias.
O que se vê nas ruas locais é uma apatia geral. Passada a euforia com a Copa e a Olimpíada, momentos que a cidade do Rio parecia capital da alegria, restou um caos urbano e a disparada do desemprego e da violência.
Enquanto isso, um a um, os principais caciques políticos regionais e seus aliados no empresariado, sempre solícitos em financiar campanhas duvidosas, são levados para depor, e quando não, são presos.
Esse cenário pode começar a ser explicado, por exemplo, através de uma olhada rápida nos últimos governadores eleitos no Rio (Moreira Franco, Garotinho, Rosinha, Cabral e Pezão). Todos os cinco estão gravemente comprometidos em investigações de corrupção nas instâncias superiores do Judiciário, onde respondem a seus processos por ter foro privilegiado.
Mais ainda, os deputados estaduais que ao longo de todos esses últimos anos deram sustentação cega e irrestrita a esses governos na Assembleia Legislativa também se encontram enrolados em apurações dos mesmos esquemas de corrupção onde se encontram os ex-governadores e o atual. É, senão, simbólico que dos conselheiros do Tribunal de Contas, indicados por essa Assembleia Legislativa para fiscalizar as contas públicas, só um não tenha sido preso este ano.
E para completar o cenário há também um Ministério Público que não foi capaz de detectar nenhum dos desvios monumentais que ocorreram e um Tribunal de Justiça onde se revezam os mesmos grupos (e sobrenomes), realizando gastos como se fossem servidores especiais.
Somente, então, se reunirmos tudo – Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério Público, um empresariado delinquente e uma imprensa omissa – é que temos a explicação completa para a falência de uma unidade inteira da federação. Juntos, eles venderam até a companhia de água para saldar dívidas que só foram feitas porque, em outra ponta, eram concedidas isenções fiscais (de impostos e taxas) para patrocinadores de campanhas e, também, contas pessoais em paraísos fiscais.
Ocorre, e é bom deixar isso claro, que nada disso aconteceu sem divergência. Pois, nós, do PSOL no Rio, estivemos durante muito tempo isolados na oposição tanto às gestões do município quanto do governo estadual, exatamente no momento que os mega eventos passaram à boa parte da população a impressão que o dinheiro jorrava.
As falcatruas atualmente investigadas foram objeto de propostas de abertura de investigação das nossas bancadas. O Porto Maravilha, as obras da Olimpíada, do Maracanã etc. E só não foram para frente devido à grande articulação dos poderosos que se beneficiavam delas.
Da mesma forma, nos opusemos à política de privatizações desenfreadas, em leilões viciados e com resultados duvidosos, que nem de longe deu o resultado que era propagandeado como chave para o sucesso. Em vez disso, estamos vendo é o patrimônio público que foi liquidado piorar de qualidade e o custo de vida ficar mais alto.
E podemos ter certeza de que não será fácil sair dessa situação que nos impuseram. As gestões do PMDB deixaram um problema que acarretará dificuldades para toda uma geração de fluminenses, que foi hipotecada em troca de luxos pessoais.
O primeiro passo, o mais urgente, é afastar essa gente do poder e, no lugar, introduzir uma maneira radicalmente diferente de fazer política.
Não há recuperação possível dentro da tradicional dança das cadeiras que o Rio viveu nas últimas décadas. O início de uma recuperação depende da combinação da saída imediata do PMDB de todos os cargos públicos e de uma participação mais efetiva das pessoas, o que vai muito além de uma mera troca de partidos. Contra a casta instalada na burocracia do Rio, só uma organização popular pavimentará um caminho alternativo. Precisamos debater já os dias seguintes. A população deve se unir, nas suas diferenças, para obter de volta o mínimo de qualidade de vida.

Sobre o autor

Foto de perfil de Jean Wyllys
Jean Wyllys é deputado federal pelo PSOL-RJ.

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