AFP / Ben STANSALLO jogador da seleção brasileira Neymar durante treino em Enfield, na Inglaterra, em 30 de maio de 2018
Há 20 anos, Betinho assitia um jogo de futebol na praia de Santos, quando de repente perdeu o interesse pela partida. O veterano técnico de base não conseguia tirar os olhos de um menino de seis anos brincando na arquibancada, correndo como nunca antes havia visto.
O espetáculo já não estava dentro do gramado, mas sim na recém descoberta de Neymar. Aquele garoto, que se tornaria o jogador mais caro do mundo, filho de um ponta direita recém aposentado, disparou os cálculos de Betinho.
"Eu calculei assim: o pai joga bola, a mãe é alta, se esse menino puxar o lado da mãe magra com o jogo do pai, vai se dar bem", conta à AFP o treinador de 60 anos.
Não foi a primeira vez que Betinho encontrava uma estrela. Na verdade, tinha acabado de levar ao Santos outro fenômeno, Robinho, descoberto oito anos antes.
Com sua primeira joia como garantia, Betinho foi pedir aos pais de "Juninho" para levá-lo ao time de futebol que estava formando.
"Durante a trajetória da minha vida eu fui atrás de um jogador que lembrava a sombra de um Pelé. O raio caiu duas vezes no mesmo lugar", se orgulha o olheiro.
Betinho e Neymar iniciaram uma aventura que passou por vários clubes, antes de desembarcar em Santos em 2003.
- 'Driblar metade do time' -
Na Baixada Santista, não demorou para o potencial do menino virar assunto. O rumores chegavam aos ouvidos dos jovens rivais, curiosos com o surgimento do novo fenômeno.
"A gente em Santos já conhecia quem era o Neymar. Já cuidavam dele como se fosse uma promessa, como se fosse um futuro grande jogador", conta seu amigo Pedro Lopes.
"A maioria das nossas jogadas, a gente tocava a bola no pé dele, esperava ele driblar a metade do time, para ver se ele chutava no gol ou tocava para alguém fazer o gol", lembra Pedro.
Naqueles anos em que sonhava em brilhar nos grandes clubes do Brasil, nasceu uma amizade que se fortaleceu no colégio. Neymar era bom estudante, mas seu destino já estava decidido.
"Ele tem um talento inato, nasceu com esse dom. Mas você vai aprimorando, jogar em grupo, coletivo, porque sempre foi fominha da bola de pegar, querer driblar e passar por todo o mundo", opina o técnico do Gremetal, Alcides Magri, que ainda trabalha no clube da infância de Neymar.
Sob seu comando, Neymar venceu o primeiro título de uma carreira que agora conta com os troféus do peso da Liga dos Campeões, da Libertadores e um ouro Olímpico.
- Brincalhão -
Apesar do dinheiro, das polêmicas e da fama mundial, Neymar continua levando uma atitude brincalhona que nem todos compreendem.
"Ele é uma pessoa que contagia alegria. É uma pessoa extrovertida, está sempre de bem com a vida, está sempre sorrindo", defende o amigo Pedro.
A imagem do boné para trás, cabelo pintado, tatuagens e milhares de seguidores no Instagram não deixam dúvidas: Pedro é um "toi", nome de guerra dos amigos de Neymar.
Sempre perto do craque, todos estiveram ao lado do jogador enquanto se recuperava de lesão no pé.
"Acho que ele não ficou feliz de ter se machucado, procurou a família para poder ficar mais alegre, com autoestima elevada para poder recuperar o mais rápido possível", relata sem querer entrar em detalhes.
Em uma das visitas à mansão do jogador em Mangaratiba, Neymar pediu que Pedro o levasse uma camisa do Gremetal para sua coleção. Os dois posaram com a blusa, apesar de outros quererem vê-lo mais de perto.
"Tá na hora dele retornar aqui, ver a molecada que está precisando aqui da presença dele. A presença dele é muito importante. Ele está em falta com o clube, a origem dele", reclama o técnico Alcides Magri.
Mas Neymar há muitos anos deixou para trás seu apelido de 'Juninho', como afirma seu descobridor.
"Eu fiquei seis anos cuidando dele. Muitos anos, né? Agora é do mundo", conclui Betinho.