sexta-feira, 27 de abril de 2012


Petrobras e OGX serão parceiras, não concorrentes, afirma Dilma

Presidenta Dilma visitou obras do Porto do Açu e participou da celebração do início da produção de petróleo da OGX, do bilionário Eike Batista
Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo


Presidenta Dilma visitou obras do Porto do Açu e
 participou da celebração do início da produção de 
petróleo da OGX, do bilionário Eike Batista 



 A presidente Dilma Rousseff afirmou na quinta-feira que a Petrobras e a OGX, companhia do setor petrolífero do empresário Eike Batista, não devem competir, mas sim trabalhar em conjunto. A declaração de Dilma foi dada após participar de visita às obras do Porto do Açu, em São João da Barra, na região Norte Fluminense, onde o empresário constrói o Complexo Industrial do Porto do Açu.

— Acredito que não pode haver concorrência entre duas grandes empresas, como é o caso da Petrobras e da OGX — afirmou Dilma. — Ambas podem ganhar muito com as parcerias entre elas.

Dilma é a 1 presidente a visitar São João da BarraA solenidade, que marcou o início de produção de petróleo no campo de Waimea da OGX, na Bacia de Campos, começou com cerca de duas horas e meia de atraso. Dilma visitou, ao lado de Eike Batista, as obras do Porto do Açu em companhia do ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, e do governador do Rio, Sérgio Cabral.

Depois de elogiar o espírito empreendedor de Eike, lembrando seu pai, Eliezer Batista, que também esteve presente ao evento, Dilma disse estar certa que a OGX tem uma grande colaboração a dar para se obter tecnologia de última geração para o Brasil.

Dilma foi a primeira presidente do Brasil a visitar o município de São João da Barra. O último chefe de Estado a visitar a localidade foi o Imperador Dom Pedro II.

Os ex-governadores do Rio Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho compareceram ao evento em Porto do Açu. Ficaram sentados na primeira fileira do salão durante quase duas horas e meia, à espera da presidente. O governador Sérgio Cabral não mencionou os nomes dos adversários políticos em seu discurso, mas tanto Dilma quanto Eike citaram o casal. Eike se referiu à Rosinha como “governadora Garotinho”.

OGX produz 13 mil barris diários em WaimeaNos macacões laranjas da OGX usados por executivos e políticos no evento, uma mão manchada de óleo chamou a atenção da presidente Dilma. A mão, de um funcionário, foi feita com o óleo extraído do Campo de Waimea.

A produção de petróleo em Waimea começou em janeiro. O campo está produzindo atualmente cerca de 13 mil barris diários de petróleo.

Na construção da infraestrutura do Porto do Açu, a LLX, empresa do grupo EBX, está investindo cerca de R$ 3,8 bilhões. A OSX, por sua vez, está construindo um estaleiro no local com investimentos de R$ 3 bilhões.


O que leva Dilma Rousseff à 

pequena São João da Barra

Presidente vai festejar obras de 3,8 bilhões de reais do Porto do Açu, de Eike Batista. Último chefe de estado a pisar na cidade foi Dom Pedro II

"As obras do porto têm promovido transformações significativas para São João da Barra. O PIB saiu de 665.837,00, em 2005, para 2.039.370,00 em 2009. O Imposto sobre Serviços (ISS) arrecadou 700 mil reais no ano de 2004. Em 2010, subiu para 12 milhões. A geração de emprego também aumentou na comparação de 2010 com 2011, saiu de 400 para 1286 postos de trabalho".

 

Cecília Ritto
As obras do Porto do Açu, em São João da Barra As obras do Porto do Açu, em São João da Barra (Divulgação)
 
Município de 33 mil habitantes pode ser o primeiro da região a criar independência dos royalties do petróleo e caminha para ser o queridinho dos políticos na próxima década

A pequena São João da Barra continua pequena. Tem apenas 33 mil habitantes. Mas tem todas as chances de se tornar uma cidade de médio porte até 2020. A guinada é radical. Em 1997, São João encolheu, com a emancipação de uma porção que, hoje, é a cidade de São Francisco de Itabapoana. A previsão é de que, na próxima década, a população seja sextuplicada. Essa mudança começou em 2007, quando o empresário Eike Batista deu início às obras do Porto de Açu. É o complexo criado por Batista que leva a presidente Dilma Rousseff à cidade na tarde desta quinta-feira. Até então, a presença de políticos de peso fora do período eleitoral era nula. O último chefe de estado a pisar no município foi Dom Pedro II, para visitar as obras da Usina Barcelos, já desativada.

Assim como muitos municípios do Norte fluminense, São João passou a existir no mapa econômico do Brasil em meados dos anos 2000, com a poderosa injeção de recursos dos royalties do petróleo. Mas até a chegada do megaempreendimento de Eike Batista, pouco mudou na rotina dos moradores, que em sua maioria vivem da agricultura, da pesca e do turismo. Seu produto mais conhecido era o Conhaque de Alcatrão de São João da Barra, e a cidade ostentava indicadores pífios de infraestrutura. Até meados de 2005, não havia sequer cinco quilômetros de rede de esgoto na cidade. Navegar pela internet era missão impossível. E conseguir uma linha telefônica demorava, pelo menos, três meses. O celular praticamente não pegava no município- tarefa ainda complicada em algumas localidades.

O Porto do Açu, maior obra de infraestrutura portuária da América Latina, receberá investimento de 3,8 bilhões de reais, sendo 1 bilhão pela LLX, a empresa de logística do Grupo EBX, e 2,8 bilhões pela LLX Açu, que é a responsável pela operação de cargas em geral. A expectativa é de que o porto movimente, anualmente, 350 milhões de toneladas de exportações e importações. Se a previsão vingar, o Porto do Açu estará entre os três maiores complexos portuários do mundo. E São João da Barra terá sido a primeira cidade daquela região a funcionar sem a dependência extrema dos royalties do petróleo.

No complexo industrial, serão instaladas siderúrgicas, fábricas de cimento, uma unidade de construção naval da OSX, um complexo termelétrico da MPX, indústrias offshore, indústrias de tecnologia da informação, um polo metalmecânico e uma unidade para tratamento de petróleo, entre outros projetos. O funcionamento do Porto do Açu está previsto para ter início em 2013. A LLX está em fase de negociação com as empresas que querem se instalar no local. Há cerca de 70 memorandos de entendimento em negociação com essas empresas que pretendem se estabelecer em São João ou apenas usar o porto para movimentar cargas.

Com o porto e com o complexo industrial em funcionamento, devem ser gerados 50 mil postos de trabalho. Para 5 mil moradores do quinto distrito, onde fica o Porto do Açu, somente agora chegará água potável. E até hoje a cidade não tem um hospital sequer – a construção do primeiro está em negociação entre a prefeitura e as empresas de Eike Batista.

As obras do porto têm promovido transformações significativas para São João da Barra. O PIB saiu de 665.837,00, em 2005, para 2.039.370,00 em 2009. O Imposto sobre Serviços (ISS) arrecadou 700 mil reais no ano de 2004. Em 2010, subiu para 12 milhões. A geração de emprego também aumentou na comparação de 2010 com 2011, saiu de 400 para 1286 postos de trabalho.

As mudanças passarão também pela arrecadação municipal, mas essa ainda não foi mensurada. Atualmente, os royalties do petróleo correspondem a 74% da arrecadação. “Hoje São João arrecada cerca de 300 milhões de reais por ano. A médio prazo não seremos mais tão dependentes dessa fonte de receita”, diz Carla. Para a subsecretária de planejamento, Doralice Maria Gonçalves, é a oportunidade de conseguir a independência financeira de São João da Barra. “Na região, quase todas as cidades, sobretudo as menores, sobrevivem dos royalties do petróleo. Como ele isso não vai durar para sempre, entendemos que a independência financeira passa por cultivar e gerar nova matriz econômica. A atividade industrial se tornará a matriz econômica da cidade”, afirma Doralice.

A prefeita da cidade, Carla Machado, sabe que a cidade está vivendo um momento ímpar. O crescimento acelerado exigiu que o plano diretor de São João da Barra fosse refeito – dessa vez, com assinatura do escritório de Jaime Lerner, o arquiteto que quando foi prefeito de Curitiba transformou a cidade em exemplo internacional de boas práticas urbanas. Um dos objetivos é evitar o crescimento desordenado que marca a maior parte das cidades brasileiras, e seus conhecidos efeitos colaterais: engarrafamentos, aumento da criminalidade, favelização. “Vamos tentar mitigar isso”, afirma Carla.

As primeiras providências estão sendo tomadas. A prefeita solicitou a criação de uma estrutura de patrulhamento independente de Campos dos Goytacazes. Carla também pediu a instalação de outra delegacia na cidade, para ficar na área do Açu. É esse o novo cenário que surge na pequena São João da Barra, que Dilma visitará. De patinho feio do Norte fluminense, o município está se transformando em queridinho dos políticos.


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