A Justiça Federal determinou o bloqueio dos bens do diretor-presidente
da Emop (Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro), Ícaro
Moreno Júnior, e de mais três acusados de desvio de verbas para reformas
de quatro escolas públicas atingidas pelas fortes chuvas de janeiro de
2011 em Nova Friburgo, na região serrana do Estado.
Segundo o MPF (Ministério Público Federal), eles são acusados de
improbidade administrativa. A empresa CCJ Construções e Empreendimentos,
contratada irregularmente, também teve seus bens bloqueados.
A Procuradoria afirma que o diretor-presidente da Emop, o diretor da
empresa CCJ e dois fiscais são responsáveis pela fraude na forma de
contratação da empresa e permitiram a realização de pagamentos por
serviços não executados.
De acordo com o MPF, a empresa CCJ teria recebido pelo trabalho de
profissionais que não participaram das obras, como vigias, almoxarifes,
engenheiros, arquitetos, técnicos de edificações, entre outros. O
advogado que representa a CCJ, Vanor Cosme da Silva, afirmou, no
entanto, que apesar destes cargos não existirem na empresa,
profissionais foram contratados exclusivamente para essas obras.
Segundo a ação, a empresa reconheceu a estipulação de serviços
inexistentes, mas em momento algum se recusou a receber os valores. Além
dos problemas contratuais, foram identificados outros serviços e obras
não executadas no valor de R$ 50 mil.
Repasse do FNDE
Após as fortes chuvas da madrugada do dia 12 de janeiro de 2011,
diversas unidades públicas de ensino sofreram danos e tiveram suas
atividades suspensas. Para recuperar as escolas atingidas, o FNDE (Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação liberou ao governo do Estado R$
74 milhões.
O FNDE transferiu R$ 23,6 milhões para a Emop, responsável pela
execução das obras de reparo nas escolas. O MPF identificou
irregularidades nas obras de quatro escolas do município: Escola
Municipal Décio Monteiro Soares, Ginásio Celso Peçanha, Colégio
Municipal Franz Haug e Escola Municipal Rui Barbosa.
Segundo o MPF, a Emop contratou a CCJ Construções e Empreendimentos por
R$ 766 mil sem qualquer instrumento contratual formal –documentação ou
registro-- e sem avaliação acerca da sua capacidade técnica para
executar as obras e reformas nas quatro escolas. De acordo com Silva, a
contratação foi feita em caráter emergencial, de forma a dispensar
licitação, e outras 46 empresas foram contratadas da mesma forma.
O MPF afirma que contratação foi formalizada oito meses após o início
da execução das obras, que começaram no dia 24 de janeiro de 2011,
depois da autorização do diretor-presidente da Emop, e terminaram em
março de 2011. "Esse termo somente foi proposto oito meses depois de
prestado o serviço porque até então a Secretaria de Educação do Estado
não havia recebido a verba do Governo Federal. Essa verba só chegou
efetivamente oito meses depois", disse o advogado da CCJ.
A Emop chegou a instaurar quatro processos administrativos, um em maio e
os outros três em setembro, mas para o MPF o objetivo era apenas
garantir a aparência de regularidade e o reconhecimento da dívida pelos
serviços supostamente prestados pela CCJ.
Ressarcimento integral
Na ação, o MPF pede a condenação dos acusados a todas as penas
previstas na lei de improbidade administrativa, como suspensão de
direitos políticos de cinco a oito anos, proibição de contratar com
poder público e receber benefícios ou incentivos fiscais, além de
ressarcimento integral de todos os valores recebidos ilegalmente mais
juros e correção monetária.
O advogado Vanor Cosme Silva disse que enviou documentos que provam a
regularidade do contrato e a prestação de todos os serviços pagos e que
aguarda o posicionamento da Justiça sobre as informações prestadas.
Na versão da Emop, "os procedimentos adotados são medidas judiciais
preliminares que dependem, para conclusão, de defesa prévia a ser
apresentada". A empresa afirmou estar elaborando os esclarecimentos que
serão dados à Justiça.
O presidente do órgão afirmou, em nota, que "ficará claro que houve
aplicação correta dos recursos, para enfrentar as consequências da
calamidade de 2011". "Os serviços foram efetivamente executados e, por
isso, foram remunerados com pagamento seguindo a determinação da Lei
de Licitações", completou Moreno.
"No caso das escolas, tínhamos de recuperá-las para possibilitar o ano
letivo e, infelizmente, os recursos do FNDE (Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação) só chegaram à Emop após o período
caracterizado como de emergência, quando empresas já haviam sido
convocadas para os trabalhos", disse o presidente da Emop.
Moreno afirmou ainda "não compactuar com irregularidades", e disse que,
tão logo tomou conhecimento do procedimento judicial, determinou
"imediata abertura de sindicância interna e contratação de perícia
técnica em engenharia para garantir a isenção na verificação das
supostas irregularidades".
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