quarta-feira, 24 de julho de 2013

O PAPA FRANCISCO EM APARECIDA


O cardeal arcebispo de Aparecida, dom Raymundo Damasceno (esq.), entrega a imagem de Nossa Senhora de Aparecida para o Papa Francisco, que a beija durante a celebração da missa na Basílica de Aparecida (Foto: Adriano Lima/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo) 
O cardeal arcebispo de Aparecida, dom Raymundo Damasceno (esq.), entrega a imagem de Nossa Senhora de Aparecida para o Papa Francisco, que a beija durante a celebração da missa na Basílica de Aparecida (Foto: Adriano Lima/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo)

Durante a visita ao Santuário da Padroeira do Brasil, onde esteve pela última vez em 2007, Papa Francisco confiou a Jornada Mundial da Juventude a Nossa Senhora Aparecida. O pontífice afirmou que a sua visita ao local representava uma visita, simbólica, a todo o Brasil. O trajeto até a cidade foi feito de avião, devido ao mau tempo. Ao chegar, foi recebido por Frei Domingos Sávio da Silva, reitor do Santuário e por uma multidão de peregrinos, a quem o Papa aconselhou. “Deixem-se surpreender pelo amor de Deus”

O Arcebispo de Aparecida, Dom Raymundo Damasceno Assis, que também é presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) presenteou o Papa com uma réplica da estátua da Virgem. Segundo o Arcebispo, a cor negra da estátua é resultado da ação da lama do rio e das velas, mas foi interpretado como uma “referência ao sofrimento das pessoas pobres e marginalizadas, ao longo da história do Brasil”, explicou. Cerca de 12 mil pessoas participaram da missa dentro da Basílica enquanto milhares acompanharam do lado de fora, apesar da chuva e do mau tempo.

Durante sua primeira missa pública, realizada nesta quarta-feira (24) no Santuário Nacional de Aparecida, no interior de São Paulo, o Papa Francisco pediu que os pastores do povo de Deus, pais e educadores sejam responsáveis por transmitir aos jovens valores para construir “um país e um mundo mais justo, solidário e fraterno” a partir de posturas “simples”.

Francisco também pediu que a juventude seja encorajada e considerada um “motor potente para a Igreja e para a sociedade”. O Papa fica no país até domingo (28), onde participa dos atos principais da Jornada Mundial da Juventude.

Leia a íntegra do discurso a seguir:

"Venerados irmãos no episcopado e sacerdócio, queridos irmãos e irmãs!

Quanta alegria me dá vir à casa da Mãe de cada brasileiro, o Santuário de Nossa Senhora Aparecida. No dia seguinte à minha eleição como Bispo de Roma fui visitar a Basílica de Santa Maria Maior, para confiar a Nossa Senhora o meu ministério.

Hoje, eu quis vir aqui para suplicar à Maria, nossa Mãe, o bom êxito da Jornada Mundial da Juventude e colocar aos seus pés a vida do povo latino-americano.

Encorajemos a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a sociedade. Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um povo"

Papa Francisco
Queria dizer-lhes, primeiramente, uma coisa. Neste Santuário, seis anos atrás, quando aqui se realizou a 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, pude dar-me conta pessoalmente de um fato belíssimo: ver como os bispos – que trabalharam sobre o tema do encontro com Cristo, discipulado e missão – eram animados, acompanhados e, em certo sentido, inspirados pelos milhares de peregrinos que vinham diariamente confiar a sua vida a Nossa Senhora: aquela Conferência foi um grande momento de vida de Igreja.

E, de fato, pode-se dizer que o Documento de Aparecida nasceu justamente deste encontro entre os trabalhos dos Pastores e a fé simples dos romeiros, sob a proteção maternal de Maria. A Igreja, quando busca Cristo, bate sempre à casa da Mãe e pede: “Mostrai-nos Jesus”. É de Maria que se aprende o verdadeiro discipulado. E, por isso, a Igreja sai em missão sempre na esteira de Maria.

Assim, de cara à Jornada Mundial da Juventude que me trouxe até o Brasil, também eu venho hoje bater à porta da casa de Maria, que amou e educou Jesus, para que ajude a todos nós, os Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos educadores, a transmitir aos nossos jovens os valores que farão deles construtores de um país e de um mundo mais justo, solidário e fraterno.

Para tal, gostaria de chamar atenção para três simples posturas: conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria.

Conservar a esperança: A segunda leitura da missa apresenta uma cena dramática: uma mulher, figura de Maria e da Igreja, sendo perseguida por um dragão – o diabo – que quer lhe devorar o filho. A cena, porém, não é de morte, mas de vida, porque Deus intervém e coloca o filho a salvo.

Quantas dificuldades na vida de cada um, no nosso povo, nas nossas comunidades, mas, por maiores que possam parecer, Deus nunca deixa que sejamos submergidos. Frente ao desânimo que poderia aparecer na vida, em quem trabalha na evangelização ou em quem se esforça por viver a fé como pai e mãe de família, quero dizer com força: Tenham sempre no coração esta certeza! Deus caminha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados!

Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos corações! O “dragão”, o mal, faz-se presente na nossa história, mas ele não é o mais forte. Deus é o mais forte, e Deus é a nossa esperança! É verdade que hoje, mais ou menos todas as pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar a esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer.

Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros. Queridos irmãos e irmãs, sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma visão positiva sobre a realidade.

Encorajemos a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a sociedade. Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um povo.

Neste santuário, que faz parte da memória do Brasil, podemos quase que apalpá-los: espiritualidade, generosidade, solidariedade, perseverança, fraternidade, alegria; trata-se de valores que encontram a sua raiz mais profunda na fé cristã.

A segunda postura: Deixar-se surpreender por Deus. Quem é homem e mulher de esperança – a grande esperança que a fé nos dá – sabe que, mesmo em meio às dificuldades, Deus atua e nos surpreende. A história deste Santuário serve de exemplo: três pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio Paraíba, encontram algo inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição.

Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, como o vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos em Deus!

Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se esgota. Se nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em vinho novo de amizade com Ele.

A terceira postura: Viver na alegria. Queridos amigos, se caminhamos na esperança, deixando-nos surpreender pelo vinho novo que Jesus nos oferece, há alegria no nosso coração e não podemos deixar de ser testemunhas dessa alegria.

O cristão é alegre, nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos uma mãe que sempre intercede pela vida dos seus filhos, por nós, como a rainha Ester na primeira leitura. Jesus nos mostrou que a face de Deus é a de um Pai que nos ama. O pecado e a morte foram derrotados.

O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de quem parece num constante estado de luto. Se estivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nosso coração se “incendiará” de tal alegria que contagiará quem estiver ao nosso lado. Como dizia Bento XVI, aqui, neste santuário: “o discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro”.

Queridos amigos, viemos bater à porta da casa de Maria. Ela abriu-nos, fez-nos entrar e nos aponta o seu Filho. Agora Ele nos pede: “Fazei o que Ele vos disser”. Sim, Mãe nossa, nos comprometemos a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos com esperança, confiantes nas surpresas de Deus e cheios de alegria. Assim seja."



 O PAPA FRANCISCO NO RIO

Ao inaugurar o Polo de Atenção Integrado à Saúde Mental do Hospital São Francisco na Providência Divina, na Tijuca, Zona Norte do Rio, o papa Francisco rejeitou a descriminalização do consumo de drogas. Segundo ele, liberar o uso de drogas não diminui a incidência de dependentes. 

"Não é deixando livre o uso das drogas, como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá diminuir a difusão e a dependência química. E necessário enfrentar o problema na raiz”, disse.

"Precisamos todos aprender a abraçar quem passa necessidades, como fez São Francisco. Há tantas pessoas que reclamam atenção, amor, como os que lutam contra a dependência química. Frequentemente, porém, o que prevalece na nossa sociedade é o egoísmo. São tantos os mercadores de morte que seguem a lógica do poder e do dinheiro”, enfatizou.

Antes do discurso do papa, Frei Francisco, diretor do hospital, apresentou a missão do centro para tratamento dos dependentes químicos. "Santo Padre, a lepra dos nossos dias se chama droga", disse. "Mais uma vez a Igreja marca sua presença histórica, trazendo a todos a recuperação", acrescentou.

Em seguida, o papa ouviu depoimentos de ex-dependentes químicos em tratamento.

Após o pronunciamento, Francisco rezou um Pai Nosso e abençoou a placa de inauguração do novo centro. A inauguração do Polo de Atenção Integrado à Saúde Mental do hospital foi o último compromisso do papa nesta quarta-feira.

Chegada tumultuada

A chegada do papa ao hospital foi muito tumultuada. Muita gente se espremia na porta à espera do pontífice, que desembarcou na Base Aérea do Galeão, procedente de Aparecida, e seguiu em carro fechado, mas com as janelas abertas, até a unidade. Francisco saiu do carro e enfrentou a chuva que atingiu a cidade nesta quarta-feira. Milhares de pessoas lotaram as calçadas para assistir a passagem do papa pelas ruas da Tijuca. 

Algumas pessoas ficaram frustradas porque Francisco não chegou de papamóvel, como aconteceu em Aparecida. Uma moradora do Morro da Formiga disse que desceu cedo da comunidade só para ver o pontífice, mas "ele passou rápido demais". "Não deu para ver direito", lamentou.

Já a cozinheira Rosilene de Almeida Santana, que trabalha no Colégio Marista, também na Tijuca, disse que não tirou férias este mês, como sempre faz, só para ver a chegada do papa ao hospital. "Estou muto feliz com esse momento", afirmou.

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