sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Novo Datafolha: até quando vai durar a Marinamania?



Postado em 29 ago 2014
Marina
Marina
O dia começou ruim para Dilma e terminou pior.
O primeiro golpe veio com a publicação, na Folha, de um texto de acordo com o qual Dirceu já estaria considerando “iminente” a derrota de Dilma para Marina, a “Lula de saias”.
O artigo, de Fernando Rodrigues, viralizou. Poucas horas depois de publicado, Dirceu desmentiu tudo, pelo blog de Paulo Moreira Leite.
Dirceu está mesmo tão pessimista assim? O jornalista da Folha forçou a mão?
Bem, questões como estas acabaram obscurecidas pelo segundo golpe: os números do último Datafolha.
Por eles, Marina já alcançou Dilma no primeiro turno. Estão empatadas em 34%, com Aécio semimorto com 15%.
Ruim no primeiro, pior no segundo. Pelo Datafolha, confirmando o Ibope de poucos dias atrás, Marina bate Dilma por 50% a 40%.
É indiscutível que o Brasil vive, nestes dias, uma Marinamania.
Numa eleição que não provocava grande entusiasmo, ela surgiu como um fato novo. Colocou fogo numa disputa morna. Trouxe imprevisibilidade a uma competição tediosamente previsível.
Virou uma sensação, por tudo isso.
Curioso notar que toda esta espuma provavelmente não teria ocorrido caso Marina estivesse concorrendo desde o princípio com sua Rede.
Ela seria um nome a mais. Forte, é verdade, mas sem o impacto trazido pela chegada espetacular, no rastro da tragédia de Campos.
Para quem gosta de parábolas, ou metáforas, da morte brotou a vida, e com a vida a esperança de renovação.
Marina não faz “nova política”, como demonstram suas alianças, mas quem entre seus principais rivais pode bater nela por isso?
A “novidade” de Aécio é um receituário que, na moda nos anos 1980 com Thatcher, o tempo mostrou ser uma calamidade, sobretudo para os mais pobres.
Armínio Fraga, o homem da economia de Aécio, tem a cabeça na década de 80.
Quanto a Dilma, o máximo que ela pode dizer a Marina, no quesito das alianças estranhas, é: “Eu sou você amanhã”.
Há um cansaço, na sociedade, com a política tal como é feita no Brasil.
Quando o PT subiu ao poder, a expectativa era que o modo de fazer política mudaria.
Não mudou, ou mudou pouco.
A decepção de muitos com o PT decorre – ao contrário do que dizem os conservadores – não com a corrupção, que na verdade foi combatida como nunca antes nestes últimos anos.
A decepção veio pelo que não foi feito no terreno dos avanços sociais. O PT fez mais neste campo que os governos anteriores, desde Getúlio Vargas, mas menos do que gostariam os que sonham com uma sociedade mais justa.
É uma insatisfação de esquerda, por assim dizer, e não de direita.
Os votos que faltam hoje ao PT estão na esquerda, na garotada inconformada que tomou as ruas em junho de 2013, e não na direita. Basta ver o desempenho de Aécio.
Marina representa, para essa gente, não uma certeza de transformações – mas ao menos uma esperança.
Para reverter a Marinamania, Dilma terá que mostrar que é ela, e não Marina, quem poderá fazer, na verdade, a modernização política pela qual anseia a sociedade.
Para obter sucesso nisso, ela terá que encontrar uma resposta para a seguinte questão: por que vocês não fizeram isso nestes doze anos?
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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