Macaé que era capital do petróleo começa a encolher após crise
“A gente vai fazer o básico, porque a gente já tinha pago o cartório, mas a festa não rola, não vai ter”, conta Taygra Gonçalves, comerciante.
“Eu e meu pai, a gente tem um comércio bem pequeno, mas com essa crise o efeito cascata é muito forte”, explicou Taygra.
“Quem sabe a gente faça a festa de bodas de prata”, comenta Lucas.
Adiar os sonhos para não sei quando é uma exigência da vida cada vez mais comum em Macaé. A cidade é a capital nacional do petróleo. O título que só dava orgulho virou motivo de preocupação.
Em 40 anos, o que era pouco mais do que uma vila de pescadores, se tornou um centro mundial de exploração de petróleo. Depois de décadas seguidas de crescimento, em poucos meses Macaé se transformou de novo. E agora, a terra da prosperidade exibe os sinais da crise.
E quanto mais o carimbo trabalha, mais falta trabalho em Macaé. O sindicato dos trabalhadores em sondas e plataformas ficou pequeno. A sede não foi planejada para homologar tantas demissões ao mesmo tempo.
A indústria do petróleo não abre vagas enquanto espera por novos leilões de campos de exploração, que ainda devem demorar.
“O fato também da Petrobras ser operadora única causa essa distorção uma vez que ela, não tendo campos a explorar futuramente, cessa contratos de sondas de perfuração e toda a cadeia que depende dessa atividade acaba sofrendo em conjunto”, aponta Marcelo Campos, diretor de Óleo e Gás da Abimaq.
No ano passado, a bacia de campos tinha 12 sondas explorando petróleo. Agora, esse número caiu pela metade. Cada sonda que vai embora deixa sem emprego torristas, plataformistas, sondadores, controladores de lastro.
Especialistas no trabalho em alto mar, que ganham no mínimo R$ 4 mil. Em terra firme, quem tiver a sorte de encontrar emprego, vai ganhar menos da metade.
“Fiz pelo menos uns dez cursos para estar e chegar onde cheguei. Agora você tem que caminhar e voltar, dar um passo atrás, começar do zero”, conta Janires Rodrigues Rocha Santos, homem de área.
Nos últimos seis meses, 5 mil trabalhadores foram dispensados por empresas que não renovaram contratos com a Petrobras.
“Esse desemprego ele vem em cadeia, ele vem em rede. Ele sai do engenheiro, do técnico e vai atingir a padaria da última rua, do último bairro de uma região inteira”, diz Aluízio dos Santos Júnior, prefeito de Macaé.
Em 2015, a prefeitura de Macaé vai deixar de arrecadar R$120 milhões em royalties. Na cidade, “aluga-se” e não há inquilinos. “Vende-se” e não há compradores. A crise é tão traiçoeira que às vezes vem disfarçada de boa notícia. O trânsito melhorou.
“Hoje eu cheguei no meu local de trabalho em 10 minutos, coisa que eu fazia em quase meia hora. Isso significa que está havendo um esvaziamento do município”, comenta um trabalhador.
“Gosto muito daqui, uma cidade próspera para emprego, mas que infelizmente está passando por esse momento crucial e fica essa sensação de tristeza, a verdade é essa. Você vai ter que ir embora? Com certeza, hoje mesmo”, diz Bruno Ribeiro de Oliveira, assistente de torrista.
Na rodoviária, o clima pesado das viagens sem volta. E a sensação de que a cada despedida, Macaé tem um habitante a menos.
(fonte: G1)
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