Alberto Murteira
MENSAGEM DE NATAL DE TIO ALBERTO
Quando eu era garoto - um garoto que felizmente nunca passou fome -, assim como a maioria das crianças da civilização baseada na cultura ocidental, amava o Natal. E, de certa forma, ainda amo! Lembro-me que minha mãe sempre me contava sobre uma alucinação natalina que teve, aos três ou quatro anos de idade, no colo de um tio, vendo "com seus próprios olhos" o bom velhinho pulando por sobre um muro e indo encontrar seu trenó puxado à renas estacionado numa grande chácara. Nós, que tivemos o privilégio de termos sido alimentados pelas lindas histórias de Natal, e também por ceias e presentes, árvores iluminadas e outros adereços deste verdadeiro frenesi de fim de ano, não podemos negar o poder que tudo isso tem. Curiosamente, a maioria das pessoas mistura a magia de Papai Noel com a crença religiosa do aniversário de Cristo, sendo que o próprio Noel é uma distorção confusa do que de fato teria sido aquele homem humilde, que gostava de ajudar os pobres deixando presentes em suas portas, chamado Nicolau, ou São Nicolau para os católicos, ou ainda São Nicolau de Bari, padroeiro da Grécia, da Russia, da Noruega e de mais quem quisesse.
Para completar toda esta fantasia onírica foram agregados novos elementos, como o "boneco de neve", os livros de Natal - a exemplo do eterno "Christmas Carol" do genial Charles Dickens, sempre com seus tipos inesquecíveis tendo como pano de fundo a Revolução Industrial e os costumes ingleses da era vitoriana -, as séries e produções cinematográficas hollywoodianas - como o refilmado "O Milagre da Rua 34" e o belíssimo "A Felicidade Não se Compra", entre tantos outros -, sem falar nas inúmeras canções de Natal, desde clássicos eruditos aos populares, variando dos instrumentais tocados com harpa ou cítara, passando pelos corais e até vozes maravilhosas como a de Bing Crosby cantando a eterna "White Christmas"... Enfim, hoje o Natal é a soma de todos estes elementos, incrustados na mente humana como uma espécie de herança genética coletiva! Mas, então, fora o fato de que nele os cristãos comemoram o nascimento de Cristo, o que é, de fato, o Natal? Ou melhor, no que se tornou o Natal? Bem, pra mim, excetuando-se toda a beleza dos papéis de presente que embalaram a minha infância, o Natal é mais um clube fechado, com níveis e subníveis de associados, uns com mais regalias, outros com menos! E mesmo aqueles que se dizem muito religiosos, enfurnados em suas igrejas segurando firmemente suas bíblias e entoando cânticos seculares, nem sempre fazem jus o ano inteiro ao que deveria ser um autêntico espírito natalino. Sim, porque também fazem parte do clube que exige de pronto apenas uma condição inicial: que você seja bastante hipócrita! O resto fica por conta do politicamente correto e outras dissimulações humanas que, de tão poderosos seus mecanismos, enganam primeiro as próprias pessoas, a si mesmas, como uma forma de auto-sujeição. É mais ou menos o que ocorre na mente de muitos políticos brasileiros, que, apesar de se apoderarem escancaradamente do erário público, acreditam que acima de tudo são honestos e fizeram muito pelo social!
Então o "Clube do Natal" é, em verdade, o clube dos espíritos de porco! E não estou sendo radical, vejam bem! Todas as vezes em que botamos mais no prato do que somos capazes de comer estamos sendo uns canalhas. Mas, pense na proporção que isto toma quando as pessoas se empanturram até suas barrigas explodirem de vinhos, espumantes chiques, perus e outros assados caros, rabanadas, frutas secas, e mais um monte de guloseimas cujos restos ao azedarem se tornarão toneladas de lixo diante de tanta gente faminta disputando a ceia podre com ratos e urubus! Onde está o Natal? Cadê os seus associados, que tanto teimam em exaltar o nome de Deus, que fazem suas citações sobre caridade, de um amor ao próximo que ficou esquecido hibernando o ano inteiro? O "Clube do Natal" se assemelha a uma destas organizações secretas, que juram existir pelo bem comum, mas que não passam de grupos de senhores egoístas que se reúnem com pretensões de se enriquecerem cada vez mais, porque é justamente o que as pessoas comuns também fazem! Salvo um herói ou outro que se desprende pelo próximo de verdade, que se despoja de seus orgulhos independendo se é crente ou ateu, a maioria da sociedade só pensa em multiplicar suas riquezas, e, no fundo, nem se importa de verdade com nobres causas que inacreditavelmente lhes enchem de lágrimas nas histórias divinas ou em finais de filmes mamão-com-açúcar, comprovando o quanto o Homem é, além de um grande e inconsequente predador, um ser absolutamente paradoxal, diante da razão e de suas surpreendentes faculdades mentais.
O "Clube do Natal" acredita que o Natal se comemora no dia 25 de dezembro, e não em cada dia do ano, em cada hora e cada minuto indivisível do mesmo tempo que lhes ceifa a vida num piscar de olhos para o infinito tempo do universo. E você pode dizer que quase todos fazem parte deste clube, até os pobres, enquanto existirem os miseráveis! Porque até os pobres, em suas classificações inferiores neste enfadonho clube, também dão o seu jeito, até se endividam para fazer suas gastanças de fim de ano e tomarem seus porres, mesmo sendo com bebidas vagabundas! São as "arquibancadas" do grande espetáculo que reúne as famílias e os amigos para supostamente celebrar tudo aquilo que deveriam ser e não são, nunca foram e jamais serão. Quem pode saber onde está realmente o espírito natalino? O Natal nem mesmo depende do nome Natal, não precisaria ser uma tradição cristã e nem mesmo deveria ser comemorado, porque a bondade é um dever de todos, e não um jogo em que acumulamos bônus para entrar grátis no Céu ou para evitar que ressuscitemos numa lesma ou numa minhoca na próxima encarnação ou qualquer outra bobagem cósmica! Aliás, a verdadeira bondade é aquela que é feita sem haver outra recompensa que não seja apenas saber tê-la feito por alguém, mesmo que este alguém seja um cão sarnento caído na estrada. Mas tem que ser de verdade! Não adianta você ajudar cegos a atravessarem ruas meramente porque está no imaginário popular como uma das boas ações mais corriqueiras, se sua mente está poluída de malícias e desejos obscuros! Então o Natal é praticado apenas pelos que não fazem parte do clube, lógico! Os verdadeiros "espíritos" do Natal são os marginalizados, os incompreendidos que não entram na fila ordinária dos preparativos, das compras, dos buffets, dos milhares de watts gastos em luzes e outros badulaques piscantes, e que nem conhecem tanto ou nada de tais emocionantes histórias, muitos dos quais sem fé divina ou crença alguma. Fora do clube, bem lá fora, talvez sem muita beleza ou cheios de feiura, tão invisíveis aos olhos insensíveis quanto os lixeiros em sua imprescindível labuta, encontram-se as únicas, poucas e raras pessoas que mantém acesa uma sagrada chama, passada de mãos em mãos como uma tocha olímpica em câmera lenta. Quem são estas pessoas? Você nunca as notou? Nunca as viu? Não percebeu que elas poderiam ter estado perto de você ou ao seu lado o tempo inteiro, assim como a própria felicidade?
Para completar toda esta fantasia onírica foram agregados novos elementos, como o "boneco de neve", os livros de Natal - a exemplo do eterno "Christmas Carol" do genial Charles Dickens, sempre com seus tipos inesquecíveis tendo como pano de fundo a Revolução Industrial e os costumes ingleses da era vitoriana -, as séries e produções cinematográficas hollywoodianas - como o refilmado "O Milagre da Rua 34" e o belíssimo "A Felicidade Não se Compra", entre tantos outros -, sem falar nas inúmeras canções de Natal, desde clássicos eruditos aos populares, variando dos instrumentais tocados com harpa ou cítara, passando pelos corais e até vozes maravilhosas como a de Bing Crosby cantando a eterna "White Christmas"... Enfim, hoje o Natal é a soma de todos estes elementos, incrustados na mente humana como uma espécie de herança genética coletiva! Mas, então, fora o fato de que nele os cristãos comemoram o nascimento de Cristo, o que é, de fato, o Natal? Ou melhor, no que se tornou o Natal? Bem, pra mim, excetuando-se toda a beleza dos papéis de presente que embalaram a minha infância, o Natal é mais um clube fechado, com níveis e subníveis de associados, uns com mais regalias, outros com menos! E mesmo aqueles que se dizem muito religiosos, enfurnados em suas igrejas segurando firmemente suas bíblias e entoando cânticos seculares, nem sempre fazem jus o ano inteiro ao que deveria ser um autêntico espírito natalino. Sim, porque também fazem parte do clube que exige de pronto apenas uma condição inicial: que você seja bastante hipócrita! O resto fica por conta do politicamente correto e outras dissimulações humanas que, de tão poderosos seus mecanismos, enganam primeiro as próprias pessoas, a si mesmas, como uma forma de auto-sujeição. É mais ou menos o que ocorre na mente de muitos políticos brasileiros, que, apesar de se apoderarem escancaradamente do erário público, acreditam que acima de tudo são honestos e fizeram muito pelo social!
Então o "Clube do Natal" é, em verdade, o clube dos espíritos de porco! E não estou sendo radical, vejam bem! Todas as vezes em que botamos mais no prato do que somos capazes de comer estamos sendo uns canalhas. Mas, pense na proporção que isto toma quando as pessoas se empanturram até suas barrigas explodirem de vinhos, espumantes chiques, perus e outros assados caros, rabanadas, frutas secas, e mais um monte de guloseimas cujos restos ao azedarem se tornarão toneladas de lixo diante de tanta gente faminta disputando a ceia podre com ratos e urubus! Onde está o Natal? Cadê os seus associados, que tanto teimam em exaltar o nome de Deus, que fazem suas citações sobre caridade, de um amor ao próximo que ficou esquecido hibernando o ano inteiro? O "Clube do Natal" se assemelha a uma destas organizações secretas, que juram existir pelo bem comum, mas que não passam de grupos de senhores egoístas que se reúnem com pretensões de se enriquecerem cada vez mais, porque é justamente o que as pessoas comuns também fazem! Salvo um herói ou outro que se desprende pelo próximo de verdade, que se despoja de seus orgulhos independendo se é crente ou ateu, a maioria da sociedade só pensa em multiplicar suas riquezas, e, no fundo, nem se importa de verdade com nobres causas que inacreditavelmente lhes enchem de lágrimas nas histórias divinas ou em finais de filmes mamão-com-açúcar, comprovando o quanto o Homem é, além de um grande e inconsequente predador, um ser absolutamente paradoxal, diante da razão e de suas surpreendentes faculdades mentais.
O "Clube do Natal" acredita que o Natal se comemora no dia 25 de dezembro, e não em cada dia do ano, em cada hora e cada minuto indivisível do mesmo tempo que lhes ceifa a vida num piscar de olhos para o infinito tempo do universo. E você pode dizer que quase todos fazem parte deste clube, até os pobres, enquanto existirem os miseráveis! Porque até os pobres, em suas classificações inferiores neste enfadonho clube, também dão o seu jeito, até se endividam para fazer suas gastanças de fim de ano e tomarem seus porres, mesmo sendo com bebidas vagabundas! São as "arquibancadas" do grande espetáculo que reúne as famílias e os amigos para supostamente celebrar tudo aquilo que deveriam ser e não são, nunca foram e jamais serão. Quem pode saber onde está realmente o espírito natalino? O Natal nem mesmo depende do nome Natal, não precisaria ser uma tradição cristã e nem mesmo deveria ser comemorado, porque a bondade é um dever de todos, e não um jogo em que acumulamos bônus para entrar grátis no Céu ou para evitar que ressuscitemos numa lesma ou numa minhoca na próxima encarnação ou qualquer outra bobagem cósmica! Aliás, a verdadeira bondade é aquela que é feita sem haver outra recompensa que não seja apenas saber tê-la feito por alguém, mesmo que este alguém seja um cão sarnento caído na estrada. Mas tem que ser de verdade! Não adianta você ajudar cegos a atravessarem ruas meramente porque está no imaginário popular como uma das boas ações mais corriqueiras, se sua mente está poluída de malícias e desejos obscuros! Então o Natal é praticado apenas pelos que não fazem parte do clube, lógico! Os verdadeiros "espíritos" do Natal são os marginalizados, os incompreendidos que não entram na fila ordinária dos preparativos, das compras, dos buffets, dos milhares de watts gastos em luzes e outros badulaques piscantes, e que nem conhecem tanto ou nada de tais emocionantes histórias, muitos dos quais sem fé divina ou crença alguma. Fora do clube, bem lá fora, talvez sem muita beleza ou cheios de feiura, tão invisíveis aos olhos insensíveis quanto os lixeiros em sua imprescindível labuta, encontram-se as únicas, poucas e raras pessoas que mantém acesa uma sagrada chama, passada de mãos em mãos como uma tocha olímpica em câmera lenta. Quem são estas pessoas? Você nunca as notou? Nunca as viu? Não percebeu que elas poderiam ter estado perto de você ou ao seu lado o tempo inteiro, assim como a própria felicidade?

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