terça-feira, 5 de setembro de 2017

PF abre investigação sobre compra de votos para que Rio de Janeiro se tornasse sede olímpica

AFP / Apu GomesO presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, deixa sua residência no Rio de Janeiro em direção à sede da Polícia Federal
A Polícia Federal anunciou nesta terça-feira a abertura de uma investigação por corrupção envolvendo a compra de votos para a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
Operações de busca e apreensão foram realizadas esta manhã em 11 locais no Rio de Janeiro, incluindo na casa do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Nuzman, no Leblon.
Nuzman, que esteve à frente da candidatura da cidade, é suspeito de ter participado de forma ativa na rede de corrupção instalada no Comitê Olímpico Internacional (COI) e de ter agido como intermediário entre ambos os lados das negociações, de acordo com a emissora GloboNews.
"Não existem fortes indícios de nada. Ele (Nuzman) afirma que não atuou de forma irregular, que nada foi feito de errado durante a campanha ", declarou a jornalistas o advogado do presidente do COB, Sergio Mazzillo.
Nuzman está "tranquilo e sereno", garantiu.
AFP/Arquivos / Leon NEAL(2016) O presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, na cerimônia de encerramento dos Jogos do Rio
Setenta oficiais da PF, acompanhados de autoridades da França e dos Estados Unidos, buscavam provas da "compra de votos no âmbito da eleição pelo Comitê Olímpico Internacional da cidade-sede dos Jogos Olímpicos 2016", segundo um comunicado da polícia.
Para a operação, batizada "Unfair play", dois mandados de prisão foram emitidos, de acordo com o comunicado.
Uma coletiva de imprensa a ser realizada às 10h45 pelas autoridades deverá fornecer mais detalhes sobre a investigação, incluindo sobre a identidade das duas pessoas procuradas.
A investigação, que começou há nove meses e que é uma ramificação da operação Lava Jato, concentra-se em um "esquema criminoso que envolve o pagamento de propina em troca da contratação de empresas terceirizadas pelo governo do Rio de Janeiro", segundo a PF.
Esses pagamentos teriam sido realizados "tanto diretamente com a entrega de dinheiro em espécie, como através de contratos de prestação de serviços fictícios e também por meio de pagamentos de gastos pessoais".
O COI comentou, em um comunicado, as operações realizadas pela PF: "O COI teve conhecimento desse caso pela imprensa e tem feito o possível para obter todas as infirmações. É de maior importância para o COI obter esclarecimentos sobre o assunto".
Na França, uma investigação similar foi aberta pela Procuradoria Nacional Financeira (PNF), que trabalha com suspeitas de corrupção sobre a atribuição dos Jogos Olímpicos ao Rio de Janeiro, decidida por meio de votação dos membros do COI, em 2 de outubro de 2009 em Copenhague, em detrimento de Chicago, Madri e Tóquio.
Segundo documentos fornecidos pelo Tesouro americano à Justiça francesa, revelados pelo jornal Le Monde em março de 2017, uma empresa (Matlock Capital Group) que gerenciava os interesses de um empresário brasileiro, Arthur Cesar de Menezes Soares Filho, depositou três dias antes da votação 1,5 milhão de dólares a uma companhia pertencente a Papa Massata Diack, filho do então chefe da Federação Internacional de Atletismo (IAAF) e membro do COI Lamine Diack.
O empresário brasileiro é ligado ao ex-governador do Rio Sergio Cabral, condenado a 14 anos de prisão por corrupção.
Em 2 de outubro de 2009, Papa Massata Diack, poderoso consultor de marketing para l'IAAF, transferiu 299.300 dólares de sua empresa para uma estrutura (Yemi Limited), que o Le Monde conseguiu vincular, graças aos dados do Panama Papers, ao ex-campeão atlético namibiano Frankie Fredericks. Este último era então um controlador do voto para o COI, do qual se tornou membro em 2012.
Frankie Fredericks, que justificou esta transferência através de atividades promocionais para o atletismo, foi obrigado a renunciar ao cargo de presidente da Comissão de Avaliação dos Jogos Olímpicos de 2024, antes de ser suspenso da IAAF.

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