Cacoete de mãe
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*por Claudia Queiroz
Muita gente sonha com grandes realizações, viagens de luxo e fetiche pelo inalcançável para a maioria… Mas pra mim, nada é maior que amar alguém mais do que a mim mesma. Quando uma amiga me dizia que todo dia o amor dela aumentava pelos filhos, parecia, ao menos para mim, um tipo de delírio. Eu estava completamente enganada. Amor a gente só aprende amando. Por isso me dedico de corpo e alma à maior obra prima do meu portfólio: Gabriella!
Acho que não existe nada mais triste que significar tanto pra tanta gente e não ser grande para um filho… Quando minha filha levanta a cabeça para me olhar, cheia de brilho, admiração, sonhos, artes e aprontos, estou ali, perto dela. Que privilégio! Não são raras as vezes que me abaixo para ficarmos da mesma altura, mas instantaneamente ela se agacha como eu. Empatia, respeito, não importa, porque sou o mundo dela!
Existe algo mais importante na vida? Ela tem 3 anos apenas, o que significa uma vida inteira pela frente e, apesar da pouca idade, herdei da minha filha várias coisas, a começar com a capacidade de suportar momentos caóticos com mais bravura que antes. Com ela, aprendi a ter frieza para agir em emergências, doença, viroses malvadas, febres resistentes… Junto com tudo isso veio também a necessidade de desacelerar, de me reinventar, de ser temporariamente uma espécie de ‘personagem secundária’, afinal, ela é a estrela principal!
Ela me ensinou a dar beijos que curam desesperos, lágrimas, dores, e instalou em mim um manual de como ampliar sorrisos, ecoar gargalhadas incríveis e emoções variadas em coisas relativamente bobas… Herdei superpoderes de heroína e aquele cacoete de sempre procurar quem grita a palavra MÃE ou de identificar o significado de cada choro infantil pelo tom.
Perdi o senso de ridículo. Na primeira apresentação de ballet da escola, havíamos combinado um sinal quando ela estivesse no palco…, coisa que só as mães compreendem, e entre aplausos, com as meninas saindo de cena, eu gritei: “Faz coração, filha, coração!!!” E todos do teatro riram de mim. E eu? Nem fiquei vermelha!
É disso que eu quero que ela se lembre quando crescer e precisar confrontar sua juventude em forma de memórias nas conversas com amigos, namorado ou mesmo numa terapia. Dos meus excessos de amor, nunca de falta. Porque com toda essa fonte de carinho, estamos construindo nela amor próprio, segurança, autonomia, coragem, desenvoltura, habilidade, comunicabilidade, afeto e vários outros sentimentos, que são diariamente regados.
Até mesmo quando falta inspiração para escrever, nossa rotina rende lindas histórias, então escolho cada letra que toco neste teclado com a intenção de inspirar relações melhores entre pais e filhos. Porque vê-la se desenvolver bem definitivamente não tem preço e pouco me importam os alertas das redes sociais no meu celular – cronicamente mudos nas configurações.
Aliás, coisa chata essa de ter que pegar um aparelho para olhar o que alguém diz, ou fez, ou falou, ou cutucou, ou tentou chamar a atenção, se tenho uma menina tão linda descobrindo a própria felicidade.
De maneira nenhuma quero que ela seja compensada pelas perdas com presentes ou iludida por contos de fadas. Brilhos sim, sempre, mas tudo a seu tempo. Ensinar valores, ser exemplo, baliza do certo e errado, indicar caminhos, cobrar limites e jamais colocar em dúvida o nosso amor. Essa é a minha responsabilidade maior, o real significado de pertencimento de laço, vínculo, afeto. Não entender isso é quase que assinar atestado de analfabetismo de vida. Sem descobrir isso, nada do que eu vivi teria valido à pena.
Se você é pai ou mãe ou quer ser, pense na grande missão que tem com o sagrado. Não machuque o coração de uma criança. Ensine o que ela precisa para sobreviver neste mundão doido, porque com amor e intencionalidade, a família se enche de graça. Do contrário… ‘desgraça pouca é bobagem’.
Claudia Queiroz é jornalista.
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