A repetição no amor (redescobrir-se, refazer-se, reencontrar-se)
*por Claudia Queiroz
O começo de adaptação do ‘combo’ que envolve ‘todos juntos em casa’ o tempo inteiro, dividindo tarefas de trabalho, casa, lazer e educação não foi fácil para muitas famílias. Porém, meio ano depois parece estar sob controle para a maioria. A velha história de que somos resistentes ao desconhecido, mas temos inteligência para nos adaptar e sobreviver às transformações. Viva Darwin, que traduziu que o mais forte é o que melhor se adapta às mudanças, porque nada no mundo é estático.
Neste período de mais introspecção, autoconhecimento, compartilhamento e convivência, fomos colocados à prova. Como nos perceber como indivíduos? Quanto deveríamos promover ao bem comum, renunciando vontades próprias? O que não pode ser negociável? Dieta, atividade física, prioridades, individualidade, coletividade?
Em geral, percebo que na TV passam filmes que todos em casa podem assistir. As brincadeiras geralmente entretém todos da família; há divisão da utilização do computador; as “lives” têm momentos de participações especiais das crianças; a rotina ficou descompassada e assim por diante… E tudo bem, porque todo mundo está passando por isso!
Cuidar de si e de quem amamos exige algumas magias do redescobrir-se, refazer-se, reencontrar-se. Não deve ser à toa que além das palavras que escolhi com a letra “R”, o ano também tem números repetidos: 2020. Afinal, é na repetição que formamos hábitos.
Sabemos que ninguém é obrigado a fazer o outro feliz. Mas reforços de vínculos exigem constante revisão nos quesitos empatia, respeito e reciprocidade. Sem ilusão, família funciona como organização, principalmente por conter nela a parceria de sonhos e planos, caso contrário seria apenas um amontoado de gente parecida que convive e compartilha o mesmo espaço físico.
Somos indivíduos únicos e nada justifica intoxicar nosso corpo, mente, espírito, ambiente ou mundo em que vivemos com maus pensamentos.
A pandemia nos convidou a mergulhar no poço das nossas sombras. Por isso que aprender a fazer escolhas, mesmo no momento de extrema vulnerabilidade, é fundamental. Ser capaz de configurar um novo formato de vida é tomar consciência de quem somos, encontrar a nossa caixa recursos internos montados no decorrer da vida, escolher como usá-los para estruturar novos projetos. Significa elaborar o passado, com olhos no presente – já que o futuro a Deus pertence.
O que a gente espera sempre é a construção respeitosa de si e das relações no seu conceito mais amplo de querer bem. Nem sempre as ferramentas necessárias vêm de fábrica.
Exatamente por isso é que precisamos atender ao chamado de criar (ou recriar) a própria história com responsabilidade. Para não adiar o que nos traz satisfação por medo de ousar. Pessoas vão e vem, mas você fica. Cuide-se!
Claudia Queiroz é jornalista.
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