segunda-feira, 13 de setembro de 2021

 

E SE GEORGE W. BUSH TIVESSE DECIDIDO NÃO INVADIR O IRAQUE?!

(Ishaan Tharoor - The Washington Post/O Estado de S. Paulo, 10) Boa parte dos americanos, varridos pela pressa de George W. Bush, não questionou a conexão entre o 11 de Setembro e a decisão de invadir “preventivamente” o Iraque, dois anos depois, para derrubar Saddam Hussein. Uma pesquisa do Washington Post, de 2003, descobriu que 7 em cada 10 americanos acreditavam que era pelo menos “provável” que Hussein estivesse diretamente envolvido nos ataques.

É claro que tudo isso se provou absurdo, como grande parte do argumento de Bush sobre as fantasiosas armas de destruição em massa do regime iraquiano. Animado por um zelo neoconservador para derrubar regimes inimigos – e desimpedido pelo grosso da imprensa – Bush mergulhou os EUA em uma guerra e ocupação que redesenhariam o mapa do Oriente Médio, desviariam a atenção da intervenção no Afeganistão e provocariam novos ciclos de violência.

“Os primeiros dois anos após o 11 de Setembro marcaram uma era em que os EUA cometeram grandes erros estratégicos”, disse Vali Nasr, professor da Escola de Estudos Internacionais da Universidade Johns Hopkins, ao Today’s World View. “Sua visão foi obscurecida pela raiva e pela vingança.”

Mas e se os EUA tivessem optado por não invadir o Iraque? A decisão de derrubar Saddam, ainda mais do que a invasão do Afeganistão, provocou uma guerra que isolou uma série de outras opções e desencadeou eventos que alteraram a região. É impossível reverter o que Bush fez, mas podemos especular sobre alguns elementos dessa proposição contrafactual.

Entre eles, há o número de mortos no Iraque. O Watson Institute, da Brown University, calcula que entre 184.382 e 207.156 civis iraquianos foram mortos entre março de 2003 e outubro de 2019. Mas o número verdadeiro pode ser maior.

“Mesmo considerando o longo histórico de brutalidade de Saddam, é difícil imaginar um futuro de maior sofrimento para o povo iraquiano se os EUA não o tivessem retirado do poder”, disse Sinan Antoon, poeta e escritor iraquiano radicado em Nova York. “Se o regime tivesse permanecido, dezenas de milhares de iraquianos ainda estariam vivos e não nasceriam, todos os dias, crianças com defeitos congênitos em Fallujah”, disse Antoon ao Today’s World View, aludindo ao impacto dos cartuchos de urânio empobrecido que as forças americanas usavam no Iraque.

De acordo com ele, se os EUA não tivessem invadido o Iraque, também não teríamos a ascensão do Estado Islâmico – uma convicção compartilhada pelo ex-presidente Barack Obama e uma miríade de especialistas.

Outros caminhos também eram possíveis. Em 2002, Shibley Telhami, professor da Universidade de Maryland, fazia parte de um grupo de estudiosos que se opunham à guerra no Iraque. “Bush tinha a chance de construir coalizões globais, fortalecer as normas e instituições internacionais, focar na ameaça da Al-Qaeda, reformular as relações na região do Golfo e usar o apoio para encerrar o conflito palestino-israelense”, disse Telhami, também ao Today’s World View.

“Mas, em vez disso, ele optou pelo unilateralismo e acabou com o equilíbrio de poder entre Irã e Iraque. O ganho do Irã ao ver seu inimigo cair em Bagdá, redefiniu os cálculos geopolíticos dos países árabes do Golfo, que ficaram tão inseguros que embarcaram em suas próprias políticas desestabilizadoras, incluindo a guerra do Iêmen.”

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