Todo encanto é único
*por Claudia Queiroz
Encanto é a nova animação da Disney, que acaba de estrear no Brasil e já virou um dos meus filmes preferidos. Não poderia deixar de contar aqui que é uma trama perfeitamente animada, com conceitos profundos de autodescobertas e desenvolvimento pessoal (dois temas que adoro). Digna dos melhores roteiristas, para toda a família curtir junta.
Evidente que nos identificamos com a personagem principal, Mirabel. Ela é a única que aparentemente não tem um dom especial. Na casa onde vive, todos têm superpoderes (força, cura, perfeição, integração com a natureza…), menos ela, que segue a rotina ouvindo um eco desde a infância, de que deveria orgulhar sua família…
Perigoso e desafiador isso para uma jovem, né?! Inclusive esse é o grande poder transformador do filme. Quando não sabemos muito ou quase nada sobre nossos dons, precisamos confiar na intuição para não perder a direção. Mesmo que para isso, custe romper com nossas crenças limitantes, questionar verdades encalacradas, fugir do controle dos mais velhos e arriscar a perda da tal magia de todos.
A família de Mirabel representa simbolicamente qualquer família que confortavelmente sabe rotular qualidades e defeitos dos seus integrantes. Mais fácil e prático catalogar características… No entanto, elas geralmente não nos definem.
Sempre que colocamos a alma nos nossos planos, eles brilham! Esse é o segredo. Mas não é qualquer um que consegue ou acredita que pode fazer isso. Afinal, para ousar é preciso focar nos propósitos, ainda que sem conhecer bem as consequências. Até porquê se pensássemos mais sobre elas não faríamos metade dos nossos sonhos. E morreríamos fadados à vidinha morna em que vive a maioria dos que se acostumam a conter os impulsos.
O perigo do senso comum
Toda estrutura familiar gira em torno da segurança do pertencimento. Do sentir-se amado e incluído naquele ninho. A educação tradicional ensina que a criança tem que ceder diante das regras dos adultos, formatando comportamentos, pensamentos e padrões. Isso dá a ela a sensação de que não perderá o amor dos pais por desaprovação, mesmo que isso a afaste da própria essência… Aos pais, controle absoluto das reações da prole. No futuro os filhos poderão fazer a escolha que quiserem.
Pra mim, que sou adepta à educação consciente, essa tentativa de controle, mais cedo ou mais tarde revelará sinais graves de alerta. Acredito que filhos que aprendem em casa sobre respeito, liberdade de ação e expressão, descobrem mais sobre si, com menos sofrimento.
Mas a mocinha do filme era a tal ovelha negra, tipo eu ou você, que ouvia o trecho “feito desgosto de filha” da canção ‘Faltando um Pedaço’, do Djavan, e sentia que era feita sob medida para a juventude dos anos 90… Ela quebrou as regras, decidiu acreditar em si e descobrir bem mais que o sonhado talento oculto, quebrando com o encanto para libertar todos que estavam presos nele.
A construção de cumplicidade, colaboração, empatia nas diferenças, perdão e amorosidade nas relações faz com que o desfecho seja colorido. Perfeito para o modelo ‘Família Latina’, uma vez que a história ocorre na Colômbia.
Pra mim, que assisti ao filme de coração aberto, abraçada à filhinha de 5 anos, eufórica com as descobertas da personagem dos cabelos cacheados como os dela, ficou a mensagem mais que clara de que ninguém pode nos dar o que já vive dentro de nós. Coragem, ousadia, inquietação e boa dose de fé estão cravados em quem busca dentro de si a resposta para todas as coisas.
Por isso devemos ajudar a desabrochar em nossos filhos todo o potencial que existe neles. A luz da essência divina merece ser preservada em cada um de nós. Isso é construção de felicidade. Porque deixa nascer e fluir o amor. Essa é a busca de uma vida para muitos de nós em anos de terapia… Imagine se nossas crianças já souberem isso de pequenos? Aí sim o mundo será deles!
Claudia Queiroz é jornalista.
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