terça-feira, 28 de outubro de 2014

Dilma trabalha com margens estreitas para reformas urgentes

27/10/2014 13:18
Por Gilberto de Souza - do Rio de Janeiro

Em seu discurso de vitória, Dilma ouviu do público: "O povo não é bobo. Abaixo a Rede Globo"
Em seu discurso de vitória, Dilma ouviu do público: “O povo não é bobo. Abaixo a Rede Globo”
Dessa vez, foi possível ouvir o zunido da bala disparada pelas forças mais reacionárias do país. Erraram, novamente, o alvo, mas Dilma e um conjunto de alianças de centro-esquerda venceram as eleições com uma diferença mínima para esse breu formado por viúvas da ditadura, ex-comunistas (não existe nada mais deprimente do que ex-comunistas), alienados em geral, pândegos sem graça e ricos de todos os tipos, desde aqueles de penas e bico até os donos do capital, banqueiros e lacaios colonizados de todas as estirpes. Desta, que foi a eleição mais disputada nos últimos 25 anos, ficou de lembrança um Congresso conservador e elitista, o pior já eleito por brasileiros desde aquele que se ajoelhou diante do golpe de Estado, no início dos anos de chumbo.
Ilude-se quem vê algum traço de supremacia dos ideais libertários e progressistas nesta vitória por três pontos de diferença. Não há, ainda, espaço de manobra para transformar o Brasil na Pátria Grande dos ideais de Simon Bolívar, mas os louros que pousam na cabeça presidencial são valiosos o suficiente para consagrar um governo que consolide as conquistas iniciadas com Luiz Inácio Lula da Silva e avance na direção de um país mais soberano, fraterno e igualitário. Metade mais um e poucos por cento dos brasileiros concederam a Dilma Rousseff o bastão do comando por novos quatro anos, sob o olhar desconfiado dos outros quase quarenta e nove por cento da nação, mas o fato é que a nau segue com sua capitã pelas águas turvas do futuro. Portanto, não se iludam, pois ao menor sinal de indecisão o que não faltam são as aves agourentas de sempre, para disseminar o ódio e brindar, com sangue ou champanha, tanto faz, a volta do pesadelo em que sempre quiseram manter o país, desde os tempos da ditadura.
Seria interessante saber, agora, o sabor das iguarias que Dilma e a apresentadora da TV GloboAna Maria Braga cozinharam, juntas, no dia seguinte à sua primeira vitória nas urnas, em 2010. Apodrecidos ao longo dos quatro anos de um cerco sem precedentes ao mandato da presidenta, que segue adiante pela força de mais de quase 55 milhões de votos, aqueles ovos custaram caro aos cofres públicos. Algumas dezenas de bilhões de reais em anúncios aos borbotões não foram suficientes para aplacar a ira da mídia conservadora que, às vésperas da votação, escrachou em capa de revista, horário nobre dos jornais noturnos e primeiras páginas: ‘Eles sabiam de tudo’. A fórmula idealizada pelo jornalista Franklin Martins, de se estabelecer uma espécie de ‘mídia técnica’, decididamente, fracassou. Os meninos e meninas da União da Juventude Socialista (UJS) provaram isso com um caminhão de lixo muito bem atirado à porta daquela editora, na marginal do Tietê. E os militantes que participaram do discurso de vitória da candidata eleita, na noite passada, cantaram em uníssono: “O povo não é bobo. Abaixo a Rede Globo!”
A presidenta Dilma, se está com um mandato novinho, pronto para ser investido no próximo 1º de Janeiro, não deve um voto sequer à mídia conservadora que, durante todo o tempo, trabalha para apeá-la do poder. Não foram um ou dois veículos de comunicação que, em suas páginas, alimentaram a tese do golpe. A revista semanal de ultradireita Veja, líder da boçalidade instituída no discurso da extrema direita, passou da teoria à ação escancarada, na mais flagrante tentativa golpista desde aquele abril de 1964, contando com o apoio servil das co-irmãs Globo, Folha eEstado de S. Paulo. Neste último, o dono foi às ruas segurando um cartaz, escrito “F…-se a Venezuela”, para não deixar dúvidas quanto ao fascismo que move seus ideais. Fizeram os diabos na tentativa de retomar o poder, nada mais justo, agora, que provem daquele prato feito no inferno do programa Mais Você, com o gosto do ódio com o qual temperaram a vida nacional, ao longo de todo esse tempo.
Em uníssono, como sempre, as vozes conservadoras chegaram nesta manhã com a conversa de que a hora de é de diálogo com a classe média, de beija-mão com os bancos que publicam notas de confiança enquanto derrubam as bolsas de valores, de mea culpa por causar a tristeza de milhões de ‘coxinhas’ Brasil afora. Quase propuseram um novo café da manhã com o Louro José, mas alguém deve tê-los advertido quanto ao senso do ridículo, tanto à campanha da presidenta quanto à produção do programa global. Não há mais espaço para erros, a realidade é essa.
A edição de um marco regulatório da mídia. A convocação de eleições para a aprovação da reforma política, com o financiamento público de campanha. As reformas urbana e agrária, entre outros mecanismos necessários à justiça social, todos estes movimentos, caso não ocorram, aí sim, levarão o país a duvidar até do sistema democrático, o que seria a pior personagem na história de um governo popular.
Não há tempo a perder. Portanto, mãos à obra.
Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do Correio do Brasil

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