terça-feira, 5 de maio de 2020


Precisa ser assim?

1102
*por Claudia Queiroz
É sempre assim. Depois das festas de final de ano, férias e carnaval, a vida volta a ser levada a sério e os balanços começam a serem colocados em prática para a grande maioria. O que deu certo, ninguém precisa justificar… Até porque, o simples prazer do acerto é a melhor das justificativas. Mas quando algo dá errado, somos reprovados, negligenciados, adoecemos ou nos enganamos. Precisamos criar uma série de porquês, numa tentativa desenfreada que nos convença que a tormenta valeu à pena. Nem que seja complicado…, mas que, no final, pareça que foi muito produtivo e enriquecedor sofrer. Será mesmo que precisa ser assim?
Realmente não sei se continuo achando que tudo precisa virar ensinamento. Talvez a maior lição seja que contabilizar perdas e lágrimas faz parte da vida, assim como colecionamos bons momentos e sorrisos.
Como não pode ser assim, somos, na verdade, maus perdedores na essência. Tentamos dar glamour às perdas… Mais simples seria admitir que escolhemos errado e que as consequências vieram desastrosas, do que lamentar que às vezes a vida nos passa rasteiras. O jeito é seguir em frente.
Por que achamos que temos sempre que ganhar alguma coisa? A filosofia explica: há centenas de anos criam-se milhares de provérbios… Eu, por exemplo, cresci ouvindo aquelas ‘frases prontas’, estilo jargão do convencimento de boas novas, como “depois da tempestade vem a bonança”, “a exceção confirma a regra”, “errando é que se aprende”, “o que é do homem o bicho não come”, “o que é seu está guardado”… e por aí afora. Funciona para alguma coisa? Não. Claro que não. São apenas frases soltas em algum lugar do #issonaoservepramim, mesmo sabendo que elas vêm da mais pura raiz latina. Simplesmente, não servem para nada. São apenas frases.
De qualquer modo, nenhuma perda vai nos proporcionar algo bom para nos sentirmos estimulados a superar qualquer tipo de crise, seja ela emocional, financeira, de existência, ou qualquer outra.
Então, vou propor algo novo e que espero que realmente toque seu coração: que tal afrouxar o controle e procurar ter mais consciência das suas ações a partir de agora? Tente reconhecer seus sentimentos e olhe adiante, assim como o rio deságua no mar. É inevitável lutar contra o fluxo da existência… E com fé em Deus, independente de religião, fica mais fácil.
Estamos todos condenados a viver, a fazer e a recomeçar. Somos predestinados à vida única, que se oferece numa folha em branco a cada dia. Afinal, com bons pensamentos é sempre possível criar uma nova realidade. Então, só posso sugerir que a partir de agora você planeje melhor suas ações para chorar menos quando não der certo. Mas chore. Entregue-se a cada momento de desânimo da mesma maneira como faz com a alegria, sem julgá-la, sem desejar entendê-la ou classificá-la. Aliás, ninguém merece o hábito de fazer tanta DR (discussão de relação), não é mesmo? Enquanto isso, não se esqueça que o sol continua brilhando – mesmo escondido entre nuvens, como acontece em Curitiba -, as crianças nascendo e os desejos de todo mundo se renovando.
Eu, por exemplo, gosto de anotar bons acontecimentos, bilhetinhos, pensamentos… Vários deles escrevo em pedaços de papel em formato de boas memórias e guardo num pote. Depois de um tempo, abro como se estivesse manuseando um tesouro, me deliciando com tudo de bom que aconteceu. Já imaginou experimentar isso? E, só pra não perder o foco, não deixe de registrar seus principais objetivos. Acredite, quando a gente faz isso, começa a materializar sonhos em realidade. Não é exatamente isso que todo mundo quer quando vira a folhinha de cada mês no calendário?
Então boa sorte, bons pensamentos e que a vida lhe seja cheia de movimento, com músicas ao fundo, lágrimas nos olhos e o peito cheio de esperança. Sempre e pra sempre, até que a morte nos separe! Que assim seja. Mesmo que, no Brasil, só a partir de março.
Claudia Queiroz é jornalista.

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