Espelho da alma
*por Claudia Queiroz
Fotos e memórias têm poder. Seduzem lembranças, trazem conexões diversas, transbordam emoções e revelam que além de arte, muito dizem sobre nós. Estou me referindo a fotos estudadas antes dos clics, certo? Dia desses participei de uma sessão de autoconhecimento com o Sílvio Crisóstomo, terapeuta, coach e artista visual, que me convidou para um mergulho silencioso e curioso sobre minha própria vida. E de tão encantador o que senti ao final daquela hora, feita por videoconferência por causa do isolamento social, da pandemia do COVID, decidi compartilhar com você minha experiência.
Para facilitar essa experimentação, ele selecionou 10 fotos de mulheres para, aos poucos, eu encontrar três delas que, por alguma razão, eu me identificasse. A primeira que chamou minha atenção foi do beijo em queda livre. Um registro da década de 80, num momento de entrega, cumplicidade, amor e adrenalina. Não sei se o casal abriu um paraquedas ou saltou de um avião para o fim das próprias vidas, o que de fato não acredito. Prefiro interpretar positivamente algo mais bonito e poético para manter o fôlego…
Ele me passava as informações referentes àquela imagem especificamente enquanto eu olhava para ela e me permitia fazer reflexões dentro do meu imaginário.
Em tempos de juventude, vivi momentos com profundidade e intensidade. Veio o amadurecimento para me fazer encontrar alguém e construir um ninho. Afinal, ninguém consegue viver para sempre altos e baixos sem chão. Mas a foto é linda, não é mesmo?
Minha segunda escolha foi a de uma mulher duelando com um cavalo, num campo cercado, onde o animal deveria ser domado por ela. Uma espécie de dança de poder. Ela precisando da força e do suporte dele para se locomover. Ele (talvez) precisando da direção dela para ter sentido também sua existência. Era uma foto do início do século passado. E enquanto ele descrevia a cena que eu enxergava na foto, através da semiótica, fui ampliando conceitos daquele registro.
Na minha percepção, relacionei o jornalismo, as transições e os desafios que essa profissão que escolhi vem enfrentando nos últimos anos, carente de equilíbrio, ética, rumo e harmonia para cavalgar firme numa direção segura e sólida.
A terceira e última foto trouxe uma senhora segurando um retrato que completava seu rosto envelhecido. Seria dela mais jovem? Acredito que sim. Dedução apenas, porque o olhar é o mesmo… Mas não posso afirmar nada além de que foi tirada por um fotógrafo mexicano, revelando uma senhora idosa, cheia de marcas do tempo.
O Sílvio me deixou totalmente à vontade para falar ou não o que eu quisesse ao final desta dinâmica. E aí vieram algumas surpresas que transbordaram meu coração de felicidade. Porque relacionei fotografias que, inconscientemente, trouxeram ligações com minha história de vida.
Depois da maternidade, tive a chance de passar a limpo muitos fatos vividos com mais perdão e gratidão, principalmente pelo que me tornei experimentando, sofrendo, sorrindo, caindo e levantando de tantos tombos.
A reflexão mais poderosa é a de que ser mãe virou uma das maiores razões da minha vida. A magia, em forma de vacina, por acreditar na minha família, fazendo meu melhor, para que minha filha cresça e se desenvolva em torno de bons valores, cercada de amor, segurança e proteção para todas as escolhas que venha fazer.
Eu não trouxe uma criança ao mundo, pura e simplesmente… Dei à luz e me iluminei! A existência dela é uma espécie de porto seguro, baliza moral, renovação de forças. A prática real de tudo o que penso e acredito quanto à plenitude do amor. Ganhei vida com a vinda dela. E esse era o convite da gestação. Uma segunda chance para arrumar o prumo. A chegada da mensagem do céu, que a Gabriella trouxe de Deus. Ela me foi confiada por Ele. Então nada mais justo que dividir minha vida como AG, DG (antes e depois da Gabi).
Fotos são registros que nos convidam a contemplar, compartilhar, vivenciar, reviver, admirar e, sobretudo, despertar emoções, muitas vezes desconectadas da lógica, guardadas no tempo e no espaço de quem se atreve a viver…
Assim como a sra cheia de rugas, consegui me imaginar no futuro, bem velhinha, com asteriscos nos olhos, parênteses no sorriso e um orgulho imenso de toda a minha história. A lição deste momento veio em forma de gratidão pelas imagens, representadas nesta trilogia escolhida aleatoriamente. Todas de infinitas interpretações, cheias de dualidade e nexo, porque para o autoconhecimento, basta abrir mente e coração. A Phototherapy foi um presente. A clara certeza de que sempre haverá algo a desvendar neste infinito particular que mora em mim.
Claudia Queiroz é jornalista.
Foto: acervo Silvio Crisóstomo
Foto: Félix Thiollier
Foto: acervo Sílvio Crisóstomo
Nenhum comentário:
Postar um comentário