terça-feira, 14 de abril de 2020


O lado bom

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*por Claudia Queiroz
Um mês longe da rotina habitual nos faz valorizar tanta coisa, e também ajuda a perceber como o amor é indispensável ‘em tempos de cólera’, ou melhor, coronavírus. Muitos de nós precisamos recorrer às farmácias da alma para manter a saúde mental. Por isso a higiene dos bons pensamentos se faz tão importante.
Dia desses, assisti a um poema de ‘Drummond’ interpretado pela atriz brasileira Drica Moraes no Youtube, chamado “o amor bate na aorta”. Sensacional! Um dos trechos me fez suspirar, “ouço beijos que se beijam, ouço mãos que se conversam e viajam sem mapa, vejo muitas outras coisas que não ouso compreender…”. Voltei ao passado, quando lia livros de poesia embaixo de uma árvore no parque Barigui, um dos lugares mais queridos da minha cidade, Curitiba, capital do Paraná. Bons tempos, que passaram voando…
E por falar em poesia, descobri que em Londres é sucesso uma farmácia que receita versos! A dona, Deborah Alma, vende livros catalogados de acordo com o humor do ‘paciente’ ou ‘tipo de doença’. As seções foram montadas com base na antologia de poesia que ela mesma editou em 2016 e, segundo esse estudo, poemas podem curar necessidades emocionais diversas, como amor, envelhecimento, tristeza, luto, euforia demasiada, stress, exaustão, tensão, coração partido… Lá, os visitantes encontram alívio para algumas de suas doenças emocionais com essa terapia calmante, incentivo para alimentar a esperança e a alegria. Sensível, né?
Eu acredito que acessando a arte, tocamos em algo sagrado, que nos une ao divino que existe em nós. Poesia, música, literatura, pintura, desenho, escultura, dança, gastronomia e tudo o que pudermos produzir vale para explorar os sentidos e provocar ainda mais autoconhecimento.
Ao ‘conversar’ com a arte, percebi uma mistura maluca de emoções que habitam meu corpo. Coisa boa encontrar essa pausa forçada para a gente cair em si… Si, la, sol, fa, mi, ré, dó na escala de notas musicais que tento aprender a tocar no violão… Não sobra muito tempo pra treinar com os dedos e esperar fazer o ‘calinho’ necessário pra conquistar o som. Mas é o começo. Há muito o que fazer dentro de casa. Ainda mais com criança!
Algumas contadoras de histórias infantis, nas redes sociais, estão entretendo minha filha, de 3 anos. Contos sobre o lobo mau, princesas que soltam pum e outras brincadeiras nos ajudam a passar o tempo, digamos que, ‘divertidamente’. Juntas, estamos descobrindo um mundo de coisas a fazer. Nos finais de tarde, hora de começar a baixar o ritmo de folia, assistimos Sítio do Picapau Amarelo, e está sendo interessante perceber como a turminha de Monteiro Lobato é atemporal… O autor era amigo pessoal do meu bisavô. As fábulas passaram pelo meu avô e são sucesso com minha pequena, o mesmo encantamento!
Neste período de distanciamento recebi várias opções de livros em PDFs, links de museus e passeios virtuais por diversas cidades do mundo, porém ainda não consegui encaixar no meu compasso descompassado dessa rotina adaptada… Só sei que em breve começarei um novo curso de desenho, oferecido gratuitamente pela Faber-Castel e, provavelmente, lembrando da magia da clássica música do Toquinho ao fundo, imortalizada na melodia “numa folha qualquer eu desenho um sol amarelooooo…”
Tento falar de outros assuntos, apesar de toda a inquietude que toma conta de nós sempre que acessamos números, estatísticas, dados catastróficos e a queda de braço entre saúde e economia que nos deixam instáveis quanto ao término do período de contágio…. Procuro olhar para o lado bom da vida. (Aliás, este é o título de uma boa indicação de filme, assim como o que recém assisti, chamado Miss Potter).
Deus nos deu capacidade para criar muitas coisas. Inventamos novas tecnologias para facilitar tanto a vida e hoje não temos mais tempo para nada. De repente nos percebemos escravos do celular, do controle remoto da TV, abduzidos por horas intermináveis de navegação virtual em frente ao computador, enfim, vivemos quase que ‘respirando por aparelhos’. Pensamos saber o destino que queremos alcançar, mas nos esquecemos de traçar os caminhos das rotas a seguir. Muitas vezes esta é a parte mais bonita da viagem!
Só sei que a dor ensina, entretanto, o amor consolida a vida que queremos viver. Pense nisso, pois no medo é que não podemos confiar. Acredite na força da natureza. Apesar de tudo, essa quarentena veio em missão de paz. A paz e a transformação que o mundo espera que você encontre (dentro de você). Exercite mais ‘abraços quentinhos’ em casa. Crie laços que enfeitam sua alma. Este é o remédio, o segredo mágico de toda receita de superação.
Claudia Queiroz é jornalista.

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