segunda-feira, 2 de agosto de 2021

 

Já estamos chegando?

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*por Claudia Queiroz

Certo dia, passeando de carro em Curitiba, passei pela praça do Expedicionário com a filhinha, na época com 3 anos de idade. Mostrei o avião que fica bem ao centro e contei que ele foi usado durante uma guerra…

Ela me perguntou o que era guerra. Expliquei que uma espécie de luta com muitas mortes envolvidas, onde os mais fortes vencem. Em outras palavras, uma briga baseada em influência, poder e dinheiro.

Ela respondeu:

– Coitadinho deles!

Foi profundo ouvir minha filha lamentar algo tão absurdo como tirar a vida de inocentes por influência, poder e dinheiro. Quantos pais foram roubados das próprias famílias? Quantas mães aflitas? Sem pensar nas dificuldades todas enfrentadas por quem viveu a relação direta e real na pele. Muitos de nós conhecemos histórias tristes desta época…

Deixei a frase dela decantar por um tempo. E fiquei pensando em que momento uma criança cresce e acha isso normal? Deletar pessoas? Quem teria esse direito, senão Deus? Quando a bondade de um coração puro é dominada e convencida pelos truques do ego?

Política e guerra funcionam para coisas muito parecidas. Usam pessoas para manter planos de rota e alcançar objetivos. E quanto à fragilidade da vida, de quem a gente torce para não morrer? Uns são melhores que outros? Isso nunca fez sentido pra mim… Nem em filme de guerra, tampouco numa pandemia. Há sempre duas faces da mesma moeda, certo?

A filhotinha me lembrou disso mais uma vez. Todos nós temos histórias, versões e seguramos convicções para defender pontos-de-vista. Construímos nossas vidas com base nas experiências sentidas e interpretamos as próprias verdades, geralmente sem orientação. Por isso é tão importante prestar atenção nas crianças. Elas refletem o ambiente em que vivem.

A cada geração, uma evolução acontece. Filhos podem ser pais melhorados, se houver intencionalidade na educação deles, uma vez que aprendem mais com exemplos do que com conceitos verbais. Do contrário, crescem mantendo crenças e dores da família, por não romperem com a obediência cega…

No mundo adulto, quanto do que vivemos é a reprodução do que somos levados a fazer sem pensar? E a velocidade do tempo, no excesso de compromissos, metas, ritmos que nos automatizam?

Fazemos parte de um fluxo natural de correntes e forças ocultas. Ainda nos falta coerência plena acerca de escolhas e consequências.

Recessão, estagnação e expansão

Ciclos de incertezas sempre acontecem e nos fazem olhar para o que verdadeiramente importa. Ninguém se supera sem desafios, problemas e instabilidades. Damos um passo de cada vez, porém estudamos a história de muitos séculos em minutos. Só que levaram anos para acontecer!

Colocando a retrospectiva em ação, percebemos diversos momentos claramente definidos pela recessão, estagnação e expansão, como o que estamos enfrentando agora. No século XV, durante o Colonialismo, em busca de ampliar territórios e com a desculpa de evangelizar os povos, a época ficou marcada pela revolução agrícola, com o desenvolvimento de novas técnicas para plantio e colheita. Em seguida, veio a Revolução Industrial, pressionando o Estado a ampliar matérias-primas e novos mercados. O darwinismo social imperava…

Entre 1871 e 1914, período chamado Belle Époque, guerra e paz contribuíram para o surgimento da cultura cosmopolita. Novas formas de pensar com a tecnologia derivada da produção em série, consagrando uma Era de ouro até o início da Primeira Guerra Mundial. Depois veio a Segunda, e aqui estamos imaginando um efeito colateral para a humanidade neste cenário de realidade virtual intensa em meio à pandemia por Covid-19.

Que venha logo a bonança! Dizem que depois da tempestade ela sempre chega. Experimentamos a imersão da convivência intensificada em família, com relações sociais limitadas, redução de consumo, atividades profissionais reformuladas, saúde física, mental e emocional postas à prova e liberdade de expressão potencializadas…

Tirando o imediatismo das bobagens apressadamente ditas ou postadas, acredito que o efeito colateral positivo desta transformação, na qual estamos sendo lapidados desde o início de 2020 pelo coronavírus, é o da consciência. A mesma que faz uma criança compartilhar o lanche com outra que ela nem conhecia ou lamentar quando alguém se machuca no parquinho… Empatia, reciprocidade, compaixão, resiliência e outros tantos valores estão germinando no solo fértil do coração de quem não aguenta mais sofrer. Se isso vai acontecer? Só o tempo poderá responder (pela boca dos nossos filhos). A infância é capaz de nos curar de todos os males. Consulte uma criança regularmente.

Claudia Queiroz é jornalista.

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