sábado, 18 de setembro de 2021

 

Toque o céu infinitas vezes antes de morrer

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*por Claudia Queiroz

Encontrar a própria essência e acessar talentos para ter prazer na vida é uma das tarefas mais desafiadoras que conheço. Sem estímulos de amor ou dor, ninguém aprende absolutamente nada. E deixando de interpretar as experiências vividas, restam apenas lembranças… Uma espécie de conhecimento vazio, se é que podemos classificar assim.

Talvez por isso é que toda história precise de uma boa dose de emoção pra tocar o “sino do coração” e fazer sentido. No divã das próprias descobertas acessamos o céu, sem que para isso nos sejam exigidos grandes doses de esforço.

Quando fazemos algo que nos dá prazer, as horas passam sem que sejam notadas. E por que? Porque faz parte da coleção de coisinhas especiais que enchem a nossa alma. Que tal listar algumas das que vibram em você?

Me inspirei neste texto logo após minha filha, com apenas 5 anos de idade, soletrar “SOUL”, palavra em inglês que significa alma. Estávamos assistindo pela milésima vez ao filme da Disney, com esse nome, há pouco. Aliás, uma boa dica para quem curte animações com mensagens… Nele, a personagem principal procura seus propósitos de vida para “merecer nascer” no planeta Terra e descobre certas delícias suspirosas, como o docinho de um pirulito, a suavidade de uma pétala de flor caindo da árvore, o sabor da pizza, a mágica transformadora do fio com a agulha num botão, uma música lindamente cantada pelo artista no metrô, a diversão do vento tocando seu corpo emprestado…

E assim como ela, existem diversas “coisinhas” que também mexem comigo. Cheiro de pão quentinho saindo do forno, texturas, aromas, a brisa do verão, o ar fresco de outono, o universo submarino, um bom jazz, revoadas de pássaros, o incrível degrade de pôr do sol, encontrar onde nasce a lua, meu marido tocando piano, a filhinha piscando, sorrindo ou descobrindo tudo o que consegue, uma conversa boa com quem amo, chorar de rir com minhas irmãs, abraços quentinhos, surpresas, dentre tantas outras… Mas hoje minha filha soletrou uma palavra pela primeira vez! Além disso, uma palavra que eu amo?! Estou tão feliz que até toquei as estrelas!

Quando algo assim acontece, nosso corpo se enche de hormônios de satisfação. A vontade é de abraçar, pular, dançar, …, só porque ficamos felizes.

A ciência explica

Neurocientistas dizem que quando fazemos algo por alguém, sem esperar nada em troca, por puro prazer, liberamos ocitocina. Esta é a mesma substância que une mamães e bebês durante a amamentação. Laços invisíveis nos ligam ao sagrado e, por empatia ou reciprocidade, não sei, quem presencia cenas como esta são agraciados igualmente.

Isso nos faz pensar que se pudéssemos ouvir os altos e baixos da nossa vida, dentre tantas notas desafinadas que experimentamos, regeríamos a orquestra única da própria existência. O detalhe é que o desenho destas notas tocadas em escala, representam um ziguezague ritmado, que traduz o pulsar do coração.

Uma paciente que tentou suicídio, certa vez contou em entrevista que tatuou os batimentos cardíacos no punho para se lembrar dos melhores e piores momentos em que viveu, compreendendo que este era o ritmo da vida. A oscilação desarmônica entre euforias e depressões, que quase virou um travessão, com seu fim.

Todos superamos adversidades e descobrimos que amadurecer exige boa dose de lapidação diária. Ganhamos conhecimento e perdemos vitalidade com o tempo. São os ciclos da natureza. Os mesmos que ousam colocar para fora imperfeições nas frutas, que podem estar apodrecendo, só para nos lembrar do prazo de validade de todas as coisas.

Por isso, aproveitar o dom, em forma de talento, para curtir a vida, é o mínimo que Deus espera de cada um de nós. Nada mais vale no extrato das emoções. O resto não nos pertence. Então sinta, vibre, ouça os sinais da sua essência, entregue-se a isso e experimente o estase de ser único.

Claudia Queiroz é jornalista.

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