Acesso à alfabetização para jovens e adultos abre novas perspectivas de vida e cidadania
Da Redação - Agência Belém de Notícias - 08/09/2016 08:38
Benedito Costa, 42 anos, tem um currículo invejável. Formado no curso de História, ele já concluiu uma especialização, um mestrado na Universidade Estadual do Pará (Uepa) e em 2017 concluirá o doutorado na Universidade Federal do Pará (UFPA). Uma história de sucesso que foi sendo construída aos poucos pelo garoto que foi alfabetizado tardiamente em Mocajuba, pequeno município no Estado do Pará, e que aos 16 anos decidiu se mudar para a capital do Estado, Belém, ainda com o ensino fundamental incompleto.
“Por muitas vezes eu pensei em desistir. Eu queria ter as minhas coisas, o meu trabalho e queria isso rápido. Mas era impossível ter as coisas sem o estudo”, relembra Benedito, que só conseguiu concluir o ensino fundamental através da Educação de Jovens Adultos (EJA) aos 23 anos, após repetir por dois anos a terceira etapa. “Eu sentia muita dificuldade porque eu tinha que trabalhar além de estudar”, conta ele, que foi embalador de supermercado, ajudante de pedreiro, e serviços gerais em clínica médica e hotel.
Com o ensino médio finalizado em 2003, Benedito resolveu passar para o outro lado da sala de aula. De aluno, ele se tornou professor do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (Mova). “Eu sempre coloquei na minha mente que eu deveria ser professor e retribuir para as pessoas o que eu passei. Eu sabia que precisava me formar para voltar e trabalhar na EJA, que é uma metodologia que é válida, que resgata a esperança das pessoas”, afirma.
E em 2010, após terminar a graduação, lá estava Benedito fazendo parte da equipe técnica da EJA, onde está até hoje, realizando o sonho que tinha idealizado lá atrás. “A pessoa que por algum motivo precisa atrasar sua alfabetização sofre por vários aspectos. O primeiro é que ela não pode usufruir de direitos básicos como o de um emprego que pague mais que um salário mínimo. Outro problema que atinge grande parte das pessoas que precisam abandonar os estudos é vontade para voltar. Elas se sentem desestimuladas”, explica Benedito, que sentiu na pele tudo isso, e nesta quinta-feira, 8, tem motivação dobrada para celebrar o Dia Mundial da Alfabetização.
O professor da EJA, Erick Moraes Gomes, que trabalha hoje com Benedito Costa e foi também o primeiro formador dele na época de seleção dos alfabetizadores do Mova, enxerga a educação como um elemento transformador e essencial. “Às vezes por conta da situação em que a pessoa se encontra, ela acha que não vai conseguir. As barreiras são grandes, mas tudo se torna possível se você quiser. Foque, não desista, lute por aquilo que você acredita. É possível transformar uma vida pela educação”, ressalta.
Município Livre do Analfabetismo em 2014
Belém recebeu em 2014 o selo de Município Livre do Analfabetismo, concedido pelo Ministério da Educação (MEC) aos municípios que atingiram a marca de mais de 96% de alfabetização entre jovens e adultos. Entre 2013 e 2014 cerca de 5.900 pessoas foram alfabetizadas pelo Mova no município.
Um dos projetos que corroborou estes resultados positivos foi a chegada do Mova às ilhas Sul e ilhas do Mosqueiro, em 2013 – são cinco turmas ao todo, que estão localizadas no Aurá; na ilha Grande; duas no Combu; e uma na comunidade Mari Mari, em Mosqueiro –, onde 300 pessoas já foram alfabetizadas. Em 2015, foi a vez da EJA chegar às ilhas, garantindo a continuação dos estudos para aquelas populações.
Socorro Aquino, professora e diretora de Educação da Secretaria Municipal de Educação (Semec), comemora as conquistas do município nos últimos anos. "É muito gratificante quando a gente tem o prazer de ver uma pessoa que conclui o Mova e dá um depoimento dizendo ‘que bom que hoje eu sei ler, escrever o meu nome. Consigo pegar um ônibus sozinho, ler uma receita médica’. E depois de passar por todas essas dificuldades, eles se sentem cidadãos, pois têm condições de viver em sociedade, ler, escrever, saber o que está acontecendo, viver com dignidade”, afirma.
(*Com colaboração de Alberto Dergan)
Texto: Kennya Corrêa
Foto: Eliza Forte / Uchôa Silva-Agência Belém
Coordenadoria de Comunicação Social (COMUS)
Foto: Eliza Forte / Uchôa Silva-Agência Belém
Coordenadoria de Comunicação Social (COMUS)
Nenhum comentário:
Postar um comentário