sábado, 27 de outubro de 2012

A CEDAE na Comissão de Valores Mobiliários (CVM)


Cedae prepara venda de ações que

 pode chegar a R$ 3 bilhões

A Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) deu entrada nesta quinta-feira com o pedido de abertura de capital na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A companhia passará a ter pelo menos 25% de suas ações ordinárias (ON, com voto) negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O valor que será levantado na Oferta Pública Inicial (IPO, na sigla em inglês) de ações da empresa só será conhecido após a estatal contratar bancos para coordenar a oferta e sondar os investidores. Nas contas do mercado, o IPO pode ficar na faixa de R$ 3 bilhões, considerando que a companhia tem ativos de R$ 13 bilhões.


O destino dos recursos que serão captados pela companhia são incertos. Procurados, o governo do Rio e a Cedae não informou se o dinheiro vai ser destinado para a melhoria dos serviços da empresa ou para o cofre do estado. Existe a possibilidade de o bolo ser fatiado para os dois destinos. Em março deste ano, no entanto, a assessoria de imprensa do governador Sérgio Cabral havia informado que o dinheiro iria para o cofre do governo, “que poderá ou não aplicá-lo na empresa”.


Segundo comunicado da Cedae, a empresa vai fazer ofertas de ações primária e secundária para investidores locais e estrangeiros. Na oferta primária, a companhia emite novas ações que são vendidas para investidores. O dinheiro da venda vai para o caixa da empresa e pode ser usado para investimentos ou abatimento de dívidas. Na oferta secundária, o controlador da companhia — no caso, o governo do Rio, que tem 99,99% das ações da Cedae — vende as ações que possui na estatal. Esse dinheiro não vai para o caixa da companhia, e sim para seu controlador, o governo.


Nas eleições municipais no Rio, candidatos a prefeito chegaram a defender a municipalização parcial da Cedae como saída para melhoria dos serviços. A ideia foi lançada pela deputada Aspásia Camargo, candidata do PV, para quem “o Rio é refém da Cedae”. O próprio prefeito, Eduardo Paes, considerava assumir o saneamento da Barra da Tijuca e Jacarepaguá se reeleito. A Prefeitura já é responsável por parte do sistema de esgoto em parte da Zona Oeste.


Para Paulo Canedo, coordenador do Laboratório de Hidrologia da COPPE/UFRJ e consultor do Banco Mundial para saneamento, mais dinheiro não seria a solução para os problemas de serviços da Cedae. Segundo ele, o problema da companhia, como de outras estatais do setor, está na gestão.


— As companhias de saneamento declaram que desperdiçam, em média, 50% da água que produzem na hora da distribuição, seja por vazamentos ou outras razões. São números vergonhosos. Na Cedae, essa estatística estava em 36%. É muita água desperdiçada. Em Cingapura, isso não chega a 6% — explica Caneado.


Segundo dados do Censo de 2010, do IBGE, 13,5% dos domicílios do estado do Rio não têm abastecimento de água, o que representa 583 mil unidades. E mais 15,3% não têm acesso à rede de esgoto, ou 682 mil domicílios.



— Os números de esgoto são piores do que as estatísticas mostram. Parece que 84% da população do Rio tem seu esgoto recolhido. Não é porque tem rede de esgoto que ele é de fato recolhido. E uma parte mínima é de fato tratado, algo como 6%. E tratado sem qualidade, uma das piores — acrescenta o especialista.


Operação pode ser finalizada apenas em 2013


Com o registro da oferta na CVM, a autarquia terá 20 dias úteis para analisar o pedido. Esse prazo pode ser prolongado se a empresa deixar de submeter algum documento exigido pela CVM. Depois, a empresa vai lançar o edital da oferta pública. Haverá ainda um prazo para reservas das ações pelos investidores. Desta forma, a Cedae só deve efetivamente estrear na Bolsa em 2013.


Com a abertura de capital, as ações da Cedae passam a aser negociadas no Novo Mercado, segmento da Bolsa destinado a empresas com um padrão elevado de governança corporativa.
 

Segundo analistas, o momento atual é ruim para empresas venderem suas ações na Bolsa. Investidores têm evitado o mercado de ações, que vive um período de volatilidade e perdas por causa da crise europeia. Mas como a abertura de capital da Cedae tende efetivamente ocorrer no próximo ano, a estatal pode encontrar um mercado mais interessado por aplicações de risco.


Bolsa já tem três estatais de saneamento


Existem atualmente três empresas estatais de saneamento na Bolsa. Copasa (Minas Gerais), Sabesp (São Paulo) e Sanepar (Paraná). Segundo Erick Scott, analista da SLW Corretora, são empresas que costumam se dar bem na Bolsa em momentos de crise.


— Europa pode quebrar que ninguém vai deixar de usar serviço de saneamento, que é básico. É um mercado que a demanda dificilmente cai — afirma Scott.


Desde 2007 a Cedae passa por um processo de reestruturação para abrir seu capital. Presidida por Wagner Victer
(foto), funcionário licenciado da Petrobras e ex-secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do governo Anthony Garotinho, a companhia chegou a registrar um lucro de R$ 1,4 bilhão. Desde então, os resultados têm sido cada vez menores. O lucro recuou para R$ 64,2 milhões em 2010. No ano passado, a Cedae registrou um prejuízo de R$ 188 milhões.

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