Quarta de cinzas »Frevo até o sol raiar no encerramento do carnaval do RecifeÚltima noite da festa foi dedicada ao frevo, com shows de Moraes Moreira, Almir Rouche, Alceu Valença e Elba Ramalho
Publicação: 05/03/2014 09:53 Atualização: 05/03/2014 11:00
A demora de mais de 40 minutos para o início do orquestrão dispersou os foliões, que ainda tiveram de suportar uma chuva fina de pouco mais de cinco minutos. Os últimos acordes, para um seleto e disposto grupo, soaram por volta das 6h. Impossível não repetir algumas músicas. Última a se apresentar antes do orquestrão, Elba reprisou Praieira, Arrea a lenha e Leão do Norte, já entoadas por Almir, e Morena tropicana e Me segura senão eu caio, por Alceu. O Hino do Elefante de Olinda foi cantado pelos três.
Em termos de empolgação, público e artistas demonstraram sintonia clássico após clássico, seguidos em uníssono por milhares de pessoas. Bonito - aliás, indescritível - ver o quase desespero dos foliões ao acompanhar aos gritos Almir Rouche cantar Arrea a lenha, música obrigatória nos desfiles dele no Galo da Madrugada. E tantas mãos ao alto durante Morena tropicana, durante o show de Alceu. E o corpo de baile - tão espontâneo quanto suado - formado em Frevo mulher, na voz de Elba.
A abertura da noite ficou por conta do DJ Dolores e a Orquestra Santa Massa. O baiano Moraes Moreira fez show ao lado do filho Davi para um Marco Zero já cheio que veio a lotar e invadir as ruas no meio do show seguinte, de Almir. Moraes fez bonito e agradou. Deu roupagem nova a algumas músicas, investiu em guitarradas e entrou no clima da terra. Frevo nº 1, de Antônio Maria, e Maracatu atômico, de Jorge Mautner, famoso por aqui na versão de Chico Science e Nação Zumbi, foram algumas das escolhidas. Dele, Festa do interior, Sintonia, Eu também quero beijar, entre outras bem-recebidas.
Aniversariante da noite, Almir Rouche agradeceu várias vezes pelo presente de 45 anos: voltar a tocar no palco principal do carnaval recifense, após mais de dez anos. Os parabéns foram puxados com um pouco de nervosismo e muita emoção pela filha, Bianca, de 13 anos, com quem fez dueto no Hino do Elefante de Olinda. O pernambucano abriu o show com alguns frevos de bloco, mas logo emendou em frevos de rua. Relembrou os tempos da Banda Pinguim, com Recife maracatu, Arrea a lenha e Nas ondas do desejo, e não deixou ninguém ficar parado. Merece voltar.
Nos palcos que tanto conhece, Alceu Valença foi o que mais teve coragem em fugir do frevo e investir em cirandas e maracatus, mas sem tirar a hegemonia do gênero musical escolhido como homenageado do carnaval 2014, ao lado do multi-artista Antonio Nóbrega. As obrigatórias Voltei, Recife, Beija-flor e Vampira não ficaram de fora.
Elba, como de praxe, esbanjou simpatia. Durante a apresentação, ao ver uma fã no canto do palco para tirar foto, convidou-a para subir e posou para p retrato. Com a intimidade já conhecida com os ritmos do carnaval pernambucano, prestou homenagem a Chico Science, ao sanfoneiro Dominguinhos, falecido em julho do ano passado, ao compositor Carlos Fernando, falecido em setembro, e aos amigos J. Michiles e Alceu Valença, que tocou antes dela. O repertório de sucessos incluiu Sonífera ilha, do grupo paulista Titãs, País tropical, de Jorge Ben Jor, e Não quero dinheiro, de Tim Maia. Tudo com pegada regional, claro, e destaque gritante para o frevo de bloco. "Quanto tempo eu tenho? Dá pra tocar duas músicas?!", perguntou, perto do fim. "Estou louca pra tocar frevo de bloco, mas vocês preferem pauleira, né?". Soltou Arrea a lenha, Eu só quero um xodó (de Dominguinhos) e Frevo mulher.
O atraso do orquestrão reduziu o público a menos da metade. Ainda assim, milhares acompanharam os 200 músicos regidos pelo Maestro Spok e com participações de Claudionor Germano, Maestro Duda e Maestro Forró, entre outros. O arrastão do frevo saiu por volta das 5h30 e só parou de tocar depois das 6h, sob os primeiros raios de Sol já a anunciar a contagem regressiva para o próximo ano.
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