Estudante brasileira é morta por paramilitares na Nicarágua
AFP/Arquivos / Marvin RECINOSParamilitares limpam o chão em frente a um grafite que lê "Ortega vendedor da pátria" no bairro de Monimbo, em Masaya, Nicarágua, em 18 de julho de 2018, após confrontos com manifestantes antigoverno
A estudante brasileira Raynéia Gabrielle Lima morreu nesta terça-feira (24) na Nicarágua, atingida por tiros supostamente disparados por paramilitares em meio à onda de violência que atinge o país e que deixou quase 300 mortos em três meses.
Outras quatro pessoas morreram em Jinotega, 162 km ao norte de Manágua, em uma operação de forças combinadas da Polícia e paramilitares entre a noite de segunda e esta terça, informou o Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh).
As ações das forças pró-governamentais, que prosseguiam na terça em Jinotega, deixavam muitos feridos, disse à AFP o ativista do Cenidh Juan Carlos Arce.
Raynéia, 32 anos, cursava o último ano de Medicina e foi baleada quando dirigia para casa no sudoeste de Manágua por volta de meia-noite, informou à AFP o reitor da Universidade Americana (UAM), Ernesto Medina.
O crime aconteceu no complexo residencial Lomas de Monserrat, onde, segundo testemunhas, paramilitares atiraram contra seu carro.
A estudante foi levada pelo namorado para o hospital, mas os "ferimentos eram fatais" e ela faleceu nas primeiras horas da manhã, indicou Medina.
Uma bala perfurou o fígado e a jovem morreu quando era atendida no Hospital Militar em Manágua, de acordo com informações do canal 100% Noticias.
Raynéia, que morava há seis anos na Nicarágua, nasceu em Pernambuco e fazia estágio no hospital da Polícia Roberto Huembes, indicou Medina, que era um de seus professores na UAM.
O governo brasileiro reagiu por meio de nota do Itamaraty, expressando sua "profunda indignação e condenação à trágica morte ontem, 23 de julho, da cidadã brasileira Raynéia Gabrielle Lima (...) atingida por disparos em circunstâncias sobre as quais está buscando esclarecimentos junto ao governo nicaraguense".
Também exigiu que se façam os esforços necessários para identificar e punir os responsáveis deste "ato criminoso".
"O governo brasileiro torna a condenar o aprofundamento da repressão, o uso desproporcional e letal da força e o emprego de grupos paramilitares em operações coordenadas pelas equipes de segurança", acrescenta o comunicado.
A presidente do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh), Vilma Núñez, declarou que a estudante "foi alvejada sem nenhuma razão" e disse que a organização vai realizar investigações sobre o incidente.
- Polícia nega responsabilidade -
A Polícia negou responsabilidade e atribuiu a morte da brasileira a um vigilante privado.
"Um guarda de vigilância privada, em circunstâncias ainda não determinadas, efetuou disparos com arma de fogo, um dos quais atingiu (Raynéia), provocando-lhe ferimentos", segundo um comunicado da Polícia.
O autor dos disparos "está sendo investigado para o esclarecimento do fato", acrescentou.
Os protestos, que começaram em 18 de abril contra uma reforma da Previdência Social, levaram ao pedido de impeachment do presidente Daniel Ortega e de sua esposa e vice-presidente, Rosario Murillo.
Na segunda-feira, Ortega, de 72 anos, disse à emissora Fox News que planeja completar seu mandato até 2021, apesar dos pedidos de renúncia feitos pela oposição.
"Alterar as eleições geraria instabilidade, insegurança e pioraria as coisas", declarou Ortega.
No entanto, o vice-presidente americano, Mike Pence, pediu nesta terça-feira ao presidente nicaraguense que ponha fim à violenta repressão e convoque eleições antecipadas.
"A violência patrocinada pelo Estado na Nicarágua é inegável. A propaganda de Ortega não engana ninguém e não muda nada", escreveu Pence no Twitter, estimando o número de mortos em "mais de 350" e responsabilizando o governo pelos óbitos.
"Os Estados Unidos pedem ao governo de Ortega que ponha fim à violência AGORA e celebre eleições antecipadas — o mundo está de olho!", emendou.
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