PESQUISA
Estudo da Prefeitura de Belém apresenta perfil de mulheres atendidas por abrigo municipal
08/03/2019 17:36
“As pessoas não denunciam por medo e vergonha. A mulher tem que abrir a boca, porque tem um ditado que diz que quem cala consente. Não podemos nos calar, temos que falar e fazer com que o agressor venha a ser punido”. O relato é da doméstica D.C.P., de 45 anos, que prefere manter nome e imagem em sigilo.
Depois de meses sofrendo agressão dentro da própria casa pelo ex-marido, a doméstica resolveu denunciar e logo foi acolhida no Abrigo Municipal Emanuelle Rendeiro Diniz, da Prefeitura de Belém. A vítima se lembra dos momentos de sofrimento. “Eu sofri ameaça. Ele falou que ia tirar a minha vida, porque eu não queria mais viver com ele”, contou. Ela foi atendida pela rede de assistência do município, que acolhe mulheres vítimas de violência, com o objetivo de contribuir para um melhor atendimento na rede.
Pesquisa - Nesta sexta-feira, 8, Dia Internacional da Mulher, a Prefeitura de Belém divulgou estudo com o perfil das mulheres acolhidas pela Casa Abrigo Emanuelle Rendeiro Diniz (Caerd). A pesquisa foi realizada pelo Setor de Vigilância Socioassistencial (Sevisa), núcleo da Fundação Papa João XXIII (Funpapa) e abrangeu os anos de 2008 a 2017.
Nesse período de 11 anos, 490 mulheres foram atendidas no local. A pesquisa mostrou que o maior quantitativo de acolhidas apresenta faixa etária entre 18 e 30 anos de idade.
O estudo identificou vários perfis e dados, como o tipo de violência sofrida, local onde ocorreu, o motivo, tempo médio que a acolhida permaneceu no abrigo e o destino pós-acolhimento. Também foram apresentados os perfis dos acompanhantes das vítimas, no caso filhos, e o perfil dos agressores.
Entre os dados analisados está a tipologia da violência, que no período analisado, atestou que os casos de violência psicológica são o de maiores incidências. O estudo mostrou também que em 56% dos casos, a violência sofrida pelas mulheres acolhidas costuma ocorrer nas residências das vítimas. A pesquisa apresentou as motivações que levam as praticas de violência contra as mulheres acolhidas pelo abrigo, o ciúme é o maior motivador das agressões.
Realidade - Segundo a coordenadora do Sevisa, Célia Borges, o estudo mostra a realidade das mulheres atendidas. “Essa pesquisa foi diferente, porque foi feita em cima do próprio atendimento, do perfil e realidade de todas as mulheres que passaram pelo abrigo, nesses nove anos. A questão da violência doméstica perpassa por todas as classes sociais, níveis de instrução e por todos os níveis de renda”, detalhou.
A presidente da Funpapa, Adriana Azevedo, destacou o trabalho do município no atendimento as mulheres vítimas de violência. “A Prefeitura, por meio, da Funpapa faz o levantamento dos relatórios, as tabelas e os dados. Tudo isso feito pela equipe do Sevisa, traçando ao longo desses anos esse perfil, a idade dessas mulheres, a cor, dados que vão desenhando para nós quais políticas públicas são necessárias”, explicou a presidente.
“A Caerd é um lugar de amor, acolhimento, renovação, de trazer para essas mulheres a possibilidade de se olharem e se amarem. Nós fazemos um trabalho muito especial, com psicólogos, pedagogos, assistentes sociais, educadoras, que acolhem a história de cada mulher”, destacou Adriana.
O espaço Emanuelle Diniz é um local de acolhimento e proteção, gerido pela Prefeitura de Belém, que atende a mulheres em situação de violência doméstica e ameaçadas de morte. Elas são encaminhadas pela Divisão Especializada no Atendimento à Mulher (Deam). O local existe desde 1997 e funciona em caráter sigiloso, visando contribuir para o atendimento integral das atendidas, seus filhos e familiares.
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