sábado, 4 de julho de 2020

Criatividade sem fim

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*por Claudia Queiroz
Cabeça de criança carrega infinitas possibilidades imaginárias. Dia desses minha filha de 3 anos, com 1 metro de altura e apenas 16kg, tentou construir uma piscina profunda no chão da sala, enquanto eu tentava trabalhar no andar de baixo, no meu escritório. Ela estava com o pai, por isso não me preocupei. Mas ele havia adormecido no sofá, assistindo TV…
Enquanto isso, a arteira, encheu com água, várias vezes, uma garrafinha rosa, que deve ter capacidade para uns 300ml, e jogou na área do chão escolhida por ela para a grande diversão. Detalhe: em desenhos animados essas ‘proezas’ acontecem…
Passou correndo por mim, sem roupa ou qualquer menção ao plano infalível do momento. Subiu as escadas do apartamento, equilibrou-se usando a mesa que fica ao lado do sofá, com uns 70 cm de altura, como trampolim  e…. Pulou!
De baixo ouvi  o estrondo. E como mãe, atenta ao tom do grito que veio na sequência do barulho, sabia que “coisa boa não era”.
Segundos depois me deparei com minha criança estatelada no chão. Meu coração acelerou. Acho que havia uma tropa de anjos da guarda em torno dela, amortecendo a queda, porque apesar de ter batido a cabeça, nenhum arranhão ou hematoma aparente. Apenas susto e desilusão. O mundo real às vezes dói muito, e naquele instante ela estava começando a descobrir isso.
O choro sentido e magoado demorou a passar. E, aos soluços, ouvi dela a promessa de não fazer isso de novo, porque o chão é muito duro. A dor e o susto devem ter ficado registrados nela como sinal de alerta.
Olhando para a cena, parecia que havia um alagamento por cano rompido ou teto descoberto. Era muita água espalhada! O escorregão significou entre tantas coisas, a frustração pela falta de capacidade para desempenhar um planejamento estratégico.
Logo que tudo passou, já acolhida, seca, abraçada em mim e um pouco mais calma, a indignação de não poder correr nem pular em lugar nenhum… Afinal, dentro de casa parece que tudo ficou perigoso de repente. Palavras dela!
Neste momento me coloquei no lugar da filhinha, acostumada a ter liberdade de ação, de curtir brincadeiras ao ar livre e todas as atividades pré-quarentena…
Estressada, está aprendendo com a dor algumas lições, já que não tem maturidade para compreender ainda as consequências dos próprios impulsos. Foi então que me dei conta do repertório de descobertas que está por vir.
Ela precisa experimentar para aprender. Nem sempre será possível conter antes. Mas como mãe, só me cabe ficar atenta, porque ela vai testar ainda muito mais.
Sem medo ou culpa, pais precisam deixar que seus filhos provem algumas encrencas enquanto pequenos, para crescerem fortes e preparados para esse mundão. Caso contrário, sem frustrações ou perdas nesse currículo de descobertas próprias da idade, poderão sofrer no futuro, porque foram superprotegidos. Serão adultos amputados emocionalmente. Que venham os próximos sustos então. Amém.
Claudia Queiroz é jornalista.

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