domingo, 23 de agosto de 2020

 

Gente digital, num mundo mais real

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*por Claudia Queiroz

Parece que o mundo ficou digital de uma hora para outra? Mas ao contrário desta crença, a culpa não é do coronavírus! Este processo vem acontecendo ao longo dos anos, mas só agora que a gente percebeu. Um tempo atrás, comprar a lista do supermercado pela internet parecia algo fictício. Mas eu te digo que lá na Itália, por exemplo, onde existe uma tecnologia de transmissão de dados mais avançada que no Brasil, os italianos usam um óculos de realidade virtual, escolhem os produtos nas prateleiras, interagem com personagens digitais para tirar dúvidas e fazem tudo isso sem sair de casa!!!

Na minha infância, um dos desenhos preferidos que eu assistia eram os Jetsons. Eles voavam em pequenos “carros voadores”, o pai, George, fazia videoconferência com o chefe, as escadas eram rolantes, a funcionária do lar era uma robô, carinhosamente chamada de Rose, a mãe Jane fazia as unhas em câmaras com luz violeta e secagem rápida, o filho dela Elroy era viciado em games e a filha adolescente se metia sempre em confusão, como todos os jovens dessa idade, mas isso é assunto para outro artigo.

Empresas de tecnologia estão incrementando o 5G, que permitirá videoconferências, reuniões com holografia. Sabe que poucos anos atrás foi um alvoroço um show com Elvis Presley neste formato, de holografia e projeção, com toda a banda que ele tinha, dando a impressão de que ele “não morreu” de fato…

O coração de toda a transformação que estamos vivendo hoje em dia está na tecnologia. Num futuro próximo, até mesmo a escola não vai mais exigir que alunos decorem tabuadas, para fazer cálculos ou qualquer trabalho em que as máquinas podem realizar. Ao que tudo indica, elas começarão a fazer papel de máquinas apenas e caberá a nós, humanos, termos criatividade para sobreviver a tantas mudanças, oferecendo soluções de consumo, com mais consciência, menos desperdício de produtos, de dinheiro, de tempo….

Por isso, vamos substituir a palavra crise pela oportunidade. Ao invés de reclamar da falta de dinheiro, da família o tempo todo junto, do home office improvisado na sala, no quarto, da divisão do computador com os filhos e assim por diante, que tal acreditar que nada mais será como antes e que muitas das empresas que estão demitindo não irão mais contratar? Que os coworkings, espaços compartilhados de negócios, vieram para ficar e que, ao que tudo indica, trabalharemos em regime misto, compartilhando arquivos nas nuvens, independentemente do local onde estivermos.

Já imaginou fazer o seu trabalho lá do hawaí ou das Maldivas? Dizem que essa nova Era permite velocidade democrática, gestão do tempo, entusiasmo… A criatividade é uma das características mais inovadoras, que promovem sobrevivência em tempos de mudanças profundas. Mas agora é hora de reforçar a confiança, a segurança, a credibilidade, o conteúdo produzido pelos formadores de opinião, amplamente divulgados nas redes sociais, TVs, rádios… Segurança da informação para não acreditar em fakenews e perder energia.

As pesquisas indicam que o consumidor está disposto a fazer bons negócios, mas mudou a relação dele com o tempo e com o dinheiro. Ninguém mais vai tolerar desperdício.

Segundo especialistas em mercado, existem vagas sobrando neste mundo novo profissional que está sendo desenhado e o maior desafio atualmente é encontrar profissionais com competência para desempenhar essas funções. As empresas não estão contratando por falta de capacitação e não por causa do coronavírus.

Ao que tudo indica, retomando a economia, boa parte das contratações voltam a buscar mão de obra especializada. É uma ideia equivocada creditar o caos ao vírus. Até mesmo indústrias do varejo estão mudando a configuração da área de vendas, de distribuição de produtos e descobriram atalhos mais sustentáveis. Ninguém mais quer perder tempo. Essa nova economia está nos mostrando mudanças significativas não apenas no mercado de trabalho, mas no ser humano.

O século passado revolucionou comportamentos, hábitos, processos de industrialização, disputa de força, igualdade de direitos, educação de filhos… Até a gente perceber que era preciso parar para olhar um filho crescer, mudar o comportamento dentro da família, para trabalhar melhor, compartilhando mais e competindo menos, deixando as máquinas fazerem o papel delas e voltando a sermos humanos. Perceba a volta que o tempo deu em 100 anos. Agora temos que reaprender a ser gente. E ser é mostrar valor e não preço. Até porque o mundo digital não permite mais mentiras e vantagens.

Claudia Queiroz é jornalista.

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