terça-feira, 28 de outubro de 2014

“Faltaram consideração e maturidade por parte dos meus colegas do esporte”: Ana Moser fala ao DCM



ana moser

Ana Beatriz Moser, a “Aninha”, tem 46 anos e é ex-jogadora de vôlei medalhista de bronze nas Olimpíadas de Atlanta em 1996. Participou de outras competições famosas, como os Jogos Pan-Americanos e o Campeonato Sul-Americano. Atualmente é presidente do Instituto Esporte & Educação e da ONG Atletas pelo Brasil.
No dia 27 de outubro, logo após a reeleição de Dilma Rousseff, Ana postou o seguinte em seu Twitter: “Profundamente ENVERGONHADA com o papelão de alguns atletas do meu voleibol. Espalham ódio, preconceito e falta de respeito pela democracia”.
Ela estava se referindo a colegas como Sheilla CastroLucão e Nalbert. Os três reclamaram da corrupção e da Bolsa Família que cresceu junto ao governo do PT. Lucão chegou a mandar o PT “se fuder [sic]”.
Ela falou com o DCM sobre esporte, política e falta de educação.
Ana, a que você atribiu as manifestações de seus colegas?
Eu acho que há agressividade dos dois lados. Acredito que se tivesse ocorrido o contrário, se Aécio Neves tivesse ganhado, ao invés de Dilma, as pessoas também estariam agressivas do lado do PT. De uma maneira geral, eu acho que a gente nunca participou tanto de uma decisão política quanto dessa. Isso é positivo, não é? O que é importante é ter a noção do que é a força de declarações de pessoas públicas, como são meus colegas.
Como eles deveriam se portar, então?
Não estou defendendo que não se possa ter uma opinião favorável a um lado ou ao outro, a questão é a maneira como se colocam as posições políticas. Depois das eleições, você não pode continuar com determinadas posturas como se fosse a final de um campeonato. Você se recolhe porque é um processo eleitoral democrático. A partir do momento que sai o resultado, nós continuamos num mesmo país. Quem tem o aval da opinião pública precisa saber disso. Faltou consideração e houve muito imaturidade dessas pessoas.
O que você achou do processo eleitoral como um todo? Foi boa essa competição acirrada?
O processo eleitoral tem melhorado e as pessoas não se contentam mais apenas com promessas. Elas querem entender um pouco mais e ter respostas mais concretas. Há uma evolução do Brasil nesse processo eleitoral. O resultado apertado tornou tudo mais rico para o país de uma maneira geral. Não tem como negar, neste momento, que o eleitor está mais exigente. Ele está, além de ter um preparo melhor. Estamos mais maduros. Os políticos tem que se esforçar cada vez mais para dar respostas a altura. Os governantes precisam de maior transparência, honestidade, bons projetos, continuidade, criando melhores respostas. Ser um político no Brasil está se tornando uma carreira cada vez mais exigente.
O governo Dilma precisa tomar iniciativas mais contundentes contra a corrupção, apoiando iniciativas como o Bom Senso F.C.? 
Um número grande de leis e programas em prol do esporte foi implementado nos governos do PT. O ministério do Esporte foi criado na gestão do PT. E neste período nós ganhamos o direito de realizar os dois maiores eventos do setor no mundo, a Copa, que já foi, e a Olimpíada. Se não houvesse seriedade, um deles não teria sido concretizado. Por isso, a área de esportes teve avanços com o PT, apesar de ter muito o que melhorar e avançar.
Ainda faltam organização e democratização do acesso, coisas que trabalhamos no Instituto Esporte & Educação. Estamos trabalhando para que o país avance sobretudo nas escolas públicas, oferecendo um conjunto de esportes com qualidade. Queremos um acesso para prática esportiva para a população em geral. O principal é chegar a organizar o esporte no país em um sistema nacional. Essa é a questão-chave para estruturá-lo no país, para ir além de grandes eventos como a Copa do Mundo. Precisamos abrir diálogo nesse caminho de estruturação, sem pensar só nas equipes olímpicas. Esperamos que o novo governo continue com isso.
Quais críticas você tem ao PT ou ao PSDB?
Não tenho tantas críticas aos dois partidos e acho que a visão das pessoas depende de suas referências na política. A motivação para o PSDB entrar num governo federal seria para mudar radicalmente as coisas. Por outro lado, a continuidade do PT assegura o avanço de bons programas. Falar mal de um ou do outro depende da sua visão do mundo. Não me considero uma especialista em economia apontar as diferenças entre os dois governos.
Repito que a área de esportes teve avanços com o PT, mas eu respeito o pensamento divergente a este governo. Eu tolero o argumento e o pensamento diferentes. O debate feito da maneira correta é o que leva o país para frente, não o discurso do “isso daí não presta”. Tirar o PT pela alternância do poder e manter o governo paulista não faz muito sentido na minha cabeça.
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Pedro Zambarda de Araujo
Sobre o Autor
Escritor, jornalista e blogueiro. Atualmente escreve sobre tecnologia e games no site TechTudo. Teve passagem pelo site da revista EXAME. Formado em jornalismo pela Cásper Líbero, estuda filosofia na FFLCH-USP.

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