Coalizão de direita fica à frente na Itália, mas maioria ainda é dúvida
AFP / Miguel MEDINASilvio Berlusconi, entra para votar em 4 de março de 2018 em Milão, Itália
A coalizão de direita liderada pelo magnata Silvio Berlusconi seria a vencedora das eleições legislativas da Itália neste domingo (4), mas sem obter maioria necessária para governar, segundo pesquisas de boca de urna após o fim da votação.
A aliança liderada pelo magnata e três vezes o primeiro-ministro Berlusconi, de 81 anos, e seu partido Força Itália, aliado, entre outros, dos xenófobos da Liga Norte e dos neofascitas Irmãos da Itália, alcançaria entre 30% e 41% dos votos, percentual insuficiente para governar, segundo a pesquisa de boca de urna divulgada pela emissora RAI.
Os resultados confirmaram como o maior partido da Itália a formação antissistema Movimento 5 Estrelas, com 29% a 32% dos votos.
Se as estimativas forem confirmadas, a coalizão de direita teria que negociar com outras formações para poder formar um Executivo. Por isso, o cenário ainda é muito incerto.
Seriam negociações difíceis, que fazem muitos italianos lembrarem dos anos mais duros de sua história recente, marcados por imbróglios e enganos que geraram governos frágeis, de pouca duração.
O panorama se complicou devido à controversa reforma eleitoral adotada em outubro, que favorece as alianças políticas e penaliza formações independentes, como o Movimento 5 Estrelas, que alcançaria sozinho um sucesso histórico.
"O que é certo é que o M5E será o pilar da próxima legislatura, é o resultado de anos de trabalho", comentou um porta-voz da formação, Alfonso Bonafede, à emissora La7, após saber das pesquisas.
O resultado do partido de coalizão de centro-esquerda, o Partido Democrático, liderado por Matteo Renzi, foi definido como uma verdadeira derrota. Ele teria tido entre 21 e 23,5% dos votos.
- Cautela com pesquisas -
As pesquisas devem, entretanto, ser consideradas com cautela, já que a margem de erro é de aproximadamente 4% e o complexo sistema de votação está sendo aplicado pela primeira vez.
A nova lei eleitoral combina os sistema de eleição proporcional com o majoritário, e as estimativas não permitem dar uma noção precisa da composição das câmaras do Parlamento, que têm o mesmo poder na Itália.
Segundo especialistas, para obter maioria dos assentos é preciso garantir entre 40% e 45% dos votos.
Por isso, ainda é cedo demais para saber se Silvio Berlusconi de fato não conta com a maioria suficiente.
AFP / Simon MALFATTOBerlusconi: 25 anos de direita italiana
O magnata e três vezes o primeiro-ministro de 81 anos retornou ao centro da política após ter sido inabilitado até 2019 por fraude fiscal, para impedir que os "indignados à italiana" dominem o país e para "salvar a Itália de novo", como anunciou durante a campanha eleitoral.
A campanha eleitoral foi dominada por assuntos como imigração, segurança e milionárias promessas econômicas impossíveis de cumprir, além de agressões e insultos entre militantes neofascistas e antifascistas - algo que não era visto desde os anos 80.
A Liga Norte de Matteo Salvini, com 12% a 16%, compete na mesma coalização da Força Itália de Berlusconi, com 13% a 16%, segundo a boca de urna.
A Liga de Salvini surgiu como uma formação ultra-nacionalista e eurocética, seguindo o modelo da Frente Nacional francesa de Marine Le Pen.
Uma vitória de Salvini, que prometeu a expulsão de 600 mil imigrantes e o fechamento das fronteiras, sacudiria grande parte da Europa, enquanto Berlusconi, inabilitado para o cargo, tenta tranquilizar o continente, propondo para primeiro-ministro o presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani.
Seguro de sua vitória, o antissistema M5E, que participou sozinho e se recusou a fazer alianças, apresentou antes da votação os 17 ministros "irrepreensíveis" do seu futuro Executivo e anunciou que agora se torna uma força de governo para mudar o país.
O resultado confuso abre o caminho para todos os cenários possíveis: maioria de direita, coalizão entre Força Itália e a centro-esquerda - algo difícil, de acordo com comentaristas italianos - e até uma aliança entre a Liga e o M5E, que teoricamente poderia alcançar a maioria no Parlamento.
No entanto, seus dois líderes rejeitaram esta possibilidade.
As urnas se fecharam às 23h (19h de Brasília) e os primeiros resultados oficiais devem ser divulgados na madrugada desta segunda-feira.
Em muitos colégios eleitorais, houve longas filas, em parte devido à alta participação, mas também pelo novo sistema eleitoral, que é muito complexo e difícil de entender.
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