Maduro deixa militares em alerta após denunciar ataque de helicóptero
AFP / FEDERICO PARRA(22 jun) Maduro discursa em Caracas
As Forças Armadas venezuelanas foram colocadas em alerta pelo presidente Nicolás Maduro, depois que ele denunciou um "ataque terrorista" com granadas lançado por um helicóptero como parte de um suposto plano de golpe de Estado.
A situação é uma nova escalada da violência que deixou 76 mortos em quase três meses de protestos da oposição.
Na terça-feira (27), vídeos e fotos postados nas redes sociais mostravam um helicóptero da Polícia Científica (CICPC) sobrevoando edifícios de Caracas.
Ao longe, são ouvidas detonações. Não é possível observar, porém, se artefatos explosivos são lançados da aeronave, ou se foram tiros. Segundo o governo, trata-se de um Airbus Bolkow modelo 105.
"Estou tremendo", afirmou uma mulher, enquanto gravava um dos vídeos.
Também foram divulgadas fotos do helicóptero com uma faixa que dizia "350 Liberdade", uma referência ao artigo constitucional invocado pela oposição para uma desobediência civil ao governo de Maduro.
Nas imagens, vê-se dois tripulantes. O que seria o piloto, de acordo com o governo, veste uniforme militar, e outro, está de capuz.
A imprensa também divulgou um vídeo do piloto. Segundo o governo, ele se chama Óscar Pérez, roubou o helicóptero e é inspetor aeronáutico da CICPC.
"Somos uma coalizão entre funcionários militares, policiais e civis (...) contra este governo transitório e criminoso", afirma o homem no vídeo, ao lado de quatro homens encapuzados, dois deles armados.
O homem exige a renúncia de Maduro à Presidência e a convocação de eleições gerais.
- 'Escalada golpista'
O governo afirma que, do helicóptero, foram dados 15 disparos contra a sede do Ministério do Interior, no centro de Caracas. Não há registro de vítimas.
Maduro denunciou o ato como um "ataque terrorista" e disse que é parte de uma "escalada golpista". Ele citou a "ofensiva insurrecional de fatores extremistas da direita" - uma das maneiras como costuma se referir à oposição.
"A Força Armada toda foi ativada para defender a tranquilidade. Mais cedo, ou mais tarde, vamos capturar o helicóptero e os que realizaram este ataque terrorista", destacou o presidente.
Os militares, que receberam grande poder político e econômico no governo Maduro, juraram "lealdade incondicional".
Algumas horas antes do incidente, o governante advertiu que, "se a Venezuela afundasse no caos e na violência e a Revolução Bolivariana fosse destruída, iríamos para o combate (...) e o que não se pode com os votos, tomaríamos com as armas".
Outros países reagiram. A França pediu o fim imediato das ações violentas, enquanto o Equador, aliado de Caracas, condenou o "ataque armado" e criticou o que chamou de "tentativas desestabilizadoras".
Maduro afirmou que o piloto do helicóptero trabalhou para seu ex-ministro do Interior e da Justiça Miguel Rodríguez Torres, general da reserva que se distanciou do governo e foi vinculado pelo presidente ao suposto complô.
Na terça-feira (27), antes da denúncia do helicóptero, Rodríguez Torres, que foi diretor de Inteligência do falecido presidente Hugo Chávez (1999-2013), chamou de "sandices" as acusações de Maduro, que o denunciou como um agente a serviço da CIA e de trabalhar por uma intervenção militar dos Estados Unidos.
"Os golpes são dados pelos militares na ativa. Sou general reformado há três anos, e militares reformados não dão golpes", descartou Rodríguez Torres, em entrevista coletiva.
- Trama governista?
A declaração sobre a defesa armada da revolução foi condenada pelos opositores, dos quais o presidente exigiu uma condenação do "ataque terrorista" lançado pelo helicóptero.
A coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) examinará a denúncia nesta quarta-feira (28), sem descartar que tudo não passe de uma trama do governo.
"Vamos analisar tudo o que aconteceu (...) Há pessoas que dizem que é uma armadilha, há pessoas que dizem que é uma questão real, há pessoas que dizem que os oficiais de Polícia estão realmente fartos. Seja o que for, é gravíssimo. Tudo aponta para o mesmo lugar: a situação é insustentável na Venezuela", afirmou o presidente do Parlamento, Julio Borges.
Ontem, Borges denunciou o cerco de militantes chavistas ao Legislativo, o que obrigou vários deputados a permanecerem até tarde no Parlamento. A oposição conta com maioria na Casa.
Mais cedo, militares e legisladores já haviam se confrontado, depois que os congressistas exigiram poder revistar caixas que teriam sido levadas para a Câmara, contendo documentos eleitorais.
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