quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Savio Rocha publicou em Macaé em pauta.
 
   
Savio Rocha
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A Irmandade e a Casa de Caridade de São João Batista de Macaé: entre o Sete Setembro do ano de 1867 e o Sete de Setembro de 2017. 

"O século XIX foi um tempo de transformações significativas no Brasil. Iniciadas em 1808, com a transferência da Família Real, o Brasil torna-se a sede da monarquia portuguesa. Foi durante este mesmo século que o Brasil conquistou a sua independência e foram estabelecidas sucessivas leis que resultaram no fim do tráfico negreiro e da escravatura. Neste período ocorreram grandes mudanças nos processos sociais, econômicos, políticos e demográficos. 
Estas transformações também iriam contribuir para promoção de Macaé à condição de vila; o que viria responder ao crescimento da região provocando um acelerado processo de urbanização. Assim, o advento do processo urbanístico macaense se deve ao desenvolvimento econômico iniciado na primeira metade do século XIX. 
Este mesmo século marcou a emergência de um discurso médico e o desenvolvimento da medicalização no Brasil que ocorreu com a recomendação de medidas higienistas ou sanitaristas. Tais medidas apontam para a introdução de novos elementos com o intuito de pensar novas maneiras de organização das cidades. Foi no contexto destas transformações e do processo de crescimento urbano que em Macaé seria fundada, em 1872, a Casa de Caridade pela Ordem de São João Batista de Macaé e que, desde o seu estabelecimento, procurou dar assistência aos doentes da cidade crescente e, segundo as palavras do seu principal benemérito, o Português Antonio Joaquim d’Andrade, comerciante que em Macaé se estabeleceu neste período como negociante de cuscuz , cuja atividade lhe valeu o apelido de “Cusculeiro”, foi criada a Casa de Caridade para que nela sejam “recebidos os pobres, que por sua miséria necessitarem serem medicados e socorridos”. 
Se historicamente é possível afirmar que a fundação da Casa de Caridade de Macaé teria ocorrido pelo legado do Português Antonio Joaquim d’Andrade, também é perceptível a importância e a atuação da Irmandade de São João Batista para o seu funcionamento e sua manutenção ao longo de sua existência. A fundação da instituição teria ocorrido em 22 de maio de 1872 e teve a sua origem em uma comissão formada por segmentos da elite macaense, no dia 07 de setembro de 1867, objetivando a construção do primeiro hospital de Macaé que seria dedicado às obras de caridade voltadas para os necessitados do município. 
Com relação às origens destes tipos de associações vale ressaltar que tais corporações já existiam em Portugal a partir do século XIII e, desde então, eram entidades coorporativas que dedicavam-se às obras de caridade, voltadas para seus próprios membros ou para pessoas carentes não associadas. A administração das irmandades era atribuição de uma mesa diretora, presidida por juízes, presidentes, provedores ou priores, composta por escrivães, tesoureiros, procuradores, consultores, mordomos, que desenvolviam diversas tarefas e eram renovados anualmente por meio de votação. De maneira geral, para o funcionamento de uma confraria era necessário que ela inicialmente estivesse ligada a uma igreja que a acolhesse ou que construísse a sua própria capela e também ter um Compromisso ou Estatuto aprovado. O “Compromisso” era um acordo que regulava a administração e estabelecia a condição social ou racial exigida dos sócios e também seus deveres e direitos. Dentre os direitos dos seus associados constavam a assistência médica e jurídica, socorro em momento de crise financeira, ajuda para comprar alforria em alguns casos, direito a um enterro descente para si e para os membros da família com acompanhamento de irmãos e sepultura na capela da irmandade. Estas associações refletiam a organização da sociedade vigente e também expressavam as desigualdades sociais, pois se fundamentavam em hierarquias, mas em seu interior todos eram iguais com os mesmo direitos e deveres. 
Dentro destas perspectivas e importância social das irmandades, especialmente as que atuavam no século XIX, a Irmandade de São João Batista de Macaé passou a controlar a Casa de Caridade, considerada como o primeiro hospital de Macaé, e o cemitério que fora edificado pela entidade de frente aos cemitérios das Irmandades do Santíssimo Sacramento e de Nossa Senhora do Rosário, ambos situados na Rua da Igualdade. No período de 1873 a 1943, a Casa de Caridade de São João Batista participou junto com o programa de saúde pública do combate à malaria pela medição curativa em ambulatório ou hospitalização. No ano de 1923, o seu hospital atendeu dezessete mil e duzentos e cinqüenta e três doentes, dos quais três mil e seiscentos e sessenta e quatro casos referentes à malária. Segundo relatório do Serviço Nacional de Combate a Malária, esta moléstia sempre ocupou o primeiro lugar, principalmente entre os anos de 1931 a 1938. Neste período este foi o principal problema da cidade e sendo inúmeros os casos de malária originários da própria região e oriundos das localidades vizinhas. 
A Casa de Caridade enquanto uma instituição que no passado desempenhou, e ainda cumpre, a função de representar socialmente e politicamente a sociedade macaense e da região, também tinha nos seus médicos personalidades que marcaram a história da política sanitarista macaense. Dentre estes profissionais que se destacaram pela tributação ao exercício clínico no hospital neste período, estão nomes como João Cupertino, Alfredo Backer, Julio Olivier e Ferreira Pinto. 
Coincidentemente, foi neste mesmo dia de sete de setembro, embora tenha ocorrido no ano de 1867, os membros formadores da comissão da Irmandade de São João Batista saíram a bater nas portas do povo de Macaé para pedir contribuições que seriam destinadas à construção do prédio do seu hospital. Hoje, após 150 anos, mais uma vez os irmãos de São João Batista ocupam, neste mesmo dia de 07 de setembro, as ruas da cidade para novamente pedir que saiam de suas casas e abram os braços promovendo um grande e generoso abraço para estabelecermos uma verdadeira rede de solidariedade na defesa deste nosso patrimônio de incalculável valor humanitário e, portanto, passível de ser cuidado e tratado por todos os seu filhos." 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
GOIS JUNIOR, Edivaldo. O Século da Higiene: uma história de intelectuais da saúde (Brasil, século XX). Rio de Janeiro, 2003. Tese (Doutorado em Educação Física) – PPGEF, Universidade Gama Filho. 
OLIVEIRA, Anderson José M. de. “Os Bispos e os Leigos: Reforma Católica e Irmandades no Rio de Janeiro Imperial”. Locus –Revista de História. Juiz de Fora: Núcleo de História Regional/Departamento de História/Arquivo Histórico/EDUFJF, v. 8, n. 2, 2002. 
PARADA, Antonio Alvarez. Coisas e gente da velha Macaé. São Paulo: Edigraf, 1958. 
PARADA, Antonio Alvarez. Histórias Curtas e Antigas de Macaé. Rio de Janeiro: Artes Gráficas, 1995. 2 vols. 
REIS, João José. A morte é uma festa:ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do século XIX. São Paulo:Companhia das Letras,1991. 
RUSSEL-WOOD, A.J.R. Fidalgos e filandropos: a Santa Casa da Misericórdia da Bahia, 1550-1755. Brasília, EdUNB, 1981.

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