quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Lula em BH: “Disputem comigo para ver quem ganha e quem tem melhor proposta”

Ex-presidente termina dia emocionante com ato grandioso de pré-lançamento de sua candidatura; Gleisi voltou a esclarecer: Para o PT, não há plano B
 22/02/2018 02h02

Ricardo Stuckert
Lançamento da pré-candidatura de Lula à presidência da República em Belo Horizonte, Minas Gerais
Um dia cheio de emoção, contato humano e olhos nos olhos. Foi essa a marca da quarta-feira (21) de Lula em Minas Gerais. Cheia de abraços, mensagens de esperança e lembranças vivas do incomparável legado de seus anos na Presidência da República, a viagem do ex-presidente se encerrou com um grandioso ato na capital mineira, onde foi feito o lançamento de sua pré-candidatura às eleições de 2018.
“Fui visitar um acampamento dos trabalhadores sem-terra e, depois, tive a grata satisfação de visitar uma antiga colônia de hansenianos em Betim. Pude compartilhar um pouco do meu tempo com aquela gente que, durante muito tempo, não pôde compartilhar tempo com ninguém˜, resumiu.
Aí está a chave do que diferencia Lula dos nomes que se colocam contra ele no mundo político. Na sua avaliação, o medo dos articuladores do golpe em aceitar sua candidatura vem justamente daquilo que ele mais fez em sua trajetória e que permeou a construção de seus governos e luta política: eles têm medo de ouvir a voz do povo.
“Quero que tenham vergonha na cara e respeitem o resultado eleitoral. Perdi três eleições e nunca reclamei, nunca fiz protesto. Ia para casa me preparar para outras”, resumiu. “Eu sou filho de uma mulher analfabeta que me ensinou a nunca baixar a cabeça, e por isso quero dizer aos que querem me impedir de ser candidato: tenham coragem. Aprendam a lamber suas feridas e disputem eleições comigo para ver quem ganha e quem tem a melhor proposta. Permitam que a democracia vença!”

Lula: “Estou candidato!”

Segundo Lula, o desejo dos que o perseguem é anular por completo a possibilidade de que ele seja candidato. Algo similar ao que aconteceu em 1964. “Mas golpe militar é sempre muito ruim aos olhos do mundo”, denuncia.
O “problema” que não estão vendo é que hoje Lula não é só um homem, um ex-presidente, um pré-candidato. Lula são milhões de pessoas. “O Lula incomoda muita gente, dois Lulas incomodam muito mais. Se dois incomodam, uns 60 ou 70 milhões de Lula vão incomodar muito mais!”
As tentativas de desacreditar Lula ou o Partido dos Trabalhadores aos olhos da população não são novidade. “Sempre que acham que nos destruíram, que tentam destruir o PT, nós nos reerguemos”, lembrou, citando a história de resistência e reconstrução que é símbolo desses 38 anos de partido.
Ricardo Stuckert
Lançamento da pré-candidatura de Lula à presidência da República em Belo Horizonte, Minas Gerais
“Nunca imaginei na minha vida fazer política. De repente, com vocês, criei um partido”, lembrou. “Imaginem o que é um nordestino, nascido em Garanhuns, sem diploma universitário, desacreditado pela elite brasileira, que tratava de espalhar preconceitos e boatos. Não foram poucas as vezes em que, deitado à noite com a Marisa, eu perguntava: E se a gente não der certo? E se a gente não tiver capacidade de governar? E se a gente for o fracasso que eles dizem que a gente vai ser?”
Não foi. Antes, foi a base para que tirou dezenas de milhares de pessoas da miséria. “O que me motivava era saber que eu não era resultado da minha competência. O que me motivava era saber que eu era resultado do crescimento da consciência política da nossa sociedade.”
“Eu dizia: não posso errar porque, se eu errar, esse povo pobre nunca mais levanta a cabeça para governar este país”, conta, lembrando que, desde sempre, a mídia e a oposição faziam uma torcida incansável pelo seu fracasso. “Tudo o que queriam era dizer que a elite brasileira era democrática porque tinha permitido que um peão de fábrica chegasse à Presidência, mas, coitado, não era letrado, não poderia dar certo. Eu ia passar para a História como um coitadinho.”
O que garantiu que isso não acontecesse foi o olhar sempre atento e o ouvido atencioso para o povo que o impulsionou até onde chegou.
Assim como fizeram e fazem os alunos do Prouni, Lula combateu o preconceito com uma saída inquestionável: sendo o melhor. O resultado, mais que História, virou mudança efetiva e radical na vida das pessoas, fazendo com que terminasse seus oito anos de mandato como o presidente mais popular de todos os tempos, com 83% de aprovação segundo o Ibope.
Ricardo Stuckert
Lançamento da pré-candidatura de Lula à presidência da República em Belo Horizonte, Minas Gerais
Na mesma medida em que a gratidão e a admiração no coração do povo crescia, aumentava também o ódio daqueles que nunca aceitaram que os trabalhadores e trabalhadores subissem um degrau na escala social.
“Não importa que os banqueiros tenham ganhado muito dinheiro, que as exportações tenham quadruplicado e que o país tenha deixado de ter uma dívida com o FMI para ter reservas internacionais. O que eles não suportaram foi ver o aumento de salário, a criação de 22 milhões de empregos.”
O que veio a seguir está escrito nas páginas de um golpe que tirou do poder uma presidenta legitimamente eleita e que passa pela demonização da classe trabalhadora, dos movimentos sociais e do PT. Acontece que, ao apresentar acusações com convicções, e não provas, e armarem uma absurda e injusta condenação, não contavam com a determinação de Lula e seus apoiadores em lutar para comprovar sua inocência.
“Eles estão lidando com um ser humano diferente, porque eu não sou eu, eu sou a encarnação de um pedacinho de cada um de vocês”, disse Lula. “Eu duvido que eles tenham a consciência tranquila que eu tenho. Se eu não tive coragem de com dez anos de idade roubar um chiclete no balcão, como eu ia ter coragem de roubar depois de virar Presidente da República?”
Independentemente do que aconteça na Justiça, não se pode aceitar uma decisão mentirosa, que não se baseia nos autos do processo. “Caráter, honra e vergonha a gente aprende dentro de casa com a educação!”, reitera Lula. “Eles vão ter que aprender a conviver com um inocente, uma pessoa honesta. Se estão acostumados com políticos que colocam o rabo no meio das pernas, eu digo que não tenho medo!”
E completou: “Prendam a minha carne, mas as minhas ideias continuarão!”
Ricardo Stuckert
Gleisi, Lula e Pimentel em Belo Horizonte

Gleisi: “Lula vai ser o candidato do PT e vai provar sua inocência”

Recebida com carinho e entusiasmo pelo público mineiro, a presidenta nacional do partido,  Gleisi Hoffmannfez questão de esclarecer já no início de sua fala: “Este é um ato de defesa da democracia e de Lula, mas é também um ato de lançamento da pré-candidatura de Lula, porque Lula é nosso candidato!”
A senadora reforçou o caráter injusto e absurdo da decisão contra Lula, explicando os embargos de declaração apresentados nesta semana. Entre outras omissões, é preciso assumir que Sergio Moro não tinha competência para fazer o julgamento de Lula, algo que inclusive foi reconhecido pelo juiz, e a flagrante parcialidade do Ministério Público, com sua acusação em PowerPoint.
“Eles têm que explicar a contradição. Por que acusam o presidente se falta crime? Se ele nunca teve a propriedade do apartamento? O que fazem neste país é uma perseguição cruel!”, denunciou.
Daí, ressalta Gleisi, a importância de um ato como o da noite de quarta, que deixa claro que o Partido dos Trabalhadores e todos os homens e mulheres que acreditam e lutam por Lula e pelo seu direito de ser candidato não têm medo e continuarão resistindo.
“Lula vai ser candidato e vai provar sua inocência. Mais do que candidato do PT, Lula é o candidato de parcela expressiva do povo. Cabe ao Partido viabilizar sua candidatura”, reforçou a presidenta, voltando a afirmar que não há alternativas, ao contrário do que querem fazer crer.
“Aqueles que são contra Lula estão servindo ao atraso, mesmo que muitas vezes travestidos em um discurso progressista. O PT não tem plano B. Essa história de plano B nasce de fora para dentro. Nasce daqueles que querem enxertar na esquerda uma candidatura que não seja competitiva. Por isso vamos fazer atos como este por todo o Brasil para dizer que Lula é inocente e vai ser o nosso candidato!”, prometeu.
Ricardo Stuckert
Lançamento da pré-candidatura de Lula à presidência da República em Belo Horizonte, Minas Gerais

A intervenção no Rio de Janeiro e o golpe

O decreto do ilegítimo Michel Temer serviu de exemplo, durante o ato, para denunciar e deixar clara a diferença entre um governo que se fia pelo que dita o mercado e as elites e um líder que governa com os olhos na população.
Na avaliação do governador mineiro,  Fernando Pimentel, o objetivo da ação é colocar as Forças Armadas contra o povo e o povo contra as Forças Armadas. “Vai lá buscar o tráfico de drogas, o crime organizado, os fuzis, as toneladas de cocaína que costumam circular de helicóptero. Porque não vão guardar nossas fronteiras? O que acham que nós somos?”, questionou.
“A mentira tem limite e esse limite esta chegando, porque decidimos resistir”, afirmou. “O povo brasileiro liderado por Lula decidiu resistir. Nós queremos votar em Lula para Presidente da República!”
Na mesma linha de argumentação,  Vagner Freitas reforçou: “O Brasil precisa é de intervenção social, de geração de emprego e de renda, de saúde e de educação. O Brasil precisa do que o presidente Lula fazia, porque o que funciona é intervenção social”.
O presidente da  CUT prosseguiu: “Que o Temer não venha achar que somos crianças. O que ele quis foi criar um fator para ser Presidente da República, então, que enfrente e garanta o direito de Lula ser candidato, porque eleição sem Lula é fraude. Cada militante que enfrentou Temer para derrotar a Reforma da Previdência precisa lutar pela candidatura de Lula!
Na avaliação da senadora Gleisi, são tempos difíceis os que atravessamos, em que o Pacto Constitucional de 1988 está sendo rompido. “A violência sempre foi consequência da desigualdade. Foi nos últimos 30 anos que começamos a resolver essa situação com a Constituição de 1988, mas sobretudo com o governo de Lula, quando começamos a efetivar os direitos. Isso a elite nunca aceitou. A elite muitas vezes quer tratar a violência com mais violência, e a intervenção militar no Rio de Janeiro é não mais do que isso.”

Assista ao ato de lançamento da pré-candidatura de Lula em BH

Por Clarice Cardoso, da Redação da Agência PT de Notícias, enviada especial a BH

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