MEIO AMBIENTE
Prefeitura executa até 800 operações por mês para prevenir queda de árvores
21/02/2018 10:14
Já no início do governo Antônio Lemos, em meados de 1897, o intendente justificou o plantio de mangueiras para proporcionar mais qualidade de vida à população. Em uma cidade em crescimento, teve a ideia de criar áreas verdes por imaginar que a urbanização poderia suprimir a arborização. Algo que se constatou na prática com o passar dos anos.
As mangueiras plantadas inicialmente em Belém tiveram origem na Índia. Elas não eram a arborização ideal para o tipo de solo da cidade, mas se desenvolveram bem, vindo a tornar-se a cara da cidade. Hoje a capital paraense possui cerca de 12 mil mangueiras, num universo de 120 mil árvores de diversas espécies plantadas e que incluem entre oitizeiros, ipês, açaizeiros, flamboyants, castanholas e samaumeiras que amenizam o calor no verão amazônico.
Mas essas mesmas árvores que alentam a cidade nos dias de Sol, preocupam no período de chuvas mais intensas, como as deste início de ano. “De janeiro até o momento tivemos o registro da queda de quatro árvores, sendo que duas delas pertenciam a áreas fechadas (Ceasa e espaço da aeronáutica na avenida Júlio César)”, informa o coordenador da Assessoria Técnica da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), Paulo Porto. Segundo ele, em 2017 foram 23 quedas de árvores, número que pode ser considerado relativamente baixo, considerando os dias seguidos de chuvas fortes. “É o resultado do trabalho de manutenção diária que a Semma faz na arborização da cidade”, explica.
O trabalho da Semma ocorre de segunda-feira a segunda-feira, com manutenção, análises técnicas com o uso do aparelho chamado penetrógrafo, que verifica a situação da árvore por dentro fazendo uma espécie de raio-x, e podas. São cerca de 600 a 800 ações de manutenção por mês. Ainda assim, as condições climáticas, com as chuvas intensas e ventos fortes, alteram o peso das árvores, e consequentemente o solo.
Segundo o coordenador do Instituto Nacional de Meteorologia na região Norte (Inmet), José Raimundo de Abreu, as fortes chuvas que caíram em Belém no mês de janeiro contribuíram para aumentar o peso delas e encharcar o solo. “Nenhum vento ultrapassou 40 km/h. O que acontece é que em Belém, quando ocorrem algumas tempestades, elas aumentam a velocidade do vento, e essas rajadas podem forçar contra árvores e telhados de casas, ou seja, são pontuais. E outro ponto que as árvores podem cair devido às condições do tempo é quando uma árvore frondosa acumula gotas de águas nas folhas e ficam com peso maior e as chuvas finas causam o encharcamento também do solo”, explica.
O Plano Municipal de Arborização Urbana de Belém determina a manutenção de uma árvore com o espaço mínimo de um metro quadrado em seu entorno, o que nem sempre é respeitado, contribuindo para que a árvore tenha cada vez menos espaço para respirar. “Por isso, nosso trabalho é permanente, avaliando as condições em que elas se encontram e criando formas para mantê-las saudáveis e sem riscos de quedas”, completa o diretor.
Outro ponto observado na arborização de Belém são as interferências feitas por parte da população, como podas irregulares, cortes de raízes e escavações próximas das árvores, entre outras ações.
Para a autônoma Marluce Oliveira, de 42 anos, com o clima de Belém a população necessita de árvores e de pessoas conscientes da necessidade de preservação. “Se não tivermos mais estas árvores, como vamos ter um ar puro? O meu filho é acostumado com a natureza, somos do interior, crescemos com a natureza e quando ele se vê dentro de um prédio, ele fica agoniado. Ele tem necessidade de vir para a praça, interagir com o meio ambiente, e nós todos também precisamos disso. Porque ficar somente no meio de muita urbanização chega a ser caótico”, afirma.
Podas programadas pela Semma garantem segurança às pessoas
A Semma, com o apoio das Secretarias Municipais de Urbanismo (Seurb) e Saneamento (Sesan), da Defesa Civil, da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob) e da Rede Celpa, intensifica os serviços de podas em espécies de maior tamanho aos finais de semana, especialmente por conta da complexidade e do cuidado que a ação exige.
Áreas são isoladas, há desvio no trânsito, interrupção do fornecimento de energia no trecho e a tomada de outras medidas de prevenção para o trabalho de rebaixamento da copa de árvores, poda de limpeza, poda de correção (para dar maior equilíbrio à estrutura das árvores) e levantamento de copa, além de prevenção de quedas.
Paulo Porto ressalta que a população precisa ter mais consciência quando for informada sobre as podas e evitar passar pelas áreas isoladas. “As podas não ocorrem simplesmente porque queremos cortar uma árvore, é a prevenção contra riscos de acidentes e até mesmo a liberação de fios de energia. Não somos criminosos por estar cortando uma árvore, nem mesmo irresponsáveis por estar isolando uma área e prejudicando o trânsito das pessoas. É um trabalho minucioso, que requer muita atenção de quem está envolvido e de quem quer passar pela área naquele momento”.
As espécies de mangueiras no centro de Belém apresentam tamanho médio de 25 metros, já outras, na avenida João Paulo II, são menores e as pessoas acreditam que possam ser de espécies diferentes, mas na realidade elas apenas se adaptaram ao espaço em que foram plantadas.
Reconhecimento - O cuidado da Prefeitura de Belém com as árvores da cidade são reconhecidos em outros Estados, principalmente quando há um encontro de profissionais para discutir o tema. “Já ocorreu de em um congresso de engenheiros agrônomos a gente ganhar espaço para mostrar o trabalho que é feito em Belém, principalmente com o recurso do penetrógrafo, porque somos uma capital que tem espécies raras de árvores convivendo sem grandes registros de danos no meio da população. É quando percebemos o quanto nosso papel como órgão municipal rende bons frutos”, conta Paulo Porto.
Crimes ambientais - A Semma recebe denúncias de danos ambientais e até pedidos de socorro decorrentes de poda irregular, retirada de árvores e envenenamento, entre outros que chegam à secretaria.
Daniel Rodrigues, 46 anos, é segurança e trabalha em uma área movimentada no centro de Belém e foi testemunha de um dos crimes contra uma árvore antiga na avenida Braz de Aguiar, onde um homem, identificado como vigilante, envenenou a árvore durante a noite e na mesma semana ela morreu. “É um vegetal que perdemos. Foi nossa sombra e principalmente uma árvore que trazia benefícios não só para quem trabalha aqui na rua, como eu, mas para os próprios lojistas, que ganhavam com a sombra dela no horário em que o Sol mais castigava. É inaceitável que as pessoas ajam dessa maneira, é por isso que devemos denunciar sempre”, afirmou.
De acordo com o Plano Municipal de Arborização Urbana de Belém, nos termos da Lei 8.909/2012 as punições para quem for flagrado cometendo estes tipos de crimes são advertência por escrito e multa variando de R$ 1.000 a R$ 10.000, aplicada em dobro em caso de reincidência. A lei também prevê a aplicação de multa em dobro quando o crime ocorre contra árvores cuja espécie seja protegida legalmente ou tombada, como no caso das mangueiras.
Por Karla Pereira
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