PRESIDENTE DE ESQUERDA TESTA FRÁGIL DEMOCRACIA!
(The Washington Post/O Estado de S. Paulo, 28) A frágil democracia do Peru foi submetida a um teste extremo no mês passado, quando um segundo turno presidencial entre dois candidatos ideologicamente polarizados resultou em uma vitória tênue para um esquerdista que se opõe à maioria da elite do país.
A aparente vitória de Pedro Castillo, um professor de escola rural de 51 anos sem experiência anterior no governo, levou sua oponente de extrema direita Keiko Fujimori a emitir alegações de fraude eleitoral no estilo Donald Trump, enquanto dezenas de militares reformados convocaram as Forças Armadas a não reconhecer o resultado.
Foi, portanto, uma boa notícia quando as autoridades eleitorais rejeitaram as acusações sem evidências e a pressão externa e certificaram Castillo como o próximo presidente do Peru, a ser empossado hoje.
Por enquanto, as instituições democráticas do Peru se mantiveram. Agora, a questão é se Castillo buscará miná-las, assim como a economia de mercado do país, ou seguir um curso mais moderado.
O que está em jogo é se o país sulamericano de 32 milhões de habitantes seguirá o exemplo desastroso da Venezuela, cujo regime socialista autocrático destruiu sua prosperidade, ou continuará o que, até a pandemia de covid19, era um recorde de padrões de vida em constante ascensão.
Até agora, a resposta não é nada clara. Castillo, que foi indicado por um partido marxista-leninista (Peru Livre) fundado por um linha-dura educado em Cuba, diz que não é comunista.
Em sua campanha, ele falou em nacionalizar as empresas de mineração que são a base da economia nacional e convocar uma assembleia constituinte para reescrever a Constituição, uma tática política adotada pelo homem forte venezuelano Hugo Chávez, morto em 2013.
Mas o chefe de sua equipe de transição econômica disse que não haverá nacionalizações, desapropriações ou controles de câmbio e de preços, e Castillo indicou que não trocará o presidente conservador do Banco Central.
Considerando que o partido do presidente não tem a maioria parlamentar necessária para autorizar uma nova Constituição ou alterar as leis de investimento estrangeiro, alguns analistas têm esperança de que o novo governo se concentrará em aumentar os impostos sobre as empresas de mineração, em vez de confiscá-las.
O Peru pode parecer um lugar improvável para uma revolução esquerdista. Sob a maioria dos presidentes centristas eleitos desde a virada do século, a economia tem sido uma das que mais cresce no Hemisfério Ocidental; a taxa de pobreza caiu de 60% para 21% e a desigualdade diminuiu.
Mas o sistema político sofreu com a fragmentação: 18 candidatos participaram do primeiro turno das eleições presidenciais, permitindo que Castillo e sua oponente Keiko Fujimori se classificassem para um segundo turno com 32% dos votos combinados.
O país permanece dividido entre uma elite costeira e a população predominantemente indígena do interior. E a sensação de progresso econômico foi devastada pela pandemia de coronavírus, que deu ao Peru a maior taxa de mortalidade per capita relatada do mundo.
A implosão da Venezuela, que fez com que 5 milhões de pessoas fugissem do país para as nações vizinhas – incluindo 1 milhão para o Peru –, demonstrou as consequências do desgoverno esquerdista para a região. Os vizinhos do Peru devem pressionar o novo presidente para que proceda com cautela.
Os Estados Unidos também podem usar sua influência para garantir que os militares peruanos permaneçam em seus quartéis. O Peru elegeu e sobreviveu a presidentes mal preparados no passado. Com sorte, Castillo não será exceção.
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