sábado, 20 de fevereiro de 2021

 

Foto: Max Haack/Secom

O Patrimônio É... está de volta e, em 2021, os temas vão propor reflexões sobre as ações de preservação e manutenção em torno do patrimônio cultural da cidade de Salvador. A primeira edição deste ano vai abordar o tema "Kaô Kabecilê, vamos caminhar e fazer justiça!", sobre a conservação da Pedra de Xangô, em Cajazeiras X. O evento vai ser será totalmente virtual, a ser transmitido no canal da Fundação Gregório de Mattos no YouTube, na próxima quarta-feira (24), às 18h30.

A mesa contará com a participação de Ìyá Márcia d'Ọ̀gún, Ìyalọ̀ríṣá do Ìlẹ̀ Àṣẹ Ẹwà Ọ̀lódùmarè, professora mestra e conselheira do Conselho Municipal de Política Cultural; de Leonel Monteiro, presidente da Associação Afro-Ameríndia (AFA); de Pai Barosi de Ode, líder religioso do Ilê Axè Ode Aty Ya Re, em Cajazeiras XI; Fábio Velame, doutor em Arquitetura e Urbanismo pelo PPGAU-UFBA; e do vereador e ex-titular da antiga Secretaria de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência (Secis), André Fraga. A mediação ficará a cargo da historiadora e gerente de Patrimônio Cultural da FGM, Gabriella Melo.

Direitos preservados – Símbolo sagrado e elemento cultural afro-brasileiro, a Pedra de Xangô, localizada na Avenida Assis Valente, em Cajazeiras, tem recebido cuidados constantes através de ações promovidas pela Prefeitura. É patrimônio cultural do município desde 2017, através de tombamento municipal coordenado pela FGM.

Por meio da Secretaria de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência (Secis), o local passou a fazer parte da Área de Proteção Ambiental (APA) do Vale da Avenida Assis Valente e Parque em Rede Pedra de Xangô, que criou o projeto Parque Pedra de Xangô, fruto de uma antiga demanda da comunidade de Cajazeiras e das religiões de matriz africana. A ordem de serviço para a execução da obra de implementação foi assinada em fevereiro de 2020.

Para Leonel Monteiro, presidente da Associação Afro-Ameríndia (AFA), uma das entidades que solicitaram o tombamento da Pedra de Xangô, o reconhecimento como patrimônio cultural do município é o principal instrumento para preservação dos sítios religiosos, arqueológicos e culturais da cidade.

“Até porque, para que seja realizado o tombamento, precisa ser traçada uma poligonal. Dentro dela, tudo que ali estiver contido, nós e o poder público temos a obrigatoriedade de preservar na sua originalidade. Como é um monumento natural, entendemos e fizemos esforços para que toda a área que ainda há algum manancial aquífero e de vegetação se transformasse em uma área de proteção ambiental através do parque”, detalha.

Para Maria Alice Silva, autora do livro "Pedra de Xangô: um lugar sagrado afrobrasileiro na cidade de Salvador" e doutoranda em Arquitetura e Urbanismo pela Ufba, o parque é um lugar do sagrado, da ciência e da resistência, sendo um centro de reverência e referência, além de uma encruzilhada religiosa, política e comunitária do povo de terreiro de Salvador. “Pedra de Xangô é uma construção coletiva e cidadã que deu certo. Poder público, comunidade religiosa e ciência trabalhando juntos na implantação do primeiro parque a levar o nome de um orixá no Brasil. Parabéns ao tripé. Inaugurando uma nova era de se implantar políticas públicas em Salvador, por isso, Pedra de Xangô é enredo, é rede.”, enaltece.

Para a diretora de Patrimônio e Humanidades da FGM, Milena Tavares, preservar a Pedra de Xangô é proteger os remanescentes naturais locais (massa verde e manancial hídrico), que, além de servir de moldura para a pedra, reserva mérito de preservação em si mesmo, como elemento de identidade cultural. Além disso, se constitui em espaço simbólico e de memória ao que se considera sítio histórico do antigo Quilombo do Buraco do Tatu.

Milena completa que a área ainda possui aspecto peculiar de servir ao culto do candomblé, sendo apropriada pela população de terreiros, legítimos herdeiros de saberes e fazeres, que reforçam e recriam as dinâmicas da cultura afro-brasileira nesse território, reconhecendo-o e o autenticando-o como sagrado.

Vandalismo – O espaço, que é sagrado para os adeptos das religiões de matriz africana, constantemente é alvo de ataques com cunho de intolerância religiosa. Em janeiro de 2019, foram jogados 100 kg de sal grosso no local, retirados pela Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb) e, em seguida, pelo povo de santo, que realizou a limpeza em conformidade com os ritos sagrados.

Entre 28 de novembro e 11 de dezembro de 2020, a FGM contratou empresa especializada, a Jeanart Arte e Restauro, a fim de realizar intervenção de restauro com a remoção das pichações com inscrições de conteúdo de intolerância religiosa, feitas por ação de vândalos, de maneira que não agredisse a superfície da Pedra, nem os elementos naturais em seu entorno.

Limpeza – Por meio da Limpurb, estão sendo realizadas intervenções periódicas no local, intensificadas em decorrência das obras que estão sendo executadas para a criação do Parque Pedra de Xangô. As intervenções contemplam serviços de roçagem manual e mecanizada, sacheamento, gancheamento, varrição e coleta dos resíduos.

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