Neurodesign para morar, e viver, bem
Pioneira em uma área que hoje se mostra essencial para projetos de design e arquitetura, a designer de interiores Luciana Gibaile foca o bem-estar estético e funcional, aliado à história e ao estilo de vida do cliente, em cada projeto que assina. O neurodesign e a neuroarquitetura são fundamentos importantes de seu trabalho à frente do escritório Luciana Gibaile Interiores, em Curitiba. Nesta entrevista exclusiva, que continua na próxima edição da Coluna Archi&Design, ela fala mais sobre estes importantes conceitos, que, em tempos de tantas mudanças na forma de viver e de habitar, se fortalecem como importantes aliados para morar bem, com segurança, conforto, funcionalidade, beleza e expressão da individualidade.
Por que o neurodesign e a neuroarquitetura são tão importantes nos dias de hoje?
Luciana Gibaile – A neuroarquitetura compreende conceitos da neurociência aplicados à arquitetura. Existem várias linhas. Tem a linha do neurourbanismo, que estuda o efeito das cidades sobre os seres humanos. Existem vários congressos e pesquisas na psiquiatria, por exemplo, que analisam exclusivamente esta relação. Existem estudos que mostram o quanto o nível de stress que vivemos hoje, o aumento de transtornos mentais entre as pessoas, tem a ver com a forma como as cidades são formadas, porque elas criam aglomerações e situações de pressão. Existe também a linha da neuroarquitetura, que vai tratar da forma das habitações, o quanto elas impactam nas pessoas. E há também o neurodesign, que aborda como a decoração, o design de interiores e o design de uma forma geral afetam o comportamento das pessoas.
Como estes impactos se refletem no comportamento humano?
A neurociência estuda estes impactos e como somos afetados inconscientemente. Por exemplo, estou incomodada com uma roupa que me aperta, isso é consciente. Outra coisa é eu estar com uma roupa superconfortável, por exemplo, e ainda assim estar me sentindo muito desconfortável. Isso é um efeito inconsciente. A neurociência vai buscar isso, quais os impactos, como isso afeta o meu cérebro. Pensamos que isso é uma coisa nova, mas na verdade não é. Antes, era feita de forma até intuitiva. O Palácio de Alhambra, por exemplo, em Granada, traz no pátio central um lago artificial com calçadas extremamente brancas na lateral. Há esta história de que o rei somente aceitava assinar acordos em dia de sol forte e só recebia as pessoas ao meio dia, com o sol a pino. Por quê? A pessoa tinha que caminhar uma longa extensão sobre o pátio branco e ele ficava ao final do pátio, vendo a pessoa caminhar. Dependendo da forma como caminhava e entrava no palácio, ele assinava ou não o acordo. Então, ao longo da história, temos vários exemplos do que hoje chamamos de neuroarquitetura, de forma intuitiva. Hoje já não é assim. Usamos dados da neurociência para aplicar a nossa área de trabalho.
Como isso se dá, na prática da arquitetura e do design?
Esta utilização, da neurociência aplicada à arquitetura, vem mais ou menos dos anos 1960 para cá. Um marco está no pioneirismo do médico Jonas Salk, cientista norte-americano que descobriu a vacina contra a poliomielite. Em 1959, ele vai então construir um instituto de pesquisas biológicas e chama o arquiteto Louis Kahn. No local [em La Jolla, na Califórnia], em um terreno de frente para o mar, Salk tinha a seguinte exigência: que todos os cientistas pudessem se ver, que todos tivessem a mesma visão, e que pudessem entender o sentido da vida que leva todos a um fim comum. O premiado Instituto Salk tem uma fonte no pátio central que, vista do horizonte, parece que está caindo no mar. As salas são em diagonal, formando um “V”, de forma que de todas elas se vê o mar, e todas são envidraçadas, de modo que todos os prédios dão visão para os demais. A neuroarquitetura, assim, permite que as pessoas possam ter uma relação de mais qualidade de vida com os espaços, sejam corporativos, públicos ou privados.
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