Um dia depois de ter visto o Palácio
Guanabara, sede do governo estadual do Rio de Janeiro, cercado por
manifestantes que tentavam ocupar o local, o governador Sérgio Cabral
(PMDB) recebeu a reportagem de ISTOÉ. Dizendo-se “muito preocupado” com o
vandalismo que tomou conta dos protestos, Cabral enxerga por trás dos
sucessivos atos contra ele segmentos políticos interessados em minar a
aliança celebrada entre o governo do Estado, a presidenta Dilma Rousseff
(PT) e o prefeito carioca, Eduardo Paes (PMDB). Para brigar pelo
triunfo dessa parceria (PMDB-PT), Cabral revela que deixará o governo
entre janeiro e abril de 2014. Com isso, o vice-governador Luiz Fernando
de Souza, o Pezão, candidato à sua sucessão, assumirá o governo. “É
importante que Pezão tenha tempo de conhecer e conquistar o eleitor
fluminense. Acho que essa aliança fez muito bem ao Brasil e eu vou lutar
por ela no plano estadual e federal”, disse o governador. Com 51 anos
completados em janeiro, Cabral afirmou que, ao deixar o Palácio
Guanabara, passará a ser apenas um militante. De Pezão e de Dilma.
Vide a entrevista:
ISTOÉ - O sr. fica até o fim do mandato?
SÉRGIO CABRAL – É a
primeira vez que falo isso: estou seriamente inclinado a permitir que a
população conheça o meu vice Pezão com tempo suficiente para conviver
com ele como governador. Então, da mesma maneira que vários governadores
deixaram o cargo para o vice disputar a eleição, eu estou pensando em
fazer o mesmo. O Pezão é homem público de uma seriedade, eficiência,
simplicidade e capacidade extraordinária. É um sujeito que veio do chão
da fábrica, foi vereador e prefeito. Ele é o nome para dar continuidade à
obra política. É a maior segurança que este Estado tem para continuar
no caminho certo.
ISTOÉ – Quando o sr. pretende sair do governo, então?
SÉRGIO CABRAL - O prazo
máximo é abril, porque as convenções são em junho, e não quero ficar
muito perto do processo eleitoral. Quero que ele tenha tempo de
amadurecer a relação dele com a população. Mas pode ser antes, pode ser
em janeiro, estou estudando. Deixo o governo entre janeiro e abril de
2014.
ISTOÉ – E o seu futuro?
SÉRGIO CABRAL - Olha,
vou responder com um trecho da música do Zeca Pagodinho: deixa a vida me
levar. Vou me tornar um militante e lutar pela aliança entre o PT e o
PMDB. Acho que essa aliança fez muito bem ao Brasil e eu vou lutar por
ela no plano estadual e federal. Fora do governo fico mais liberado,
mais à vontade para trabalhar essa aliança, que acho muito importante.
Ela viabilizou conquistas para o Estado e para o Brasil. Acho que é meu
dever conseguir amalgamar os três níveis de poder. Não significa que eu,
Eduardo (Paes) e Dilma não tenhamos divergências, temos sim, mas temos
uma agenda em comum e qualquer coisa que comprometa esse rumo é ruim.
ISTOÉ - O sr. continua sendo contra a possibilidade de Dilma ter dois palanques no Rio de Janeiro?
SÉRGIO CABRAL - Eu sou
muito claro em relação a esse tema. Temos uma história de quase sete
anos de parcerias, conquistas, solidariedade mútua. Isso não pode ser
interrompido.
SÉRGIO CABRAL - Estamos
de braços abertos para o PT continuar conosco nesse processo de aliança.
Mas acho que temos a legitimidade, o direito de lançar o candidato a
governador. Numa aliança é preciso olhar o todo, o processo geral. De
coração aberto, quero discutir com os companheiros a manutenção dessa
aliança.
ISTOÉ - A presidenta Dilma tem manifestado apoio?
SÉRGIO CABRAL - Muito. A
presidenta é nossa companheira. Não só ela, mas também seus ministros.
Hoje falei longamente com a ministra Miriam Belchior sobre a Linha 3 do
metrô que estamos na eminência de conquistar os recursos. Porque é uma
obra importante que liga Niterói/São Gonçalo e Itaboraí. Minha relação
com os ministros do governo é muito respeitosa, carinhosa. E a
presidenta é uma amiga. Ela sempre disse: “Serginho, você não é meu
companheiro, é amigo”. E ela tem razão. Trocamos confidências. Ela me dá
boas dicas de filmes e livros. E temos uma coisa em comum: somos
liderados por Luiz Inácio Lula da Silva. A dupla é essa: Pezão, o pai do
PAC, e Dilma, a mãe do PAC. O Lula disse isso uma vez na Rocinha, e
está dito. É isso. Será que essa construção de aliança, essa
solidariedade recíproca, merece ter dois palanques no Rio?
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