Reportagem da
revista 'Veja' deste fim de semana revela que 60% do faturamento do
escritório de advocacia da mulher do governador Sérgio Cabral, Adriana
Ancelmo, vêm de honorários recebidos por serviços prestados a empresas
que, "direta ou indiretamente, dependem de dinheiro público", ou seja,
do governo do Estado do Rio, como concessionárias e prestadoras de
serviço.
De acordo com a reportagem, antes de Cabral tomar posse, o
escritório Coelho & Ancelmo Advogados Associados tinha apenas 2% de
seu faturamento vindo desta origem. A revista destaca ainda que o
escritório teve um crescimento "espetacular" nos últimos seis anos,
saltando de três profissionais e 500 processos em carteira para 20
advogados e cerca de 10 mil ações.
A receita do escritório,
segundo a "Veja", também saltou de R$ 2,1 milhões em 2006 para R$ 9,5
milhões no ano passado, o que faz com que os rendimentos de Adriana
Ancelmo - apelidada de "Riqueza" por Cabral - cheguem a R$ 184 mil
mensais.
Entre as concessionárias e prestadoras de
serviço que são clientes do escritório da mulher de Cabral estão o
MetrôRio, a SuperVia, a Telemar e a Facility (fornecedora de serviços de
segurança).
Cabral disse a "Veja" que não interfere nos negócios
da mulher. A primeira-dama não quis conversar com a revista, mas o
escritório disse em nota que "desde 2007, por deliberação dos sócios,
não atua em processos administrativos e judiciais contra o Estado do Rio
de Janeiro ou pessoas jurídicas por ele controladas, nem tampouco
presta consultoria a seus clientes em matérias que envolvam interesse do
Estado".
O MetrôRio toca atualmente as obras
da construção da Linha 4, cujo consórcio conta com a participação da
Odebrecht e que estão orçadas em R$ 8,5 bilhões. O trajeto da linha foi
alvo de polêmica e contestações, mas mesmo assim foi mantido pelo
governador.
A SuperVia foi adquirida
em 2010 pela mesma Odebrecht e tem no seu histórico incontáveis relatos
de acidentes e mau funcionamento. Revoltados com a qualidade do serviço
prestado, passageiros já realizaram inúmeros protestos, sem contudo
obter qualquer resposta para as suas queixas.
A Telemar,
uma das campeãs de reclamações por parte dos consumidores, tem entre
seus donos a construtora Andrade Gutierrez, também sempre presente nas
mais importantes obras tocadas pelo governo do Estado.
Por sua
vez, a Facility se viu recentemente envolvida num escândalo sobre
fraudes em licitações. De acordo com denúncias investigadas pelo
Ministério Público, concorrências eram forjadas para que suas propostas
vencessem disputas.
A denúncia da revista "Veja" se junta a muitas
outras envolvendo o governador e o mau uso do dinheiro público.
Helicóptero oficial utilizado indiscriminadamente pela família de Cabral
em viagens particulares e relações nebulosas com empreiteiras, como a
Delta de Fernando Cavendish, também vieram à tona, causando indignação
da sociedade.
Os protestos que sacodem o Rio de Janeiro desde
junho são uma consequência clara, direta e objetiva do mau exemplo que
vem da maior autoridade do Estado.
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