sábado, 24 de abril de 2021

 

Mãe de mim

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*por Claudia Queiroz

Minha filha acabou de me ver chorar de cansaço, sono, exaustão… Acho que estou passando por uma fase de stress. Tenho sentido falta do silêncio, da solitude, do descompromisso com as horas e desapego das coisas mundanas. Atenta, foi ela quem enxugou minhas lágrimas com a manga da camiseta que estava vestindo… E chorou junto comigo. Fico pensando se estou errando em trazê-la para a realidade tão cedo. Mas como aprenderia a viver se estivesse presa numa bolha?

Todos nós temos direito a dias melhores e outros nem tanto. Com ou sem motivo, o cansaço bate no humor, o excesso de críticas dói feito agulha e o sorriso acaba se habituando a entrar no modo nublado. Este é um sinal claro que preciso de algumas horas ou dias fora da rotina. Não me lembro mais quando foi a última vez que me dei férias sozinha.

A pandemia judiou demais de todos nós, em especial de mães com filhos pequenos. Não bastasse a auto exigência nos detalhes, o plantão de 24h por dia, todos juntos e misturados, espaço físico restrito, expectativas frustradas quanto a por em prática alguns dos meus planos… Minha humildade hoje pede auto piedade nas próprias forças, pausando o brilho e estacionando a ilusão de que teremos um novo normal breve.

Já me acostumei com esse tal “mal-vindo” Covid-19. Sei que estaremos com ele perto por muitos anos ou até para sempre. No entanto, a lapidação interna de quem precisa estar disponível a atender, cuidar, proteger, aninhar, acolher, ninar, socorrer, amparar, cozinhar, arrumar, corrigir, comprar e tantas outras ações assumidas, só pede agora para respirar.

Não é falta de amor, nem ingratidão pela vida linda que tenho com minha família maravilhosa, apenas o espelho interno trincando, para me forçar a enxergar a faxina que precisa ser feita na organização das minhas emoções.

A gente aprendeu a ser quem é experimentando. Agora nada mais se pode provar, sentir, dizer, fazer, porque virou perigoso ou incomoda alguém. Uma criança testa as experiências que faz com o auxílio da mãe, que não sabe tudo. Aliás, não nasci mãe, também sou aprendiz!

Hoje consegui dizer isso para a filhinha, porque também erro, para que não me puna ou julgue pelas tantas falhas que tenho. Chorar é algo raro pra mim. Sempre considerei hábito dos fracos. Mas estou me permitindo rever este conceito para, mais uma vez, ser para minha menininha o melhor de mim, mesmo que para isso precise transbordar em lágrimas.

Desde que a Gabi nasceu eu potencializei meu lado SUPER. Hoje eu só queria ser um pouco menos forte, mais normal, aceitando melhor a vulnerabilidade e resolvendo sem pressa  fraquezas e exigências.

Talvez seja isso um traço de amadurecimento, ou ainda da fé que sinto em que tudo vai passar (está demorando) … Pode ser também que eu esteja “outonando” com minhas folhas caindo junto com a mudança de estação.

Sincronizar mente e coração é o que certamente me garantirá equilíbrio emocional para me maternar também. Eu, que sei ser o berço de tantos mundos, agora preciso aprender a me abraçar mais. Que o vai-e-vem do biorritmo balançando logo transforme energia em mais disposição.

Claudia Queiroz é jornalista.

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