Descrição Geral: Destaca-se que parte do município está contido no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, administrado pelo ICMBio, sendo o maior parque nacional em ambiente exclusivo de restinga. Fauna e flora típicas estão preservadas em meio a lagunas, alagados e cordões litorâneos de beleza excepcional. No parque é possível passear de barco, atrativo turístico autorizado pelo Canal Campos-Macaé, obra do século XIX, considerado o segundo maior canal artificial do mundo.

Geologia: As rochas mais antigas são metamórficas e possuem cerca 630 milhões de anos. São derivadas do metamorfismo sobre sedimentos marinhos. Ainda possui depósitos da Formação Barreiras, representados por sedimentos continentais que se prolongam desde o Amapá, no norte do país, até o Rio de Janeiro. Desta formação são usadas as concreções ferruginosas em pavimentos. No litoral, fechando as lagunas e constituindo cordões arenosos, ocorrem sedimentos que indicam as variações relativas do nível do mar nos últimos 120 mil anos. Em Barra do Furado, pode-se observar o efeito da ação humana sobre a costa ao longo do molhe de pedras construído na foz do canal da Flecha, que liga a Lagoa Feia ao mar.

Histórico: Habitada originalmente pelos índios Goitacá, a Capitania de São Tomé foi abandonada por seus donatários. Em 09/08/1627, as terras compreendidas entre o Rio Macaé e o Cabo de São Tomé, aí incluídas as terras de Quissamã, foram doadas por sesmarias aos chamados “Sete Capitães” por Martim de Sá, Capitão-mor do Rio de Janeiro, em pagamento por serviços prestados à Coroa Portuguesa nas lutas contra indígenas e invasores holandeses e franceses. Consta que o nome Quissamã foi dado à região durante a expedição dos Sete Capitães para tomar posse das terras em 1632. Ao chegarem à localidade, conhecida como Aldeia Nova, foram recepcionados por um grupo de índios, encontrando-se entre eles um negro. Ele informou que era forro e que veio da Nação Quissama, em Angola, na África. Quissama é uma cidade que fica a 80 km de Luanda, na foz do Rio Kwanza. A freguesia do Furado foi o núcleo de população mais antigo da região, seguindo-se o de Quissamã. A Povoação de Nossa Senhora do Desterro de Quissamã foi elevada à categoria de freguesia em 1749. Consta que o brigadeiro José Caetano foi fundador da Vila e construtor da Matriz. Com a instalação definitiva do capitão Manuel Carneiro da Silva em Mato de Pipa, iniciou-se, ao seu redor, a expansão da Vila de Quissamã. Desde a instalação dos primeiros colonizadores, o controle administrativo de Quissamã era exercido pelas autoridades da Vila de São Salvador dos Campos dos Goytagazes. Em 1802, passou a ser subordinada à freguesia de Nossa Senhora das Neves (Macaé). Em 12/06/1988, a população foi favorável em plebiscito à emancipação de Quissamã como município, desmembrando-o de Macaé pela lei estadual de 04/01/1989. Existe em Quissamã um conjunto de registros excepcionais da história e de seus habitantes, como antigas sedes de fazendas, prédios históricos e memorais do passado. O Quilombo Machadinha é um desses locais de destaque, onde é possível conhecer a história dos escravizados, sua cultura, gastronomia, formas de arte e artesanato. Trata-se de um sítio tombado como patrimônio estadual que merece ser reverenciado e reconhecido.


PRINCIPAL GEOSSÍTIO:

PARQUE NACIONAL DA RESTINGA DE JURUBATIBA
Localização: 22º12’5” S; 41º29’33” O
Descrição: É o primeiro Parque Nacional brasileiro, criado em abril de 1998, a compreender exclusivamente o ecossistema de restinga e lagoas litorâneas. Pesquisadores concordam que Jurubatiba é a área de restinga mais bem preservada do país. Abrange parte das planícies fluviais e marinha dos municípios de Quissamã, Carapebus e Macaé. Compreende uma faixa de orla marítima com 14.860ha de área e 44 quilômetros de extensão de praias. É um importante território inserido na Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Registra espécies endêmicas e protege um rico ecossistema. Lagunas marcam as variações do nível do mar no Holoceno. O PARNA Jurubatiba é cortado pelo Canal Campos-Macaé que é considerado o segundo maior canal artificial do planeta e a maior obra de engenharia do período imperial no Brasil. Possui aproximadamente 100 km de extensão. Foram necessários quase trinta anos para a sua completa realização, que iniciada no ano de 1844 foi concluída em 1872. A construção de um canal navegável que serviria para o escoamento de mercadorias e transporte de passageiros entre Campos e Macaé, surgiu no final do século XVIII, frente ao crescimento da produção açucareira e as dificuldades de escoamento do produto. Dois anos apenas de sua conclusão foi inaugurada a estrada de ferro que ligava estas duas cidades, perdendo o Canal toda sua importância e funcionalidade. Tombado como patrimônio estadual em 2002, o Canal Campos-Macaé sofre hoje um intenso processo de assoreamento e despejos de esgotos, permanecendo apesar disso como um componente de destaque na paisagem urbana. Porém, no interior do parque ele mantém sua exuberância. Devido à importância do PARNA Jurubatiba, tornou-se tema da 5ª edição da nossa série Geossítios.

BARRA DO FURADO
Localização: 22°05’51” S; 41°08’29.040” O
Descrição: A Barra do Furado, situada no limite entre os municípios de Quissamã e Campos dos Goytacazes, é uma região de beleza rústica, caracterizada por uma “disputa de território” entre o ser humano e o mar. A região ainda atrai muitos turistas por conta da bela praia que, pela formação de boas ondas, é muito procurada, principalmente para a prática do surfe. A região da Lagoa Feia separa os “feixes” de cordões litorâneos, interpretados como paleopraias. Os do norte, até a foz do rio Paraíba do Sul, têm idades entre 7 e 5 mil anos, enquanto os do sul são mais velhos, havendo datações com cerca de 80 mil anos. Foram formados durante a migração da foz do Paraíba do Sul pela ação das variações do nível relativo do mar e das correntes de deriva litorânea. Essas correntes acompanham o litoral carregando e depositando sedimentos. Na Barra do Furado está localizada a foz do denominado Canal da Flecha, que liga a Lagoa Feia ao mar. Até 1688, este canal não existia. As águas da Lagoa Feia transbordavam e corriam por vários cursos d’água que convergiam para o rio Iguaçu que tinha seu estuário no mar. Foi quando o capitão José de Barcelos Machado, herdeiro de algumas Sesmarias no norte fluminense que pertenceram aos Sete Capitães, abriu para o mar um canal artificial ao sul da Lagoa Feia, com objetivo de escoar mais rapidamente as águas das cheias. Esse canal então recebeu o nome de Furado. Entretanto, as fortes ondas e as correntes marinhas intensas na desembocadura do canal fechavam a foz com sedimentos e tornavam a saída temporária. Periodicamente, o canal contribuía para descarregar água doce no mar, mas duas condições eram necessárias: marés baixas acompanhadas de ondas pequenas e grande volume de água doce acumulado no continente com as chuvas. Cessadas essas duas condições, a barra voltava a se fechar. Em 1942, iniciou-se a abertura do Canal da Flecha, ligando a Lagoa Feia diretamente ao mar. Em 1949, o canal estava concluído. Posteriormente, na década de 1970, ainda foi construída pelo Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) uma série de 14 comportas no trecho final do canal com o objetivo de regular o nível da lagoa, além do prolongamento da foz feito por dois guias-corrente de pedra para diminuir a energia oceânica e manter o canal aberto, formando, assim, a Barra do Furado, encontro do canal artificial com o mar. Entretanto, o prolongamento da foz gerou um desalinhamento da costa. A praia do lado de Quissamã, à direita, engordou, enquanto que a do lado esquerdo, em Campos, sofreu forte erosão, ameaçando a integridade do manguezal da Ilha da Carapeba. A construção do Canal da Flecha propiciou a entrada de água do mar no canal, aumentando a salinidade nas partes sul e sudoeste da Lagoa Feia, e provocou a diminuição do nível da água, sendo responsável pela redução de 100 km² do seu espelho d’água. A Barra do Furado é um local único dentro do nosso território, sendo possível observar em tempo real o quanto ações antrópicas influenciam na dinâmica costeira de uma região.

Referências: Martin, L.; Suguio, K.; Flexor, J.M.; Dominguez, J.M.L. 1984. Evolução da planície costeira do rio Paraíba do Sul (RJ) durante o quaternário: influência das flutuações do nível do mar. In: 33º Congresso Brasileiro de Geologia, Anais, 33:84-97 | Folharini, S.O.; Oliveira, R.C.; Conceição, A.F.; Furtado, A.L. dos S. 2014. Análise da linha de costa entre o Rio Macaé e o canal das flechas (RJ) de 1967 a 2007 por meio de fotografia aéreas. Revista Geonorte, Edição Especial 4, 10(2):12-16 | Os quatro tempos de Barra do Furado


PRINCIPAIS SÍTIOS DE INTERESSE HISTÓRICO-CULTURAL:

CASA MATO DE PIPA
Localização: 22º6’406” S; 41º28’755” O
Descrição: Quissamã tem uma longa história que se mistura com a própria colonização do Brasil. São quatro séculos de história que se iniciam quando sete capitães proprietários de engenhos no Rio de Janeiro recebem do Governador Martim de Sá, em 9 de agosto de 1627, a concessão da sesmaria que ia do rio Macaé ao rio Iguaçu, pertencente à Capitania de São Tomé, em troca dos serviços prestados à Coroa nas lutas para expulsão dos franceses do litoral do Rio de Janeiro. A Casa Mato de Pipa, conservada, foi construída em 1777 e tem valor histórico por ser o único exemplo das moradas dos primeiros senhores de engenhos nos Campos dos Goytacazes (www.quissama.rj.gov.br).

QUILOMBO MACHADINHA
Localização: 22°02’02.1” S; 41°27’09.6” O
Descrição: A Fazenda Machadinha foi tombada em 1979 pelo governo do estado do Rio de Janeiro através do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC). Entretanto, somente em 2006, a comunidade remanescente quilombola do Quilombo Machadinha recebeu a certificação da Fundação Palmares. Formado pelas ruínas da sede da fazenda, pelo antigo armazém, a capela de Nossa Senhora do Patrocínio e pela senzala, cujas casas foram reformadas e são as residências das famílias, hoje no espaço funcionam o Memorial Machadinha, que tem como objetivo preservar a história do povo quilombola, e a Casa de Artes Machadinha, que tem como ponto forte a culinária africana herdada, cujas receitas são passadas de geração em geração. Uma forte organização comunitária mantém viva a cultura e a arte presentes no jongo, fado, boi malhadinho, artesanato e culinária. A comunidade possui um restaurante que atende a grupos agendados. A riqueza preservada no Quilombo Machadinha não se limita ao extraordinário valor histórico-cultural. O local também detém de elementos da geodiversidade nos materiais utilizados nas construções da Casa de Artes Machadinha e nos cordões arenosos próximos. O piso avermelhado, assentado como um lindo mosaico, foi construído com a utilização de concreções ferruginosas pertencentes à Formação Barreiras. Essa unidade geológica sedimentar possui cores variadas, muitas vezes avermelhadas a arroxeadas, e ocorre desde o Amapá até o Rio de Janeiro. Estudos realizados apontam para uma origem em ambiente fluvial, num intervalo entre 5 e 2,5 milhões de anos atrás. Segundo moradores do Quilombo Machadinha, a concreção ferruginosa utilizada foi retirada da própria localidade, numa camada existente abaixo das areias que formam os cordões litorâneos que dominam a paisagem. São formadas por grãos de areia cimentados por óxido de ferro remobilizado pela ação da água sobre os depósitos sedimentares da Formação Barreiras. O quilombo se localiza em área limítrofe entre as áreas de ocorrência da Formação Barreiras e os cordões arenosos mais recentes. Quando se observa o Quilombo Machadinha em imagem de satélite, estes cordões podem ser visualizados ao sul e a norte da Lagoa Feia, sendo caracterizados por linhas alongadas paralelas à praia atual. Para entender essa evolução, precisamos relacioná-los com o delta do Rio Paraíba do Sul. Delta é uma feição geológica que ocorre quando um rio encontra o mar ou um lago, provocando a deposição de sedimentos transportados por esse rio. Essa feição tem forma triangular, por isso o nome delta, derivado da letra grega. No caso do Rio Paraíba do Sul, sua foz se dá no seu encontro com o Oceano Atlântico em Atafona, São João da Barra. Os cordões arenosos se formaram quando os sedimentos trazidos do rio para o mar são distribuídos pelas correntes no litoral, formando as praias. Essas linhas vistas na região se distribuem paralelas umas às outras e correspondem a antigas linhas de praia que, ao longo do tempo geológico, foram evoluindo de acordo com as mudanças no nível do mar. Ou seja, cada cordão representa um diferente momento da história da evolução do litoral. A cada avanço, ou recuo do mar em relação ao continente, um cordão é depositado. Os cordões litorâneos localizados a sul da Lagoa Feia, que são os mais próximos ao Quilombo, pertencentes em grande parte ao Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, foram datados em cerca de 120 a 70 mil anos. Já os localizados a norte, que vão do Farol de São Tomé em direção a Atafona, têm cerca de 7 a 5 mil anos. Pesquisadores concluíram que o delta do Rio Paraíba do Sul, ao longo de sua evolução, migrou desde a Lagoa Feia até sua posição atual, deixando sua história registrada na planície. Ao visitar o Quilombo Machadinha, você pode conhecer uma pequena parte do passado geológico fundido em meio aos valores histórico, étnico e cultural tão ricos desse lugar considerado importante na luta pelo reconhecimento das comunidades quilombolas. No local, encontra-se, também, um painel interpretativo sobre a geologia da região, produzido pelos alunos de extensão, Eduardo Sartori, Pedro Vitor Abreu e Rodrigo Gentil.

Referências: Facebook – Prefeitura de Quissamã – Tour Virtual | Museus do Rio | Mapa de Cultura RJ