Quissamã: feriado marca os 24 anos de
emancipação-política-administrativa
A data de Emancipação e do Plebiscito,
realizado
no dia 12 de junho,
são memoráveis.
O feriado desta sexta-feira (4) registra os 24 anos de emancipação política
e administrativa de Quissamã. A proposta que elevou Quissamã à condição de
Município foi oficializada em 4 de janeiro de 1989, através da Lei 1.419,
sancionada pelo então governador, Moreira Franco e publicada no Diário Oficial
do Estado. Mas, foi no ano anterior - em 12 de junho de 1988- que aconteceu o
plebiscito que garantiu a criação do município de Quissamã, até então, distrito
de Macaé.
O prefeito Octávio Carneiro instituiu
recesso para o funcionalismo municipal nesta sexta, (4), mas os serviços
públicos considerados essenciais -de saúde, segurança e serviços públicos e
outros- para a população não serão paralizados. Os bancos, o comércio e os
serviços da cidade estarão funcionando durante todo o dia, em horário
comercial.
A decisão de comemorar o aniversário da cidade no dia 12 de junho, foi
tomada pelo prefeito Octávio Carneiro, no primeiro ano de funcionamento da
Prefeitura, em 1990.
Com duas datas festivas, o primeiro prefeito -Octávio Carneiro - decidiu,
junto com os secretários e a comunidade, comemorar a data no dia 12 de junho,
quando ocorreu o Plebiscito.
Os funcionários mais antigos da Prefeitura contam que a decisão foi tomada à
época, porque não havia tempo hábil para a Administração do recém-criado
município organizar o grande evento, além de 4 de janeiro ser uma data
complicada para realização de desfile cívico, quando os estudantes estão de
férias escolares. Os servidores mais antigos lembram que o primeiro desfile foi
muito simples e, no segundo ano, em 1991, a festa começou a crescer e, naquele
mesmo ano, foram lançados os símbolos do município; o Brasão e a Bandeira
Municipal.
Plebiscito foi realizado há 25 anos - O resultado do plebiscito
realizado em 1988, foi amplamente favorável à emancipação de Quissamã, quando
3.309 eleitores disseram “sim” contra apenas 84 negativas, conforme registrou
Gilberto Mattoso, no seu livro sobre Quissamã. Realmente, nada mais justo
comemorar no dia em que os quissamaenses foram às ruas votar a favor da
emancipação da cidade.
Prefeito Octavio Carneiro |
QUISSAMÃ SEU TURISMO
Parque Nacional
da Restinga de Jurubatiba
65% da
extensão do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba ficam em Quissamã. O
Parque foi criado por Decreto Federal em 29 de abril de 1998, com o objetivo de
preservar os ecossistemas ali existentes e possibilitar o desenvolvimento de
pesquisa científica e de programas de educação ambiental. Localizado na região
litorânea do norte do Estado do Rio de Janeiro, é o primeiro Parque Nacional em
área de restinga.
O Parque
abriga 18 lagoas ao longo de seus 44 quilômetros de costa. Entre as espécies de
fauna encontram-se: o jacaré-do-papo-amarelo, cágado-do-brejo, lontras,
capivaras, papagaios e diversas aves residentes ou migratórias. A flora
apresenta elevado número de espécies endêmicas ameaçadas de extinção, como
orquídeas e bromélias. A administração do parque é realizada pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBAMA.
A
Prefeitura de Quissamã através da Secretaria de Meio Ambiente promove várias
ações voltadas a preservação e conservação do meio-ambiente. Entre elas
destacam-se a implantação do Sistema de Saneamento Básico em todo perímetro
urbano do município, o apoio ao desenvolvimento de pesquisas científicas e o
combate aos incêndios florestais. O Ibama está finalizando o plano de manejo do
Parque que vai definir locais, horários e capacidade de visitação.
Patrimônios Arquitetônicos
A Igreja e Quissamã
Segundo
José Carneiro da Silva em sua "Memória Topográfica" sobre os Campos dos
Goytacazes em julho de 1694, Luís de Barcelos Machado fundou a Capela de N. Sra.
do Desterro do Furado, o qual alcançou do Bispo do Rio de Janeiro que a erigisse
em capelaria Curada. Data daí a primeira relação de Quissamã com a Igreja.
Posteriormente, a capela foi transferida, em 1732, para Capivary, sendo para ela
transportadas as imagens e alfaias do templo do Furado.
Elevada à
Freguesia em 1749 e à classe de Igreja
A Igreja Matriz de1924 atualmente
Paroquial Perpétua em 1755. Em 1794, com o prédio já em ruínas, foi realizada sua primeira festa, quando, então, a Matriz foi transferida, provisoriamente, para Mato de Pipa.
Durante
uma enfermidade, com princípio de paralisia, o Brigadeiro José Caetano fez a
promessa de construir um grande templo em louvor a N.S. do Desterro, que cumpriu
ao retornar a Quissamã: "trouxe para dirigir as obras um pedreiro de nomeado
pela Corte, Mestre Alexandrinho.
A pedra
fundamental foi lançada em 1805. No ano de 1815 foram transladadas, em grande
procissão, para o novo prédio na Freguesia, as imagens de N. Senhora, S. José e
do Menino Jesus.
Considerando-se o prédio de 1815 acanhado, em 1921, decidiu-se pela construção,
no mesmo local, de outro maior, compatível com sua crescente comunidade. A
inauguração do atual prédio deu-se com grandes festas em 27 e 28 de junho de
1924.
Desde
1902 até 1994 a matriz vinha sendo administrada pelos padres Franciscanos.
Atualmente a paróquia é administrada pelo clero secular.
Existem
no Município outras confissões religiosas... entre outras, a Igreja Batista e a
Assembléia de Deus com seus templos no centro de Quissamã e em localidades do
interior.
Baseado
na literatura existente e nos registros da Paróquia e na tradição oral, o
"Projeto Quissamã Memória Viva" (E.C.J.C.B.) pôde elaborar um catálogo completo
dos capelões curados e dos párocos de nossa igreja desde 1694 até os nossos
dias, num período de 304 anos.
A
macumba/umbanda é também uma das alternativas religiosas que se apresenta à
população de Quissamã. A crença, em seu tido amplo, é partilhada pelo conjunto
da população, pois mesmo os não adeptos, ao temê-la, terminam por confirmar a
crença na existência e na interferência dos espíritos no comportamento humano.
Em
Quissamã, os terreiros espalham-se pela freguesia e seus arredores, nos bairros
rurais e pequenos aglomerados de casas acompanhando ou não as sedes das
fazendas.
Centro Administrativo Municipal (1870)
Este
patrimônio abriga hoje o Centro Administrativo da Prefeitura de Quissamã
O prédio construído por herdeiros do I Visconde de Araruama, foi inaugurado em 1870 e nele passou a funcionar, inicialmente, uma escola para os meninos descendentes do Visconde. Naquela época as mulheres não precisavam estudar.
Algum
tempo depois o prédio foi cedido ao governo que nele instalou uma Escola
Pública.
Em 1903
com a vinda dos Franciscanos, acomodou-se no prédio a residência franciscana que
recebeu o nome de convento N. Sra. dos Anjos, em alusão ao convento do mesmo
nome, sediado em Cabo Frio, do qual foi padroeiro o Capitão José de Barcelos
Machado, fundador do Morgado de Capivary, Furado e Quissamã.
O Capitão legou em testamento, até a extinção do Morgado em 1852, a doação anual de 35 bois de suas fazendas para o sustento daquele Convento. (Abel Beranger em Dados Históricos de Cabo Frio).
Simultaneamente no mesmo prédio funcionava a Escola Pública que em 1911 chegou a
receber de 80 a 90 alunos.
Com a
construção do novo convento ao lado da Matriz, em 1928, as freiras franciscanas
passaram a ocupar o convento.
A partir
daí o Colégio passou a receber também as meninas que desde 1912 estudavam com as
freiras, algumas internas, as semi-internas e as externas.
As
meninas recebiam, além do curso regular (1ª a 4ª série), aulas de bordado,
pintura e música, lá havia, inclusive, um piano onde as meninas praticavam seus
dotes artísticos.
Em 1949,
quando as franciscanas deixaram Quissamã, o colégio passou a ser administrado
pelas Irmãs da Divina Providência que mantiveram o padrão do colégio até 1972,
quando também deixaram a cidade.
Nesta
época já não havia sentido a manutenção do Colégio das Freiras, pois estavam em
atividade Escolas Públicas melhor aparelhadas.
Com a
saída das irmãs, passou a funcionar no convento a "Casa de Formação N. Sra. dos
Anjos", onde realizavam-se reuniões religiosas, cursilhos, encontros de jovens e
de casais, etc.
Após
permuta efetivada em 1991 entre a Prefeitura e a Diocese de Nova Friburgo,
detentora do prédio, este passou a sediar provisoriamente secretarias municipais
e órgãos do Estado.
Em abril
de 1993, iniciaram-se as obras de construção do primeiro prédio funcional,
projetado pelo arquiteto José Francisco de Almeida Pereira, para abrigar a
crescente estrutura administrativa do município.
Após a
inauguração dos prédios anexos e integrantes do Centro Administrativo Municipal,
em 17 de março de 1994, neles foram instaladas todas as Secretarias e,
provisoriamente, o Gabinete do Prefeito e suas Assessorias.
O prédio
do antigo Convento entrou em obras de recuperação e adaptação às novas funções
que foram concluídas em fins de 1994, quando, então, neste prédio foram
instalados o Gabinete do Prefeito e do Vice, com suas assessorias e mais a
Secretaria de Fazenda. Nos prédios anexos permaneceram as Secretarias de
Educação e Cultura, Saúde, Agricultura e Turismo e Esportes no Bloco A; Obras e
Administração ocupam o Bloco B.
Finalmente após a execução dos serviços de paisagismo, substituição dos altos
muros por grades de ferro, está concluído e em pleno funcionamento, o Centro
Administrativo de Quissamã, inaugurado a 15 de fevereiro de 1995 pelo Prefeito
Arnaldo Mattoso.
Do antigo
convento foram mantidos, além da construção em si, dois sinais de sua função
religiosa: a antiga torre sineira e um afresco na entrada, onde se vê entre as
ramagens de flores as iniciais entrelaçadas "AM" evocando com este Ave Maria a
N. Sra, dos Anjos padroeira do antigo convento, que permanecerá abençoando e
iluminando as decisões do Prefeito e de seus sucessores.
Roteiro dos Solares
Existem
cerca de 20 solares em Quissamã, sendo a sua maioria do século passado. Alguns
estão abertos aos turistas com visitas pré marcadas. Neles podemos sentir um
pouco do clima de uma época quando o Ouro Verde (a cana de açúcar) era a mola
propulsora da economia do Norte Fluminense. Destacamos abaixo alguns destes
solares.
- Casa
de Mato de Pipa (1777)
Em 1782 o casal Ana Francisca e Manoel Carneiro da Silva transferiu-se definitivamente para Mato de Pipa.
Deste
casamento nasceram cinco filhos, e entre eles, em 1788, José, futuro Visconde de
Araruama, grande colonizador da região.
Primeira
casa de telhas contruída na região. Último remanescente de casa de residência (
construída no séc. XVIII ) de todo o Norte Fluminense.
Mato de Pipa é a casa mais antiga de Quissamã (1777)
De 1795 a
1815 o seu oratório funcionou como Matriz Provisória, guardando as imagens
vindas de Capivary.
Em 1826,
José Carneiro da Silva transfere-se com sua esposa e filhos para a Fazenda
Quissamã. Ficam residindo em Mato de Pipa sua mãe e duas irmãs solteiras que
herdam a fazenda em 1840.
A casa
passa por diversos testamentos até pertencer aos herdeiros de Mariana Antônia de
Almeida Pereira, atuais detentores da propriedade.
Hoje, a
Casa de Mato de Pipa é administrada por uma associação criada para preservá-la,
a AMAP. A casa recebe sempre a visita de turistas e pessoas da comunidade. Todo
ano é feita uma festa junina com o objetivo de angariar fundos para a sua
manutenção e divulgar a história da casa.
-
Casa de Quissamã (1826)
Em 1826,
com a construção do solar, nele vão residir José Carneiro da Silva e sua
família. A casa é semelhante, no seu aspecto, a de Mato de Pipa, pois na época
possuía apenas seu corpo central.
Em 1842 é
levantado o torreão. Já em 1861, estava construído o primeiro sobrado, o da
direita, como pode ser visto na gravura de Victor Frond.
Mais
tarde foi construído o outro sobrado, à esquerda, ambos demolidos em meados do
século XX.
Naquela época possuía vastas salas, salão de banquetes, 48 quartos, e uma infinidade de outras dependências. A casa necessitava ter tantos quartos, em função do hábito do Visconde de reunir sua vasta descendência para as festas de fim de ano.
Foram
visitantes ilustres deste palacete: o Imperador Pedro II e a Imperatriz Tereza
Cristina, a Princesa Isabel, o Conde D'Eu, o Duque de Caxias, o Conselheiro
Euzébio de Queiróz, Aureliano Coutinho, presidente da Província do Rio de
Janeiro, entre outros. O viajante francês Charles Ribeyrollles, documentou sua
visita no livro "Brasil Pitoresco" com gravura de Victor Frond.
Por
testamento a casa passa a José Caetano, Visconde de Quissamã, filho do Visconde
de Araruama, e depois aos herdeiros daquele. A casa hoje pertence à Prefeitura
de Quissamã e está sendo restaurada com recursos do município. No seu entorno
será construído o Parque Municipal
-
Machadinha (Em ruínas)
Em 1867 é
inaugurado o solar que incorporou a antiga casa como dependências de serviços.
Nela foi residir Manoel Carneiro da Silva, Visconde de Ururay, filho do Visconde
de Araruama.
Sua
esposa, Ana do Loreto, era filha do Duque de Caxias.
Os
móveis, louças e cristais, utilizados pela família, foram todos importados da
Europa.
Hoje é
propriedade da Cia. Engenho Central de Quissaman, fazem parte de um conjunto
arquitetônico, a capela em louvor à Nossa Senhora do Patrocínio, construída em
1833 e o espetacular conjunto de antigas senzalas, hoje adaptadas para a
residência dos colonos da fazenda.
-
Solar da Mandiqüera (1875)
Construído
por Bento Carneiro da Silva, Conde de Araruama, filho do Visconde de Araruama e
casado com Rachel Francisca, filha do Barão e da Viscondesa de Muriaé.
Casa de
fino acabamento. Permanece fechada desde 1964. Seus atuais proprietários residem
na Casa Santa Rachel que faz parte do conjunto arquitetônico e foi construída
para hospedar os técnicos que construíram a Mandíqüera e depois a Usina.
Ainda compõem o conjunto, parte das antigas senzalas e um prédio do engenho da fazenda, onde funciona a Fábrica de Doces Fios de Ouro. Desmembramentos da Fazenda Mandiquera, resultaram as atuais fazendas de Santa Rachel, São José, Trindade, São Manoel, parte de Boa Esperança e as terras da Usina.
-
Santa Francisca ( 1852)
A casa
foi construída por Ignácio Silveira da Motta, o Barão de Vila Franca, casado com
Francisca Antônia Carneiro da Silva, filha do Visconde de Araruama, em 1852.
Ignácio foi presidente da província do Rio de janeiro e de mais dois estados
brasileiros. Foi condecorado em Niterói por ter levado rede de água para aquela
cidade.
Encontra-se hoje em ótimo estado de conservação e pertence aos descendentes da
Baronesa de Vila Franca. Nos seus jardins, árvores centenárias ainda guardam o
mesmo paisagismo da época de sua construção e todo mês de junho é realizado a
festa de Santo Antônio, o padroeiro da fazenda, havendo a procissão que passa
pelas antigas senzalas, hoje casa de colonos, que se encontram também em ótimo
estado de conservação.
-
Cia Engenho Central de Quissaman (1877)
Engenho
Central deQuissamã foi o 1º da América Latina (1877) Inaugurado em 12 de
setembro de 1877, foi o primeiro Engenho Central, em forma de cooperativa,
estabelecido no Brasil e na América do Sul.
Seu
maquinário foi todo importado e montado pela Cia. de Fives Lille que construiu
ramal ferroviário próprio que ligava as fazendas ao ramal da Leopoldina Railway,
em Conde de Araruama.
O
conjunto era constituído por edifícios que formavam uma grande praça. O prédio
da oficina possuía um relógio que hoje está na torre da Matriz.
Foram seus fundadores os grandes fazendeiros da região, que desativaram seus engenheiros particulares. Entre eles, João José Carneiro da Silva, Barão de Monte Cedro, grande incentivador da criação dos engenhos centrais no país.
Foram seus fundadores os grandes fazendeiros da região, que desativaram seus engenheiros particulares. Entre eles, João José Carneiro da Silva, Barão de Monte Cedro, grande incentivador da criação dos engenhos centrais no país.
O que sente o quissamaense por QUISSAMÃ
Quissamã,
terra em que ainda se encontra o mel, conheceu o seu esplendor na segunda metade
do séc. XIX, com o seu crescimento político. Foi neste período que surgiram as
grandes casas Senhoriais, arquitetura francesa e alemã, simbolizando o
nascimento escravista açucareiro na região.
Para
saber o que é Quissamã, é preciso perder-se nela. É preciso sair procurando
identificar todos os seus aspectos do meio ambiente que a caracterizam.
Quem
visita Quissamã tem a impressão de um pequeno mundo isolado. O seu passado
continua vivo lembrando as antigas sociedades dos engenhos e dos barões. Suas
Palmeiras Imperiais indicando as fazendas, sua história e seus "causos" são
lembranças de um tempo, de fatos ocorridos em um lugar que você gostará de
conhecer.
Referencia:
Prefeitura
Municipal de Quissamã
Quissamã
Diversidade de roteiros
A diversidade de roteiros é uma marca da cidade de Quissamã. Os que
gostam de turismo ecológico podem se aventurar em passeios de barco, que
oferecem diversos trajetos. Para os que gostam de história, cultura, a
agência local organiza visitas guiadas aos casarões históricos do ciclo
da cana-de-açúcar, espaços de cultura e ao Museu Casa de Quissamã. Há,
ainda, praias encravadas num santuário ecológico, que é o Parque
Nacional da Restinga de Jurubatiba. Em cada ponto, roteiros com sabores
diferentes, vale conferir.
Divulgação
Praia de João Francisco.
Raízes do Sabor
Mas Quissamã, além de tudo, tem um projeto muito interessante,
chamado Raízes do Sabor, que resgata a culinária afro-descendente usada
nas senzalas das antigas fazendas de cana-de-açúcar. O projeto é
desenvolvido com os descendentes de escravos da Fazenda Machadinha,
construída no século XIX, que continuam vivendo nas antigas senzalas.
As receitas estavam na cabeça de Carlos do Patrocínio, o seu
Carlinhos, que as aprendeu com o avô, último cozinheiro da fazenda.
Darlene Monteiro, gerente executiva da ONG Harmonia, Homem e Habitat,
com o apoio da Prefeitura de Quissamã, resgatou os pratos e, hoje, uma
visita guiada à fazenda permitirá que o turista conheça o “mulato
velho”, uma feijoada especial, feita com filé de peixe salgado e pedaços
de abóbora; a sopa de leite (carne-seca assada coberta com pirão de
leite); o “capitão de feijão”, bolinho de feijão temperado; tapioca com
sassá, um tipo de peixe pequeno; o “bolo falso” (farinha de mandioca,
queijo, ovos, coco, manteiga e leite); e a sanema, doce feito com
mandioca, ovos, coco e manteiga batida. A massa é enrolada e assada
dentro da folha verde da bananeira.
Chico Junior
Seu Carlinhos e a esposa, dona Gerusa
As histórias são muitas, como a do “capitão de feijão”, bolinho de
feijão temperado e que dispensa acompanhamentos. Dá para comer com a
mão. Reza a lenda que a cozinheira, propositalmente, colocava mais
feijão no fogo do que o necessário para a casa-grande e ainda metia
muita carne, porque a família gostava era de “feijão gordo”. Como não
havia geladeira, as sobras eram mandadas para as senzalas. A escrava
acrescentava água e farinha para engrossar e fazer uma espécie de pirão.
Desse pirão, ela moldava os bolinhos e alimentava as crianças enquanto
cantava canções em iorubá.
Chico Junior
Capitão de feijão
As narrativas continuam e chegam às sobremesas. O “bolo falso” não
tem esse nome por acaso. Num belo dia, a sinhá, grávida, teve um louco
desejo de comer bolo de aipim. Mas não era época de “ranca”, como era
chamada a colheita, e o cozinheiro teve de se virar com o que tinha.
Inventou o bolo de farinha de mandioca e adicionou queijo, ovos, coco,
manteiga e leite. Se a sinhá desconfiou não se sabe, mas ficou tão bom
que a receita tornou-se definitiva.
Chico Junior
O bolo falso
Já a sanema, doce feito também da farinha de mandioca, seria a
receita mais miscigenada, com ingredientes europeus, como o cravo da
Índia, e indígenas, como a própria mandioca e a folha de bananeira. Os
africanos fizeram a saborosa mescla agregando ovos, coco e manteiga
batida. A mistura é enrolada e assada dentro da folha verde. O resultado
é um doce suave numa massa densa e macia.
Sanema
O conjunto da Fazenda Machadinha é composto pelas ruínas do solar
construído pelo Visconde de Ururaí em 1867, a Capela de Nossa Senhora do
Patrocínio (1833) e dois blocos de senzala. Quem a construiu foi o
visconde, mas quem perseverou foram os escravos. Seus descendentes
continuam vivendo na antiga senzala, toda reformada pela prefeitura, que
mantém a estrutura original e, hoje, é o lar da comunidade.
Recentemente incorporou-se à Fazenda a Casa de Artes Machadinha, com
um restaurante onde podem ser saboreadas as delícias ali produzidas, um
local para apresentações de dança e música e uma lojinha com o
artesanato produzido na região.
Chico Junior
O restaurante da Casa de Artes
Ciclo do Açúcar
A herança gastronômica, cultural e histórica de Quissamã vem das
antigas fazendas de cana-de-açúcar. Foi no período do ciclo açucareiro
que o município viveu seus dias de esplendor – época de escravidão,
viscondes e duquesas. Muitas construções estão bem preservadas e vale
programar um tour pelas antigas casas-grandes. São mais de vinte,
destacando-se a Casa de Mato de Pipa, de 1777; Fazenda Santa Francisca,
de 1852; o Solar da Mandiqüera, 1875; Fazenda São Manoel, de 1886;
Fazenda Floresta, de 1893; e o Museu Casa de Quissamã, de 1826, que
pertenceu ao Visconde de Quissamã. Restaurada pela Prefeitura, ali
funciona o principal espaço cultural da cidade.
Fazenda Santa Francisca, de 1852, um dos símbolos do ciclo açucareiro na região.
Na Casa de Quissamã, de 1826, que pertenceu ao Visconde de Quissamã, funciona o principal espaço cultural da cidade.
Roteiros
Passeio de barco no canal Campos-Macaé.
De barco pode-se atravessar a Lagoa Feia, que de feia só tem o nome, e
adentrar o Canal das Flechas chegando à Barra do Furado, pequena vila
de pescadores situada no litoral norte de Quissamã. O canal forma uma
barra permanente com o mar. Conhecida pelos moradores locais como
Barrinha, é um ótimo local para banho.
O único parque nacional de restinga do mundo, o Jurubatiba abrange os municípios de Quissamã, Macaé e Carapebus, sendo 65% em Quissamã; é um dos atrativos mais interessantes da cidade. Apesar da entrada ainda não estar liberada pelo Ibama, o turista pode seguir até os bolsões encravados no parque e apreciar a riqueza da fauna e da flora nativa de rara biodiversidade. A Praia de João Francisco localiza-se em um desses bolsões, cercada pela natureza exuberante do parque. A praia fica a 14 km do Centro de Quissamã. Com estrada bem sinalizada e de fácil acesso, quiosques a beira-mar, banheiros públicos, eventos esportivos e culturais durante o verão, a praia tem a infra-estrutura necessária para o turista curtir a beleza selvagem do local.
Depois da aventura, a grande pedida é apreciar o maravilhoso robalo
preparado com todo carinho pela tia Liete, que também faz a moqueca mais
famosa da região. Como entrada, a dica é a porção de pitu, temperado
com azeite e alho. Para quem gosta, a cachaça de camboim ou de salsinha
são boas pedidas. Estas ervas nativas da restinga quissamaense deixam a
cachaça com o sabor suave; no linguajar dos moradores tiram a "maldade"
da cachaça.
Pastel de marisco
Quem visita João Francisco não pode deixar de experimentar o pastel
de marisco oferecido pelos bares e quiosques da praia. Para quem não
sabe, esse marisco, também conhecido como sarnambi, é um molusco
encontrado em praias onde a poluição ainda não aportou. De formato
triangular, o marisco pode ser comido simplesmente cozido, mas em João
Francisco os donos de bares e quiosques elaboraram receitas que merecem
destaque na gastronomia da região.
Dona Marta
Dona Marta explica que é preciso alguns cuidados para fazer a
iguaria. "Primeiro é preciso limpar bem, tirando a parte pretinha do
marisco; depois, lavar em água corrente para tirar toda a areia. Dá
muito trabalho." Depois de limpo, refoga-se o marisco com pimentão,
tomate, cebola, coentro e sal. Está pronto o recheio do pastel que tem
fama de ser afrodisíaco na região. Ela diz que é bom acrescentar um
pouco de água do mar para o marisco ficar com mais gosto. O marisco é
também utilizado em moquequinhas e risotos deliciosos feitos pela dona
Marta, mas também encontrados em outros quiosques, como o do seu Darcy e
no Restaurante do Maia.
O pastel de marisco e o bolinho de arraia da Dona Marta são famosos na cidade.
Para conseguir o marisco, dona Marta conta com pescadores locais que
fornecem a iguaria para toda a orla e chegam fresquinhos para o consumo
do visitante. Outra especialidade da casa é o bolinho de arraia, peixe
que existe em grande quantidade no litoral Norte Fluminense. Dona Marta
se especializou em fazer o bolinho do peixe, que se tornou o petisco
mais pedido do seu quiosque. "Depois de limparmos a arraia temos que
fermentar para tirar a pele. Desfiamos o peixe, misturamos com um pouco
de aipim e fritamos", diz a mestre-cuca. Para atender a clientela, dona
Marta abre o seu estabelecimento todos os dias às 6h da manhã e só fecha
quando o último cliente for embora, o que normalmente, fora do verão,
acontece por volta de meia-noite.
Doces
Quissamã guarda preciosos patrimônios históricos que através de sua
arquitetura narram o ciclo da cana-de-açúcar. Da arquitetura simples e
colonial do Mato de Pipa, representante única do século XVIII na região,
passando pela Casa Quissamã, hoje transformada em museu, e pela
imponente São Manoel, o visitante pode fazer uma verdadeira viagem
através do tempo. E uma viagem, para ser completa, precisa de beleza,
cheiro e sabor. Como não podia deixar de ser, os sabores mais marcantes
dos solares do ciclo da cana-de-açúcar são os seus doces. Eles podem ser
apreciados mediante visitas pré-marcadas aos solares, mas também em
alguns restaurantes como o Requinte, que oferece um dos quindins mais
maravilhosos da região. Feitos com ovos exclusivamente caipiras, o doce
foi tão apreciado pelo cantor Ed Motta que, durante um show em Quissamã,
subiu ao palco de amarelo em homenagem ao quindim.
O museu tem sido o ponto alto do turismo em Quissamã. Foi restaurado
pela prefeitura, que, além de recuperar o solar, adquiriu móveis e
quadros do século XIX, pertencentes a familiares do Visconde de
Araruama. Está aberto de quinta a domingo. Após a visita, onde guias
contam a história dos barões do açúcar, hábitos e costumes da época
áurea da cana-de-açúcar, o visitante pode relaxar no Bistrô da
Viscondessa, um café anexo à construção de 1826.
O destaque do bistrô fica por conta do pastel de nata, doce típico
português, cuja receita foi passada durante séculos pelas sinhazinhas e
hoje é mantido por dona Carmem Queirós Mattoso. A grande discussão é
qual o melhor pastel de nata, pois através dos tempos as receitas foram
se modificando e, segundo dona Carmem, é preciso muita sensibilidade
para fazer. "Minha mãe aprendeu a fazer o doce com a sogra, conhecida
como Catita, mas nunca deixava eu fazer. Eu ficava apenas olhando. Para
acertar na receita, tive que treinar durante alguns anos. Todas as
sextas-feiras eu fazia o pastel de nata e meus irmãos, irmãs e primas,
diziam: “Está melhorando mas não é igual ao da mamãe.” “Um belo dia saiu
bom", explica, ela que faz o doce sob encomenda e fornece para o
bistrô.
Um dos grandes segredos é a massa, que para ficar folhada tem que ser
aberta e finíssima. “Ao se abrir a massa do pastel de nata ela tem que
estar tão fina que se possa ler um poema de amor através dela”. Dona
Carmem tem outra "técnica": é preciso ver as ranhuras do mármore cinza,
herdado da avó, através da massa.
Depois de abrir a massa, deve-se passar um pouco de gordura animal e
farinha de trigo; logo após, enrolar em cilindros, embrulhar em
plástico ou papel filme e colocar na geladeira. Antigamente se enrolava a
massa em folhas de bananeira, para conservar até o dia seguinte. O doce
era obrigatório nas grandes festas de Quissamã, como os casamentos. Os
mais famosos eram os da Mato de Pipa e os da Fazenda do Melo,
curiosamente as duas fazendas mais antigas de Quissamã.
O creme é outro passo importante. Dona Carmem usa nata fresca,
açúcar, gemas, água e baunilha. Outra versão utiliza nata, leite,
açúcar, gemas e raspas de limão.
No bistrô encontramos ainda quindim, tartine de frutas, torta de
limão e biscoitos finos caseiros. Aberto de quinta a domingo, no horário
do museu. A dona do bistrô, Denise Fontenelle, abre exceção às quintas e
sextas, ficando aberta para aqueles que quiserem apreciar as belíssimas
palmeiras imperiais sob o céu estrelado
Nenhum comentário:
Postar um comentário