Brasileiros elegem presidente, com Bolsonaro favorito
AFP / Mauro PIMENTELCandidato Jair Bolsonaro vota no Rio de Janeiro, em 7 de outubro
Os brasileiros votavam neste domingo (7) em uma clima de tranquilidade que contrasta com a agressiva campanha que polarizou o país e que deixou o candidato ultradireitista Jair Bolsonaro favorito no primeiro turno.
Após votar pela manhã na zona oeste do Rio de Janeiro, sob forte esquema de segurança, Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL), reiterou sua expectativa de vencer no primeiro turno.
"No dia 28, vamos para a praia", declarou o candidato de 63 anos, referindo-se à data do segundo turno.
Bolsonaro teve um forte crescimento nas pesquisas depois de ter sido esfaqueado durante um comício em 6 de setembro em Juiz de Fora (MG), e chegou nas pesquisas deste sábado pela primeira vez aos 40% dos votos válidos (que excluem os votos brancos e nulos).
Tirou, ainda, entre 15 e 16 pontos de vantagem ao seu seguidor mais imediato, Fernando Haddad, substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) à Presidência.
"O Brasil não pode continuar no rumo do socialismo e não queremos amanhã que o Brasil seja uma Venezuela", disse Bolsonaro.
Haddad votou na zona sul de São Paulo, onde foi recebido por militantes aos gritos de "Brasil, urgente, Haddad presidente", enquanto vizinhos batiam panelas em rejeição.
AFP / EVARISTO SAHomem vota em Brasília, em 7 de outubro
Em declarações à imprensa, o candidato disse estar convencido de que os brasileiros voltarão às urnas em três semanas.
As pesquisas indicam que em um segundo turno os dois políticos, que são ao mesmo tempo os favoritos e os que têm o maior índice de rejeição, estariam em empate técnico, com tendência favorável a Bolsonaro (45%-43% segundo o Ibope e 45%-41% segundo o Datafolha).
Clara Gentil, uma eleitora do Rio de Janeiro, se apresentou para votar em Copacabana vestindo uma camisa com o "#EleNão", lema da campanha lançada contra Bolsonaro, que ostenta um longo histórico de declarações misóginas, racistas e homofóbicas, e que justificou os métodos de tortura da ditadura militar (1964-1985).
"Acho que parte dos brasileiros foram manipulados para votar pelo ódio. Então esta eleição é mais importante que outras. Agora há uma recessão, fome, gente morando nas ruas, sem emprego", explicou.
Roseli Milhomem, uma advogada de Brasília de 53 anos, acredita, por sua vez, que a solução para os problemas do Brasil passa por Bolsonaro.
"Temos que eleger alguém que mude as coisas de verdade. Chega de corrupção, nosso país é muito rico para estar em mãos erradas", declarou.
Um total de 147,3 milhões de eleitores estão habilitados a votar em um pleito que também escolherá deputados, senadores e governadores.
Um total de 280.000 policiais e militares fazem a segurança dos 83.000 centros de votação pelo país.
Os resultados vão começar a ser divulgados após o encerramento da votação no estado do Acre, às 19h00 no horário de Brasília.
O vencedor para o cargo à presidência substituirá em 1º de janeiro o presidente Michel Temer (MDB), o mais impopular desde o fim da ditadura militar (1964-1985).
- Guerra nas redes -
AFP/Arquivos / EVARISTO SA, Nelson ALMEIDAJair Bolsonaro em Brasília, em 5 de setembro; e Fernando Haddad, em São Paulo, em 19 de setembro de 2018
A campanha esteve marcada pela impugnação da candidatura de Lula, que era o favorito, pelo atentado contra Bolsonaro e por uma guerra de notícias falsas e desmentidos nas redes sociais, que tiraram o protagonismo da propaganda na TV.
Os candidatos do centro nunca conseguiram decolar ou seu apoio derreteu rapidamente, em um ambiente passional. O terceiro colocado, Ciro Gomes (PDT), tem 11% das intenções de voto.
Haddad, ex-prefeito de São Paulo pouco conhecido em outras regiões, tentou se identificar com Lula e, assim, pôde herdar metade do eleitorado de seu mentor, sobretudo entre a população pobre, que melhorou suas condições de vida sob seus mandatos (2003-2010).
Mas também herdou o ódio que Lula inspira entre aqueles que condenam pelos escândalos de corrupção, revelados pela Operação Lava Jato e pela crise econômica em que mergulhou o país sob o mandato de sua herdeira política, Dilma Rousseff, deposta em 2016 pelo Congresso.
Na última semana, Bolsonaro recebeu o apoio de poderosos setores, como o agronegócio e as igrejas evangélicas.
AFP/Arquivos / NELSON ALMEIDAManifestante participa de protesto contra Jair Bolsonaro, em 6 de outubro em São Paulo
Também de jogadores de futebol, entre eles Ronaldinho Gaúcho, que publicou uma foto no Twitter vestindo uma camisa com o número 17 de Bolsonaro.
Em seu último vídeo no Facebook, o candidato prometeu governar "inclusive" para ateus e gays.
"Vamos fazer um governo para todos, independentemente da religiosa, até para quem é ateu. Vamos fazer um governo para todo mundo, para os gays, inclusive, porque tem gay que é pai, que é mãe", publicou.
Um dos temores é que uma vitória de Bolsonaro leve da esfera virtual para as ruas a intolerância contra grupos minoritários.
Bolsonaro "não tem um discurso de diálogo, tem um discurso de guerra", afirma Ilana Strozenberg, professora de antropologia social na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Sua chegada ao poder representaria "um risco de exacerbação das diferenças, na medida em que seu discurso expressa preconceitos (...) Que, ante essa posição de um governante, poderiam se tornar mais fortes do que já são", explica.
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