quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Ex-procuradora-geral venezuelana abre cúpula no Brasil com promessa de denunciar Maduro

AFP / Sergio LIMALuisa Ortega desembarca no aeroporto de Brasília
Foragida de seu país, a ex-procuradora-geral venezuelana Luisa Ortega vai inaugurar nesta quarta-feira, em Brasília, uma reunião de cúpula de chefes de Ministérios Públicos do Mercosul, com a promessa de denunciar vínculos do presidente Nicolás Maduro com o esquema de corrupção da Odebrecht.
A chegada da dissidente do chavismo a Brasília foi precedida pelo anúncio de que Caracas tentará pedir sua prisão internacional via Interpol.
Este é o mais recente capítulo da crise que isolou a Venezuela de seus sócios regionais, após a instalação de uma Assembleia Constituinte com poderes absolutos, considerada por muitos como ruptura da ordem democrática.
Ortega chegou sorridente à capital brasileira na madrugada desta quarta, em meio a um forte esquema de segurança, e deixou claro qual é seu objetivo.
"Sim, vou falar da Odebrecht, do caso de corrupção na Venezuela e da minha situação", disse a ex-procuradora, que afirma ter provas de supostos pagamentos ilegais da Odebrecht a integrantes do governo venezuelano, incluindo Maduro.
Horas antes, em Caracas, o presidente venezuelano falou sobre a ex-funcionária, apoiadora do ex-presidente Hugo Chávez mas que rompeu com Maduro em março, após denunciar uma ruptura da ordem constitucional no país caribenho.
"A Venezuela vai solicitar à Interpol um código vermelho a estas pessoas envolvidas em crimes graves", destacou Maduro em coletiva de imprensa.
A ex-procuradora de 59 anos saiu de Bogotá um dia depois que o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, lhe ofereceu asilo. Rumo ao Brasil, ela fez escala no Panamá.
Ortega, de 59 anos, foi destituída no dia 5 de agosto. Chavista histórica, decidiu enfrentar Maduro, que a denunciou por supostamente estar envolvida em um esquema de corrupção.
"Andas com a oligarquia colombiana, com os golpistas brasileiros. Diga-me com quem andas e te direi quem és", atacou Maduro.
Sua chegada deixou o governo de Michel Temer em silêncio, e até a própria Procuradoria Geral da República (PGR), que a convidou, preferiu não fazer declarações sobre o significado político da visita. O certo é que na reunião ela se sentará junto a seu colega brasileiro, Rodrigo Janot.
Não se sabe se a Interpol aceitará o pedido de prisão anunciado por Maduro. Está previsto nos estatutos da polícia internacional que é "rigorosamente proibido intervir em questões ou assuntos de caráter político, militar, religioso ou racial".
Para Mauricio Santoro, professor de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, há uma mensagem clara nessas viagens de Ortega, primeiro para a Colômbia e agora para o Brasil.
"É algo que ressalta ainda mais essa dissonância entre o governo da Venezuela e a maioria dos países vizinhos", avalia Santoro.
Mergulhado em inúmeros escândalos de corrupção, revelados pela Operação Lava Jato, o Brasil vive um confronto aberto entre o poder Judiciário e o Executivo.
“Brasil como um todo, o presidente Temer, e sua politica externa, realmente está num momento de declínio, perdeu muito a importância que teve no passado, mas tem novos atores que estão despontando no reconhecimento internacional da Lava Jato. Juízes federais brasileiros, o Ministério Publico, a Policia Federal, ganharam um reconhecimento externo importante também”, acrescenta Santoro.

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