segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Força Armada, um poderoso ator político e econômico na Venezuela

AFP/Arquivos / FEDERICO PARRAO ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino López (D), superministro do gabinete do presidente Nicolás Maduro (C), acompanha cerimônia de comemoração dos 190 anos da Batalha de Ayacucho no Panteão Nacional, em Caracas, 9 de dezembro de 2014. À esquerda, a primeira-dama Cilia Flores
A Força Armada venezuelana tem amplo poder tanto no gabinete do presidente Nicolás Maduro, quanto em setores estratégicos, como o petróleo, e está dotada de armamento russo e chinês, que inclui aeronaves Sukhoi, mísseis e tanques.
A Força Armada Nacional Bolivariana (FANB), como se denomina oficialmente, assegurou neste domingo ter frustrado um ataque "terrorista" contra um forte militar em Valencia (norte), mas circulam boatos de que teria havido um motim de militares nesta cidade.
A FANB se declara "chavista, nacionalista e anti-imperialista" e sua cúpula jura "lealdade absoluta e incondicional" a Maduro.
- Poder armado -
A FANB conta com 365.315 efetivos (terrestre, naval, aéreo, guarda nacional, reserva) - quase a mesma quantidade que o Brasil, que tem 366.614 -, segundo a Rede de Segurança e Defesa da América Latina, um centro de análise sobre o tema, formado por especialistas da região.
Em 2006, os Estados Unidos proibiram a venda e a transferência de armamento e tecnologia militar norte-americana à Venezuela, razão pela qual o governo do então presidente, Hugo Chávez (1999-2013), recorreu a novos "aliados estratégicos": Rússia e China.
A ONG Control Ciudadano, que monitora a atividade militar, adverte que embora os acordos militares sejam confidenciais, determinou-se que a Rússia forneceu à Venezuela fuzis, lança-foguetes antitanques, blindados, tanques de guerra, veículos de combate de infantaria, artilharia, sistemas de defesa antiaérea, aviões de combate, helicópteros e mísseis.
A China, por sua vez, dotou a Venezuela de equipamentos de comunicação, indumentária militar, dispositivos antimotins, radares, blindados, bem como aviões e helicópteros.
- Poder político -
Dos 32 ministros no gabinete, doze são militares: dez na ativa e dois da reserva.
No governo de Maduro, a participação militar aumentou de 25% em 2014 para 37,5% em junho passado, segundo a Control Ciudadano.
A Força Armada é comandada pelo general Vladimir Padrino López, ministro da Defesa, e pelo general Remigio Ceballos, comandante Estratégico Operacional.
Padrino López é um tipo de "superministro", a quem os demais membros do gabinete devem prestar contas, segundo o disposto por Maduro em 2016.
AFP/Arquivos / FEDERICO PARRASoldado da Força Armada Nacional Bolivariana exibe rifles em fábrica militar em Maracaibo, 8 de março de 2016
Também estão em poder dos militares os ministérios da Presidência; Interior e Justiça; Alimentação; Agricultura e Terras; Pesca e Aquicultura; Transporte; Hábitat e Moradia; Energia Elétrica; Obras Públicas; Fronteira; Eco-socialismo e Águas. Quase todas pastas relevantes.
A oposição responsabiliza o coronel da reserva Rodolfo Marco Torres, ministro de Alimentação, pela escassez de alimentos básicos que, segundo o instituto Datanálisis, chega a 60%.
O ministro de Hábitat e Moradia, general Manuel Quevedo, lidera um dos programas bandeira do governo, no âmbito do qual foram entregues, segundo Maduro, 1,7 milhão de apartamentos subsidiados.
A oposição critica a ampla participação dos militares no governo e sua "politização". "O pior erro que Chávez cometeu foi ter tirado os militares dos quartéis. Quem vai mandá-los de volta?", disse o deputado e ex-presidente do Parlamento, Henry Ramos Allup.
- Poder econômico -
Um canal de televisão, um banco, uma montadora de carros e uma empreiteira são algumas das empresas controladas pelos militares venezuelanos, que somaram no ano passado a Companhia Anônima Militar de Indústrias Mineiras, Petrolíferas e de Gás (Camimpeg).
Esta indústria cumpre tarefas similares às da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA), como reabilitar e manter poços, e vender e distribuir produtos da indústria mineradora, petroquímica, petroleira e gasífera.
A Camimpeg é o coração do "motor industrial militar", uma das propostas de Maduro para enfrentar o que considera uma "guerra econômica" da oposição e de empresários para desestabilizar seu governo. Analistas a catalogam como uma entidade com as mesmas faculdades da PDVSA.

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