Nesses casos, a recessão, segundo ela, foi imposta como uma saída para todos os problemas.
Dilma Rousseff recepciona Enrique Iglesias, Secretário-Geral Iberoamericano, em Salvador |
De acordo com a presidente, só se sai da crise "adotando práticas corretas práticas que não impliquem no desperdício dos recursos públicos, que impliquem em disciplina, e combinadas com políticas de investimento, de expansão de consumo e de inclusão social".
No encontro, Dilma conclamou os países da América Latina e Caribe a uma ação conjunta para o enfrentamento da crise. "Eu manifestei minha opinião no G20, em Cannes, a preocupação do Brasil com o risco que a instabilidade, tanto na eurozona quanto nos Estados Unidos, tem sobre nossos países, porque pode prejudicar nossas conquistas sociais e agravar as desigualdades sociais e raciais."
A presidente lembrou que os países latinos têm "uma longa prática em relação ao FMI [Fundo Monetário Internacional]", e disse que a experiência não foi boa. "Nós só tivemos a possibilidade de crescer pelos nossos pés quando conseguimos pagar o fundo monetário e, de fato, não ter mais de aceitar as suas proposições".
No final do seu discurso, Dilma relativizou e disse que "cada país é um país, cada processo é um processo, cada tempo histórico é um tempo histórico". "Nós levamos 20 anos [para começar a crescer]. Espero que os outros países levem muito menos tempo do que nós", declarou.
ESCRAVIDÃO
Em Salvador, a presidente participou do encerramento do Encontro Iberoamericano de Alto Nível em comemoração ao Ano Internacional dos Afrodescendentes.
No encontro, foi proposta a criação de um fundo internacional para financiar políticas públicas de compensação e reparação racial em países com formação afrodescendente.
Dilma disse que a desvalorização do trabalho foi fruto da escravidão no Brasil. "A invisibilidade dos pobres e dos miseráveis do Brasil e a visão de que era possível o país crescer e se desenvolver sem incluir, sem distribuir renda (...) foi a herança mais dramática" daquele período, declarou ela.
Segundo a presidente, o combate à pobreza, geração de emprego e a proteção da saúde materno-infantil são, hoje, "importantes fatores de inclusão social dos afrodescendentes, até porque, no Brasil, a pobreza tem a sua face, negra e feminina, e muitas vezes infantil". "E resgatar essas populações é o objetivo central do meu governo, em continuidade do governo do presidente Lula."
Governo esconde
supersalário de servidor
O governo ignorou neste ano um decreto presidencial que manda tornar públicos os supersalários pagos a servidores do Poder Executivo.
O decreto 3.529, baixado no ano 2000 e ainda em vigor, manda o Ministério do Planejamento divulgar a cada quatro meses várias informações, como o maior e o menor salários pago em cada repartição.
Mas o decreto foi cumprido pela última vez em 18 de janeiro de 2010, quando o governo apontou casos de servidores que recebiam até R$ 12 mil por mês além do teto previsto pela Constituição.
Não foram divulgados nomes, mas o governo apontou os valores e os órgãos em que os servidores trabalhavam.
O teto salarial previsto pela Constituição é o salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal, hoje R$ 26,7 mil.
Mas Executivo, Legislativo e Judiciário adotam critérios diferentes para definir quais gratificações são consideradas para enquadrar os salários no teto constitucional.
No início do ano passado, o governo informou que havia pelo menos 18 funcionários que tinham seus vencimentos reduzidos para que o excedente fosse eliminado.
Um servidor do Universidade Federal do Ceará, por exemplo, recebia R$ 37,1 mil. Os supersalários divulgados na época se concentravam em universidades e eram resultado de decisões judiciais.
Na ocasião, a AGU (Advocacia-Geral da União) prometeu fazer um pente-fino e tentar reverter algumas decisões, mas o órgão aguarda informações do Ministério do Planejamento e ainda não agiu.
Em resposta a questionamento da Folha, o Ministério do Planejamento não esclareceu o motivo pelo qual deixou de publicar as informações exigidas pelo decreto.
O ministério observou que publica várias informações sobre a estrutura salarial das carreiras do funcionalismo e afirmou que esses dados oferecem "maior profundidade".
Mas o ministério só divulga os salários-base, sem indicar os adicionais que em muitos casos fazem o teto constitucional ser ultrapassado.
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