quarta-feira, 23 de novembro de 2011

"Participação de leitor é o 'coração' do novo jornalismo"

Na época das mídias sociais, quando praticamente qualquer internauta pode criar conteúdo escrito ou publicar fotos, a colaboração está se tornando o combustível do novo jornalismo digital.

Essa é a opinião de Meg Pickard, diretora de Estratégias para Mídias Digitais do jornal britânico "The Guardian", que participou hoje do primeiro dia de palestras do 5º Seminário Internacional de Jornalismo Online, que acontece em São Paulo até amanhã (24).

"A participação virou o coração do novo jornalismo. A tecnologia já permite que os leitores participem de todo o processo produtivo das notícias", disse.


As oportunidades de participação virão da abertura de canais de comunicação mais interativos por parte dos veículos de comunicação.

Isso permitirá que os leitores participem como fontes de informação sobre determinados assuntos e até que indiquem quais os principais problemas que afetam suas comunidades.
"O desafio está em como criar essa interação com os leitores, fazer com que eles fiquem mais leais e dispostos a voltar e comentar as notícias", afirmou.

A versão on-line do Guardian tem 50 milhões de visitantes mensais, segundo Pickard.
A circulação do jornal impresso é de 232.566 exemplares por dia, segundo dados de setembro da ABC, organização que observa os dados do setor no Reino Unido.

Pickard citou dois exemplos de cobertura jornalística que envolveu a participação ativa dos leitores do "Guardian".

Uma delas aconteceu há dois anos, com a investigação das despesas dos parlamentares britânicos. Segundo Pickard, na ocasião foram publicados 500 mil documentos referentes ao assunto na internet.
O jornal incentivou os leitores a observar os dados de seus parlamentares preferidos e relatar eventuais suspeitas à equipe editorial por um canal na internet.

"A participação surpreendeu e em três dias tivemos mais de 24 mil leitores engajados. Muitas das suspeitas relatadas renderam reportagens investigativas", disse Pickard.

Outro episódio veio neste ano, com a criação de um programa para os leitores vigiarem as estradas próximas às suas cidades.

Foi criado um mapa a partir do Google Maps para monitorar quais rodovias estavam em piores condições e, com isso, cobrar as autoridades por reformas.

CONSUMO DE NOTÍCIAS
 
Para a executiva, a fase participativa intensiva dos leitores é possível neste momento não só em virtude das ferramentas tecnológicas que permitem a interação, mas também porque eles já se acostumaram ao novo formato das relações sociais digitais.

"Consumir conteúdo tempos atrás era uma atividade praticamente solitária, com tempo previsível e pouca interação com quem escrevia. Agora esses leitores não são mais passivos, gostam do tempo real e conseguem lidar com múltiplas interfaces e criam também seus conteúdos", ressaltou.

Pickard lembrou que por essa afinidade com a interação digital que os leitores estão mais confortáveis em participar do dia a dia editorial.

O desafio para todas as organizações é aproveitar esse momento para manter o engajamento aceso sobre os assuntos mais populares e permitir o diálogo contínuo com os leitores.

"O novo jornalismo está na intersecção das pessoas, produtos tecnológicos e propósito da notícias", disse.

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