terça-feira, 25 de fevereiro de 2014


Eles trocam o dia pela noite...

Integrantes das escolas viram a madrugada na preparação para fazer bonito nos desfiles

MARCELLO VICTOR
Rio - Na cidade onde a temperatura no verão bate facilmente os 40 graus e a sensação térmica chega aos 50, as madrugadas enluaradas, mais frescas e silenciosas, fazem do Sambódromo o lugar mais badalado por integrantes das comissões de frente e casais de mestre-sala e porta-bandeiras das escolas de samba, os únicos autorizados a ensaiar na Avenida durante a semana.
No palco principal dos desfiles, eles testam na calada da noite, longe dos olhos do público, os segredos e truques para o maior espetáculo popular do mundo a céu aberto. Para muitos dos componentes, o horário requer sacrifícios na busca do melhor desempenho para faturar o título de 2014. E não importa o grupo. Em seu primeiro ano na comissão de frente da Unidos de Padre Miguel — sétima escola do Grupo de Acesso A, que desfila na madrugada de domingo —, o professor de Biologia, Física e Química, Jonas Pacheco, de 33 anos, enfrenta uma verdadeira maratona para participar dos ensaios.
Mestre-salas, porta-bandeiras e comissões de frente são os únicos autorizados a ensaiar durante a semana no Sambódromo. Na foto, o casal da Imperatriz, Rafaela e Phelipe
Foto:  Osvaldo Praddo / Agência O Dia
De pé desde as 6h, ele encara diariamente uma jornada de aula até as 22h, em três colégios de Campo Grande, na Zona Oeste, onde trabalha e mora. Às 23h, já está na Marquês de Sapucaí para ensaiar de meia-noite até 3h com os integrantes da ala. De manhã, reinicia a saga. 
“Dá bastante sono durante o dia. Mas penso no resultado do trabalho, em tudo que esse esforço pode dar na Avenida. Se mantivermos o que estamos fazendo nos ensaios de madrugada, vamos subir para o Grupo Especial. É o melhor horário: mais fresco, menos barulho. A escola tem nos dado um ótimo suporte”, acredita o 'professor de resistência'. Na noite de terça passada, dia da prova da fantasia da comissão de frente, Jonas foi dormir às 4h45 e às 6h já estava de pé para o trabalho.
Prevenido, o mestre usa fitas terapêuticas nas pernas para evitar dores e lesões. Os ensaios na Sapucaí poderão ser realizados até amanhã. No dia seguinte, a pista será pintada novamente. Na sexta-feira, acontece o primeiro dia de desfiles do Grupo de Acesso A.
Sacrifício: Unidos de Padre Miguel busca na noite o seu ‘lugar ao sol’
Foto:  Osvaldo Praddo / Agência O Dia
Como em treino de Fórmula 1, coreógrafo da União da Ilha aposta na pista vazia 
Estreante em comissões de frente, o alpinista industrial Carlos Clay, de 40 anos, conhecido como Jacaré dos Patins, ganha a vida se apresentando em praças públicas das zonas Sul e Norte, entre as 15 e 21h. Após uma parada em casa, no Engenho Novo, ele enfrenta três horas de treino com os colegas da União da Ilha do Governador. Tudo para não decepcionar o coreógrafo Jaime Aroxa, que o convidou para representar os super-heróis no enredo ‘É brinquedo, é brincadeira; a Ilha vai levantar poeira’.
“Ensaiar nesse horário é mais tranquilo, mais fresco e proporciona mais concentração. Mesmo com toda essa intensidade, me recupero rápido”, disse, animado, Jacaré, rodopiando com a cabeça ao solo durante o aquecimento para o ensaio. Para Jaime Aroxa, ensaiar no local do espetáculo é fundamental para o resultado no dia do desfile. Ele faz uma analogia ao treino de Fórmula 1, onde os pilotos treinam com a pista vazia.
Jacaré dos Patins se equilibra para estar na Avenida para os ensaios
Foto:  Osvaldo Praddo / Agência O Dia
Para o coreógrafo, a madrugada é ideal para ensaiar. “Sou igual a vampiro. Produzo melhor depois de meia-noite. Se fizermos um bom ensaio com o palco vazio, no dia tudo será muito melhor”, decreta ele, que já coreografou comissões da Porto da Pedra, Vila Isabel, Caprichosos de Pilares, Mangueira e Mocidade.
Casal muda horário para os ensaios 
Ensaiando freneticamente desde janeiro, a porta-bandeira da Imperatriz Leopoldinense, Rafaela Theodoro, 21, concilia a rotina diária de treinos no Sambódromo com a Faculdade de Nutrição na UniSuam. Em acordo com o mestre-sala Phelipe Lemos e a coreógrafa Ana Formighieri, o horário foi adequado da noite para o início da madrugada, o mesmo previsto para a apresentação da Verde e Branca da Leopoldina (por volta de 1h20).
“É muito difícil, mas sempre dá para dar um jeitinho. Amo dançar, ser porta-bandeira. Tenho muito sono durante o dia. Mas essa não é hora de parar. Tento tirar parte das horas do dia que sobram descansando”, entrega. Já Phelipe se dedica exclusivamente à escola. Dorme oito horas por dia e tem uma alimentação balanceada, para defender o enredo que homenageia o ex-jogador Zico.

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