sexta-feira, 21 de abril de 2017

Distúrbios e saques em mais uma noite de violência em Caracas

AFP / FEDERICO PARRAOpositores venezuelanos durante protesto, bloqueados pela Guarda Nacional, contra o governo de Nicolás Maduro, em Caracas, em 1º de abril de 2017
Caracas foi cenário na quinta-feira e na madrugada de sexta-feira de saques e distúrbios que obrigaram a retirada de mais de 50 crianças de um hospital, em uma nova jornada da violência que já deixou oito mortos em três semanas de protestos contra o governo.
Confrontos entre as forças de segurança e manifestantes radicais, o uso de gás lacrimogêneo, incêndio de barricadas, explosões, ataques contra lojas e bloqueios de avenidas afetaram as zonas oeste e sul da capital, com maior gravidade em El Valle.
Cinquenta e quatro crianças foram retiradas do hospital infantil de El Valle, em um incidente confuso.
O governo afirma que grupos armados "contratados pela oposição" atacaram o local, o que motivou a retirada dos pacientes. Mas os opositores afirmam que a medida foi motivada pelo uso das bombas e gás lacrimogêneo pela Guarda Nacional para tentar controlar os distúrbios.
Moradores da região denunciaram nas redes sociais que em El Valle foram registrados tiros e o uso de gás lacrimogêneo em alguns protestos contra o presidente Nicolás Maduro.
Um caminhão foi parcialmente incendido, depois que foi atingido por coquetéis molotov.
"O 'dictaduro' ordenou a seus capangas a repressão de El Valle, em Caracas. O que lhe resta, assim fazem todos antes de sair do poder", disse o líder opositor Henrique Capriles.
O governo acusou os dirigentes da oposição pela violência.
"Estes delinquentes querem vender que a Venezuela é um caos e o país está em calma", afirmou Freddy Bernal, dirigente do governante Partido Socialista, em referência à oposição.
- Tensão e preocupação mundial -
AFP / Anella RETA, Gustavo IZUSReações às manifestações na Venezuela
Os confrontos e distúrbios aconteceram após um dia em que milhares de pessoas protestaram nas ruas da zona leste da capital para exigir eleições gerais, um dia após uma gigantesca mobilização da oposição que deixou três mortos.
Governo e oposição trocam acusações a respeito das vítimas fatais: oito pessoas morreram desde o início das grandes manifestações no dia 1 de abril.
Além disso, centenas de pessoas ficaram feridas ou foram detidas, de acordo com a ONG Foro Penal.
A elevada tensão na Venezuela provoca inquietação internacional. Onze países latino-americanos, a União Europeia, a ONU e organizações como a Anistia Internacional pediram ao governo venezuelano garantias aos protestos pacíficos.
O governo dos Estados Unidos e o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, que chama Maduro de "ditador", fizeram duras advertências ao governo chavista, acusado de "repressão".
"A violência na Venezuela é estimulada por Almagro e os governos alinhados com planos intervencionistas do Departamento de Estado dos Estados Unidos", disse a chanceler Delcy Rodríguez ao comentar os incidentes das últimas horas.
Os protestos começaram após sentenças do principal tribunal do país, que retiraram a imunidade dos deputados e assumiu as funções do Parlamento, único poder público controlado pela oposição. A pressão internacional provocou a anulação parcial das sentenças.
Maduro, cujo mandato prossegue até 2019, afirma que "a direita extremista venezuelana" busca um golpe de Estado com o apoio do governo de Donald Trump. Mas a oposição insiste que deseja retirar o presidente do poder pela via eleitoral.
Nicolás Maduro rejeita uma antecipação das eleições e pede aos adversários um diálogo, assim como o abandono do que chama de "agenda golpista".
De acordo com as pesquisas, sete em cada 10 venezuelanos reprova o governo, asfixiados por uma severa escassez de alimentos e remédios, além de um inflação que segundo o FMI deve alcançar 720,5% este ano, a maior do mundo.

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