sexta-feira, 28 de abril de 2017

Protestos e confrontos marcam greve contra plano de austeridade de Temer

AFP / Miguel SCHINCARIOLEstação de metrô fechada durante greve geral contra reformas feitas pelo governo, em São Paulo, em 28 de abril de 2017
Confrontos entre policiais e manifestantes, paralisação de diferentes categorias, que afetaram o funcionamento dos transportes e das escolas, marcaram a greve geral convocada para esta sexta-feira contra as medidas de austeridade do presidente Michel Temer em um país que vive sua pior crise em décadas, mergulhado na recessão e com níveis recorde de desemprego.
No começo da tarde, quando as principais passeatas estavam previstas, o centro do Rio virou um campo de batalha, enquanto policiais dispersavam com bombas de gás lacrimogêneo cerca de dois mil manifestantes que se concentravam em frente à Assembleia Legislativa, constataram jornalistas da AFPTV.
Os confrontos se estenderam ao cair da noite no entorno da Cinelândia, também no centro da cidade, cercada de policiais da tropa de choque, que dispersavam com gás grupos que se reuniam nas ruas vizinhas.
Ao menos oito ônibus foram incendiados na Lapa, por grupos de jovens que levantaram barricadas e destruíram o mobiliário urbano, enquanto outros manifestantes tentavam abandonar o local em meio à fumaça dos incêndios e das bombas de gás lacrimogêneo.
Na praça, a multidão ouvia oradores e repetia "Fora Temer!".
Ao reagir às manifestações, Temer destacou que os protestos convocadas para esta sexta-feira "ocorreram livremente em todo país". "Houve a mais ampla garantia ao direito de expressão, mesmo nas menores aglomerações. Infelizmente, pequenos grupos bloquearam rodovias e avenidas para impedir o direito de ir e vir do cidadão, que acabou impossibilitado de chegar ao seu local de trabalho ou de transitar livremente".
"O governo federal reafirma seu compromisso com a democracia e com as instituições brasileiras. O trabalho em prol da modernização da legislação nacional continuará, com debate amplo e franco, realizado na arena adequada para essa discussão, que é o Congresso Nacional".
Já pela manhã, a polícia interveio contra ativistas que bloqueavam ruas de São Paulo e de outras cidades.
Trata-se, segundo a Central Única dos Trabalhadores (CUT), da primeira greve geral convocada no país desde junho de 1996, contra as privatizações e a flexibilização dos direitos trabalhistas impulsionadas pelo governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Agora, as denúncias apontam em particular aos projetos de reforma do sistema de aposentadorias e, novamente, à flexibilização dos contratos de trabalho.
As duas iniciativas estão em votação no Congresso, como parte do programa do governo para arrumar as contas e tirar o Brasil da pior recessão de sua história.
Segundo dados oficiais publicados nesta sexta-feira, o desemprego da maior economia latino-americana alcançou um novo recorde, 13,7%, com 14,2 milhões de pessoas em busca de trabalho.
Tanto para a CUT, ligada à esquerda, quanto para a Força Sindical (FS), o dia foi um sucesso. Segundo a FS, quase 40 milhões de pessoas aderiram à greve.
"É uma clara demonstração de que as pessoas decidiram parar em protesto contra a retirada dos direitos que sofrem por parte do governo", afirmou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), em entrevista à rádio Brasil Atual.
"É uma satisfação saber que o povo brasileiro está tomando consciência", acrescentou o ex-líder sindical, favorito nas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais de 2018, apesar de responder a cinco ações judiciais, a maioria relacionada ao escândalo de corrupção na Petrobras.
Para o governo, ao contrário, a paralisação foi um fracasso: "Estão impedindo que as pessoas cheguem a seus locais de trabalho. Em uma primeira análise, isto evidencia que é uma greve que não existe. É mais uma greve de sindicatos perturbados pelas decisões do Congresso", disse o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, à rádio CBN.
São Paulo
Em São Paulo foram registrados alguns confrontos entre manifestantes que obstruíam importantes vias da cidade e a polícia, provocando grandes congestionamentos.
Depois do meio-dia, os trens e o metrô voltaram a funcionar parcialmente, mas os ônibus continuavam paralisados.
Segundo um repórter da AFP, as lojas registravam uma adesão parcial à paralisação.
"Não podemos mais ficar calados, com um governo que não é legítimo, que não foi eleito, que promove uma desarticulação dos direitos dos trabalhadores e do povo brasileiro", disse Ricardo Jacques, bancário paulista.
Metalúrgicos, petroleiros, funcionários da saúde e dos Correios também aderiram à greve. Uns 60.000 trabalhadores se ausentaram dos trabalhos nas fábricas do cinturão industrial de São Paulo, paralisando montadoras como Mercedes ou Ford, informou o Sindicato dos Metalúrgicos local.
Temer, que tem 10% do apoio da população, substituiu em 2016 a presidente Dilma Rousseff, destituída pelo Congresso sob acusação de manipulação de contas públicas.
Aeroportos
O aeroporto de Congonhas, em São Paulo, registrou 13 voos cancelados e 23 atrasados de um total de 124 previstos, mas a empresa que o administra não soube informar se os transtornos têm relação direta com a greve.
No terminal internacional de Guarulhos, dos 190 pousos e 175 decolagens programados, foram registradas 24 decolagens atrasadas e sete cancelamentos até as 16H00 locais, segundo comunicado divulgado pelo terminal. Em Brasília, a greve afetou pela manhã 32 dos 182 voos previstos e oito tiveram que ser cancelados.
A capital estava sem ônibus e metrô e com cercas em torno do Congresso e do Palácio do Planalto, sede da Presidência, como parte de uma ampla operação policial para impedir invasões durante os protestos, acompanhados de perto pelo governo Temer.

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