Samba da Ouvidor leva para o ar-condicionado evento que sacode os sábados do Centro e vai unir chefs premiados a boa música
PEDRO LANDIM
Rio - Outro dia o músico Gabriel Cavalcante — o apelido ‘Da Muda’ revela as origens na geografia carioca — puxou cadeira no bar Adelos, na Rua do Mercado, e perguntou ao garçom: “O que está saindo de bom por aí?” O atendente, que não o conhecia, aconselhou: “Olha, o pessoal está pedindo muito o Gabriel da Muda.” Referia-se ao sanduíche de costela bovina e queijo no pão ciabatta, criado por Gabriel em outro bar da região.
Samba da Ouvidor leva para o ar-condicionado evento que sacode os sábados do Centro e vai unir chefspremiados a boa música
Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia
O caso situa perfeitamente o compositor, cavaquinista e cantor, que cultiva o prazer na união secular de bom samba e comida boa. Figura destacada em dois fenômenos da música na cidade, os sambas do Trabalhador e da Ouvidor, e consultor informal em cardápios de boteco, Gabriel chamou para uma ‘letra’ os donos e cozinheiros dos bares que frequenta e tirou da manga o Ouvidor na Cozinha.
A festa estreia neste domingo no imenso Espaço Franklin, na Avenida Passos, levando para o ar-condicionado a roda que sacode aos sábados o Centro Histórico do Rio, na Rua do Ouvidor. “Estou unindo as duas paixões da minha vida. Aliás, todos da roda estão de alguma forma ligados à comida. Vivemos nos botecos e, depois do samba, há geralmente outra festa que começa perto de algum balcão”, diz Gabriel.
No meio do extenso piso de ladrilhos hidráulicos, os 15 músicos receberão cerca de 800 pessoas para cantar, dançar e petiscar. Alguns dos melhores quitutes do Rio estarão no salão a cargo de bares convidados. Na estreia, o tijucano Da Gema fortalece a harmonia com sua porção de polentinha com rabada, além da famosa Coxinha da Luiza, o pastel de feijão gordo e o caldinho de jiló.
A propósito, a regra é clara: o jiló, esse amargo, muitas vezes amado e um tanto incompreendido ícone dos botequins, será item obrigatório em todas as edições. “Ih, tive uma ideia agora, acho que vou lançar uma linguiça com jiló no pão, azeite por cima...”, planejava Kátia Barbosa, do Aconchego Carioca, enquanto posava com a turma para a foto desta página. Toninho Laffargue, o dono do Bar do Momo, por sua vez, filosofava: “O pessoal vai sempre ao bar depois do samba, agora somos nós que vamos até a roda. É justo.” E Luiza Souza, proprietária e cozinheira de mão cheia do Da Gema, resumiu a proposta: “Tudo remete a alegria e espontaneidade, boteco e samba. Quem não gosta não é bom sujeito.”
Bar do Momo, Aconchego Carioca e Bar Botero serão, pela ordem, os próximos a desfilar seus acepipes entre pepitas musicais como ‘Festa Para um Rei Negro’ (Zuzuca do Salgueiro), ‘Os Cinco Bailes da História do Rio’ (Silas de Oliveira, Dona Ivone Lara e Bacalhau) e ‘Chorei’ (Paulo César Pinheiro, Mauro Duarte e Eduardo Gudin).
O Samba da Ouvidor passará a ser mensal na rua, enquanto sua versão ‘Na Cozinha’ pintará sempre no último domingo do mês, ocupando dois dos quatro andares do prédio construído em 1911, com 1.400 metros quadrados abertos ao público. No mais, é como dizia ‘O Quitandeiro’, do portelense Monarco: prepara a barriga, macacada, que a boia tá enfezada e o pagode fica bom. DA COXINHA AO JILÓ
Na estreia de domingo, o Bar da Gema levará petiscos como a polentinha com rabada (R$ 15 a porção), o pastel de feijão gordo (R$ 5 a unidade), a coxinha (foto 1, R$ 5 a unidade) e o caldinho de jiló (R$ 10). Dos próximos confirmados, o Bar do Momo levará seus bolinhos de arroz com linguiça e queijo parmesão, e o jiló recheado ao molho de tomate (3). O Botero, de Laranjeiras, vai preparar pastéis de costela, bruschettas (2) e lasanha de jiló com alho confitado. O Espaço Franklin fica na Avenida Passos 36, no Centro (2222-4444). O samba rola das 14h às 20h, o ingresso custa R$ 25 e, além da bilheteria no local, está sendo vendido nos bares participantes.
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